segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Como mudar o lado da estrada pode revoltar o paraíso

Imaginem a seguinte situação: o vosso local é o Paraíso à face da Terra, com belas praias, agua de coco e lindas mulheres. Onde guiaram desde sempre nos vossos carros numa faixa à direita, porque era assim que os vossos pais e os vossos avós guiavam. Um dia, o vosso governante decide de repente mudar ao contrário, para guiarmos como acontece na Grã-Bretanha ou Australia, porque o vosso primeiro-ministro ou presidente achou por bem mudar, ou porque, entre outras coisas, é mais barato importar carro com o volante à direita, ou então porque os outros países à volta guiam dessa maneira.

Pois bem, isso está a acontecer esta semana num local paradisiaco do Oceano Pacifico chamado Samoa. Independente desde 1962, e uma das duas monarquias da região (o outro país com esses sistema é Tonga) era chamado até há dez anos como "Samoa Ocidental", sempre guiaram como nós devido à proximidade com a Samoa Americana. Contudo, essa Samoa tem muitos laços com a Austrália e Nova Zelandia, a última das quais a sua antiga potencia colonizadora desde 1918 (antes era uma possessão alemã). Nesses dois países existem uma imensa comunidade samoana, e importar carros com o volante para a direita é comum, mas para o senhor Tuilaepa Sailele Malielegaoi, faz-lhe muita confusão.


A lei foi aprovada em 2007, e foi criado um periodo de transição até agora, onde para que as pessoas se adaptassem melhor, foi até declarado feriado nacional, e montado um circuito de testes perto do seu estádio nacional. As pessoas, que normalmente estão mais ocupadas nas suas vidas, reagiram muito mal a isto e sairam à rua, levando quase 20 mil pessoas. Foram mas maiores de sempre num país de 450 mil habitantes, e conhecidas pela sua sua equipa de rugby. Foi até criado um partido politico, o Partido do Povo, com o objectivo unico de derrubar este governo nas próximas eleições e reverter a lei, que segundo eles, é violadora da Constituição.


Um dos seus argumentos são os autocarros (onibus), que tem mais de 40 anos em alguns casos, e tem as suas saidas do lado direito da estrada. Alegam que quando a mudança acontecer, largarão as pessoas no meio da estrada, logo, os atropelamentos irão aumentar expoencialmente. "Mais de 80 por cento dos nossos veiculos tem o volante à esquerda. consequentemente, irão guiar no lado errado da estrada a partir de agora, e prevejo o pior.", afirmou Sose Annandale, dona de um hotal, ao diário inglês Daily Telegraph.


Outra das áreas onde existem mais queixas é o turismo, uma das principais industrias do país. Alguns operadores tiveram de fechar os seus hoteis durante alguns dias para que pudessem adaptar à mudança, pois para eles, as estradas tornaram-se num local demasiado perigoso. Paul Caffarelli, manager do Siufaga Resort, é um dos que pensa fechar o hotel por estes dias: "As estradas irão estar perigosas por estes dias," afirmou. "Quem vai ser responsável caso haja algum acidente envolvendo os meus convidados do terminal portuário, por exemplo?", interrogou. "Considero sériamente fechar o meu "resort", e perfiro ficar sem receitas do que arcar o risco. Estamos a falar de vidas humanas", concluiu.

Em suma, eis um exemplo como o automóvel e a maneira como nós guiamos todos os dias, quer seja do trabalho para casa, ou outras actividades, tornou-se em algo tão indispensável como respirar, falar, comer ou dormir. Provavelmente o automóvel é uma das grandes invenções do século XX, pois deu-nos o direito de viajarmos quando quisermos, com quem quisermos, sem estarmos amarrados a condicionalismos horários, pelo menos directamente. Mas uma simples troca da faixa de rodagem, e até capaz de provocar uma revolta no paraíso.

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