O ano de 1968 estava a meio e já estava a ser muito traumático no Mundo e na Formula 1: por esta altura, Martin Luther King e Robert Kennedy já tinham sido assassinados, o Maio de 68 tinha acontecido em França e agitava a Europa e o Mundo, a Guerra do Vietname tinha vivido a sua fase crítica, com a Operação Tet (Ano Novo Vietnamita), e ainda faltavam os Jogos Olímpicos, na Cidade do México, e em Portugal, com a Guerra Colonial a decorrer, Salazar estava a poucas semanas de cair da cadeira…
Na Formula 1, também era um ano traumático. Em menos de três meses, Jim Clark, Mike Spence e Ludovico Scarfiotti tinham morrido em acidentes não relacionados com a Formula 1. Mas quinze dias antes, o francês Jo Schlesser perdia a vida a bordo do novo Honda RA302, e aí, os outros pilotos tinham assistido. E era ainda essa mágoa que ainda carpiam quando rumaram para Brands Hatch, palco nesse ano do GP de Inglaterra.
Na lista de inscritos aparecia um novo nome: o piloto local Robin Widdows, que corria num Cooper-BRM privado. Era a sua primeira aparição deste pilotos de 26 anos, filho de um herói da Batalha da Bretanha. Tirando isso, tudo estava na mesma: a Lotus tinha na sua equipa oficial os ingleses Graham Hill e Jackie Oliver, e o suíço Jo Siffert na equipa de Rob Walker. Na McLaren, o seu fundador - piloto, o neozelandês Bruce McLaren e o seu compatriota Dennis Hulme estavam inscritos, bem como a BRM, que tinha o mexicano Pedro Rodriguez e Richard Attwood, com um privado para Piers Courage.A Cooper só alinhava com um carro, para Vic Elford, enquanto que a Honda voltava a um só carro, com John Surtees. Dan Gurney voltava com o seu Eagle, e a Ferrari alinhava Jackie Ickx e Chris Amon, enquanto que a Matra colocava Jackie Stewart e Jean-Pierre Beltoise. Finalmente, a Brabham, com Jochen Rindt e Jack Brabham, comemoravam algo único: “Black Jack” era o primeiro piloto a alcançar a barreira dos 100 Grandes Prémios, algo que nessa altura, só Graham Hill poderia alcançar e superar.
Mas o GP de Inglaterra mostraria a força dos apêndices aerodinâmicos. A Lotus colocava esses apêndices directamente sobre os eixos do motor, tentando que dessa maneira pudesse aumentar a aderência do carro, graças a essa carga aerodinâmica extra. Oliver, Hill e o privado Siffert tinham grandes asas nos seus Lotus 49, atingindo mais de um metro de altura!
Os treinos foram dominados pela Lotus: Hill foi o "poleman", seguido pelo seu companheiro Jackie Oliver. Siffert, no terceiro Lotus, partia na quarta posição, batido pelo Ferrari de Chris Amon.O dia da corrida começou com chuva ligeira, pela terceira corrida consecutiva. No momento da partida, Oliver foi melhor do que Hill, e foi para a frente, com Siffert e Amon logo a seguir. Logo na quarta volta, o Lotus de Oliver começava a libertar fumo negro do motor, e foi ultrapassado por Hill na liderança. Mas surpreendentemente, Oliver continuava na corrida, sem que o problema de motor afectasse o seu desempenho...
Na volta 27, a suspensão de Hill cede e tem que desistir. Oliver volta à liderança, com Siffert e Amon lutando pelo segundo posto, e Jacky Ickx no quarto lugar, mas muito atrás deles. Os espectadores sabiam que mais cedo ou mais tarde, o segundo Lotus teria de ceder, e isso aconteceu na volta 44, com a correia de transmissão a ceder. Nessa altura, era a vez do suiço Jo Siffert passar pela liderança, em luta com Chris Amon. A batalha foi dura, mas o piloto conseguiu afastar-se gradualmente do Ferrari, ganhando distancia suficiente para poder levar o carro até ao fim.
Quando Siffert cortou a meta no primeiro lugar, tinha-se alcançado mais uma vitória histórica: Não só era a primeira vitória de um piloto vindo da pátria dos chocolates, dos relógios e da neutralidade, mas também era a primeira vitória de um piloto privado em seis anos. Seria também a última vitória da história da Formula 1 de Rob Walker, o homem que vinte anos antes tinha dado à Cooper e à Lotus as suas primeiras vitórias na Formula 1, através de Stirling Moss. Na altura, Walker estava contente com o feito, e disse: "Esta foi a vitória mais importante da minha vida". Pudera: poucas semanas antes, a sua sede tinha arido completamente num incêndio...
Santos, Francisco: "Grand Prix - A História da Formula 1", Ed. Público, Lisboa, 2003, Pgs.
http://www.grandprix.com/gpe/rr168.html
1 comentário:
Os livros e anuários do Francisco Santos são raridade por aqui... Quando encontro algum em sebos, agarro com todas as minhas forças!
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