Comemora-se agora o 40º aniversário de uma das marcas mais memoráveis da história da Formula 1 nos anos 70 e 80, a MARCH. Durante a sua existência, tornou-se num dois construtores de chassis mais importantes, e foi fundada no sentido de providenciar, a baixo custo, um chassis competitivo, não só na categoria máxima do automobilismo, mas também nas categorias de formação, como a Formula Ford, Formula 3 e Formula 2, onde teve um imenso sucesso nos anos 70 e 80, bem como depois na CART americana. Mas hoje falo do primeiro chassis que foi usado na Formula 1, e que foi guiado pelo campeão em título, Jackie Stewart, numa solução provisória para ele e Ken Tyrrell, enquanto fabricavam o seu próprio chassis.
A March foi fundada no final de 1969 por quatro homens: Alan Rees, Graham Croaker, Robin Herd e Max Mosley. A marca é o resultado das suas iniciais, e cada um tinha uma função: Mosley tinha a parte comercial, Rees era o director desportivo, Croaker era o director da fábrica de Bicester, o local onde eram fabricados os chassis, e Robin Herd, que tinha saído da BRM em meados de 1969, era o projectista. A ideia era aparentemente dificil de conciliar: construir chassis simples e fáceis de pilotar, mas competitivos o suficiente para que eles pudessem vender com lucro.
Inicialmente, a ideia era fazer uma equipa de fábrica só para Jochen Rindt, mas quando este visitou as instalações, ele ficou desanimado pelo que viu, e perferiu ficar na Lotus, onde apesar da sua relação com Chapman era tensa, pelo menos tinha ali um chassis competitivo. Assim sendo, a equipa de fábrica ficou a cargo do neozelandês Chris Amon, que vinha da Ferrari, e o suiço Jo Siffert, que finalmente corria numa equipa de fábrica, depois de anos a correr ao serviço da Rob Walker Racing Team. Só que este era um lugar "comprado" pela Porsche, pois assim ficaria afastado da Ferrari, que tinha uma equipa na Endurance e reconhecia o talento do piloto suiço.
Ao mesmo tempo, a Tyrrell procurava um chassis para correr em 1970, depois de terminar o seu contrato com a Matra, pois recusava correr com motores V12 da marca, que eram menos potentes e menos fiáveis do que o Cosworth V8. Ele e o seu piloto, Jackie Stewart, decidiram pagar as 8500 libras que a marca pedia para comprar cada chassis. Para além do escocês, a equipa tinha o francês Johnny Servoz-Gavin a seu lado. Também venderam chassis a Mario Andretti, que tinha montado uma estrutura, com a ajuda de Andy Grnatelli, que permitia correr na Europa no meio dos compromissos americanos. E a meio da temporada, também venderam um chassis a um promissor piloto de Formula 2 vinda da fria Suécia. Chamava-se Ronnie Peterson.
Quanto ao chassis em si, era uma estrutura em aluminio, com a particularidade de ter os seus tanques de combustivel ao lado do chassis, fazendo uma espécie de "efeito solo" nos lados do carro. Uma solução que foi implementada por Peter Wright, da Specialized Mouldings Ltd. Facto interessante: Herd tinha feito um projecto semelhante no ano anterior, para a BRM, mas não foi adiante. Tinha com travões em disco ventilados às quatro rodas, e as asas traseiras e dianteiras estavam de acordo com os regulamentos, mas tinham sido inspiradas no Matra MS80 do ano anterior, que tinha vencido o campeonato.
O chassis foi desenhado num tempo recorde para a época, e estreou-se na Silverstone International Trophy, onde Amon venceu com autoridade. A sua primeira participação oficial foi no GP da Africa do Sul de 1970, onde alinhava com cinco carros: dois oficiais, para Amon e Siffert, e três privados, para Stewart, Servoz-Gavin e Andretti. A Maxrch esteve muito bem nos treinos, quando monopolizaram a primeira linha da grelha de partida, com Stewart e Amon, mas no final, o melhor que conseguiram foi um terceiro lugar, com o piloto escocês.
Na corrida seguinte, em Espanha, Stewart conseguiu ser um dos poucos sobreviventes da corrida, ao dar à marca a sua primeira vitória, acompanhado no pódio por Mario Andretti, na terceira posição, e de Johnny Servoz-Gavin, o quinto. Foi a primeira vez que três carros da marca chegavam ao fim nos pontos. Mas ao longo da temporada, o chassis sofria com a falta de desenvolvimento, e cedo as equipas responderam à March, especialmente quando a Lotus apresentou o seu modelo 72, que deu a Rindt quatro vitórias consecutivas, antes do seu acidente fatal em Monza, no inicio de Setembro.
Na Tyrrell, conscientes de que este chassis tinha as suas limitações, acordaram com o projectista Derek Gardner de que era tempo de projectar o seu próprio carro. O resultado foi revelado em Setembro desse ano, no GP do Canadá, com o Tyrrell 001, inspirado... no March 701. Este novo chassis revelou as suas potencialidades, quando o escocês fez a pole-position em Mont-Tremblant.
No final da época, o chassis 701 tinha dado nas vistas, mas Herd já pensava mais adiante. Projectou o modelo 711, que se estreou na primeira corrida de 1971, na Africa do Sul, e ficou famoso pela sua asa em forma de tábua de passar a ferro, que apesar de ter tido sucesso, não alcançou vitórias. Anos depois, Herd disse que não tinha ficado muito contente com o resultado do desenho do 701, e que se tivesse tido mais tempo, teria desenhado um modelo que mais se aproximava do 711. Mas alguns pilotos privado correram pontualmente com o modelo 701, tendo inclusivé sido o chassis de estreia de Jean-Pierre Jarier, do mesmo modo que tinha sido no ano anterior o chassis de estreia de Ronnie Peterson e de Francois Cevért, que substituira Servoz-Gavin, que se retirara inesperadamente após o GP do Mónaco.
Chassis: March 701
Projectista: Robin Herd
Motor: Ford Cosworth V8
Pilotos: Jackie Stewart, Chris Amon, Jo Siffert, Johnny Servoz-Gavin, Francois Cevert, Hubert Hahne, Ronnie Peterson, Mario Andretti, John Love, Henri Pescarolo, Jean-Pierre Jarier, Francois Mazet
Vitórias: 1 (Stewart 1)
Pole-positions: 3 (Stewart 3)
Voltas Mais Rápidas: 1 (Amon 1)
Pontos: 55 (Stewart 25, Amon 23, Andretti 4, Servoz-Gavin 2, Cevert 1)
Fontes:
3 comentários:
não sabia que o chassis tinha sido desenhado pensando em sackie stewart
foi uma aventura e tanto, e as equipes nesse tempo vinham a ver o que um time novo poderia aportar.
no inicio, achei que o post ia falar do 711, nunca entendí a aerodinámica desse treco de pasar ferro. a ideia era leva o ar para os lados? elevar o aerofolio para captar a corrente que iria ao cockpit? uma coisa muito doida
Brilhante artigo, Paulo. Eu bem me recordo da estranheza do "design" desses carros quando surgiram, em particular do 711. Bons tempos em que nós, garotos de uma cidadezinha qualquer no interior do Brasil (Ourinhos,SP) esperávamos meses pela chegada das revistas.
Olha!!! Nem tinha visto a foto aqui ;)
Excelente a matéria caro Speeder.
Como sempre faz, não é?
Um grande abraço
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