quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

A imagem do dia





Estas imagens que coloco aqui apareceram em 2018, vindas do arquivo do jornalista veterano Fritz-Dieter Rencken, um dos poucos que Bernie Ecclestone poderia confiar. E apareceu no fórum da Autosport britânica, com diálogos com outras pessoas como Andrew Benson, referindo que um dos que escreveu este regulamento tinha sido outro jornalista, Ian Phillips. Tudo gente de confiança de Bernie Ecclestone, com algum "imput" de Max Mosley, na altura advogado de Bernie, depois de ter fundado a March. 

Como sabem, a Formula 1 acabou a temporada de 1980 em clima de guerra surda. Depois do incidente da não-realização do GP de Espanha, por causa do finca-pé da FISA, liderada por Jean-Marie Balestre, em que os pilotos pagassem as multas que a FISA implicou por estes não terem comparecido às conferências de imprensa - ou seja, as equipas implementaram um boicote - não houve mais incidentes de maior para o resto da temporada.

Contudo, quando a bandeira de xadrez foi mostrada em Watkins Glen, no final da temporada, nos bastidores, a FOCA começava a desenhar aquilo que viria a ser um campeonato "rebelde", fora da tutela da FISA, onde as equipas iriam ter todos os direitos, especialmente os televisivos. Uma entidade iria ser feita, a World Professional Drivers Championship, que iria desenhar os regulamentos desses carros, que teriam as saias aerodinâmicas, o principal alvo de contenção entre ambas as entidades. A FISA queria bani-las, e assim, os carros teriam uma diferença de seis centímetros entre o chassis e o chão, e a FOCA queria mantê-las. 

Para além disso, a FOCA, liderada pelo patrão da Brabham, Bernie Ecclestone, não queria ter equipas com motores turbo no pelotão (ele tinha falado, numa entrevista no inicio de 1977 à revista brasileira Quatro Rodas, que era contra), algo do qual já a Renault - e a partir de 1981, a Ferrari - tinham. Todas as outras tinham motores V8 da Cosworth, de três litros, uma configuração que existia desde 1966. Caso avançasse essa cisão, Renault, Ferrari e Alfa Romeo, pelo menos, ficariam com Balestre e a FISA. Claro, seis carros seria muito pouco, mas por agora, a divisão era essa. 

Mas como seria o calendário dessa competição paralela? Pois bem, se fosse para a frente, seria o calendário mais longo até então na Formula 1: 18 corridas. Quatro delas... nos Estados Unidos. Nova Iorque, Las Vegas, Watkins Glen e Long Beach fariam parte. Depois, os regressos do México e da Suécia (e da Espanha, a corrida de 1980 não contou, oficialmente), e boa parte das corridas europeias, incluindo o GP do Mónaco. Iriam tirar boa parte do calendário à FISA, mas para muitas corridas, iriam arranjar outros circuitos para correr, pelo menos na parte europeia da competição. 

O regulamento ficou pronto no final de 1980, e começou a circular entre os jornalistas, mostrando que as coisas eram para ser levadas a sério. Ao ponto de terem anunciado que o GP da África do Sul, que iria acontecer a 7 de fevereiro, iria contar para o campeonato da FOCA, não da FISA, e as regras seriam, provisoriamente, as da Formula Libre.

E depois de Kyalami, iriam para Long Beach, Jacarépaguá, Nova Iorque, uma corrida em Itália (provavelmente, Imola), Mónaco, Jarama, Zolder, Anderstorp, uma corrida no Reino Unido - seria Silverstone? - Hockenheim, Zeltweg, Zandvoort, Montreal, Cidade do México e acabariam em Las Vegas. 

Como sabemos, do calendário usado, só não usaram Nova Iorque, Anderstorp e Cidade do México. E a ausência de Monza do calendário estava presente, digamos assim. 

A FISA pouco ou nada fez, pois Balestre julgava que as equipas estariam a fazer "bluff", e ainda por cima, tinham o seu maior trunfo: a Ferrari, que se tinha colocado, no mínimo, numa posição neutra. E mais tarde, seria o trunfo para colocar termo a esta guerra, e ameaça de dividir a Formula 1 em duas. Todos agora conhecemos o final, mas nesse inverno de 1980-81, a nuvem da divisão pairava sobre tudo e todos.   

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