quinta-feira, 12 de abril de 2012

5ª Coluna: As certezas a doze dias do Bahrein

Quem vê esta fotografia, que encontrei ontem no site Grande Prêmio, parece que está tudo em paz e sossego, vivendo no melhor dos mundos. Mas na realidade, há manifestações e os habitantes são hostis com a presença da Formula 1, pois acham que está ao serviço de um governo repressor, do qual pretendem derrubar para encetar reformas democráticas. E pior do que isso, a cada dia que passa, mais parece que a organização da Formula 1 deseja estar no lado hostil da situação, julgando que está a fazer um favor. Na realidade, poderá estar a destruir a sua credibilidade.

Nas últimas horas - e dias - assistiu-se a uma espécie de "blame game" onde cada uma das partes diz que não tem qualquer poder para adiar ou cancelar o Grande Prémio. Como disse ontem, Bernie Ecclestone afirma que não pode obrigar as equipas a irem a lugar onde não querem ir, mas imediatamente a seguir, diz que caso o façam, será visto como uma quebra do contrato. Poucas horas depois, a FOTA, a associação das construtoras da Formula 1, diz que não cabe a elas cancelarem o Grande Prémio, pois é uma prova organizada pela FIA.

Mas sei que isso já tinha sido referido no inicio de março, quando um grupo de deputados britânicos tinham pedido à entidade liderada por Jean Todt para que não fossem ao Bahrein. E eles responderam que quem organiza o calendário é... Bernie Ecclestone. Em que ficamos? Na culpa que morre solteira. Ou que nenhuma das partes quer ser a que dá o "passo decisivo", pois assim não terá de devolver os mais de 40 milhões de dólares que a familia real do Bahrein pagou para ter a Formula 1 por lá.

Mas ontem à noite, o jornal "The Guardian" afirmava que Jean Todt, o presidente da FIA, e Bernie Ecclestone tinham chegado a um acordo para convencer as equipas para irem ao Bahrein e que iriam convencê-los esta sexta-feira, em Xangai, de que tudo está seguro, apesar dos protestos populares. Há uma boa razão para que ambas as partes tenham esta convergência de opiniões, e isso se chama de "influência". O Bahrein tornou-se, graças aos seus multios milhões, numa potência junto da FIA, e por causa disso, esta temporada teceberá quase tudo que tenha rodas e um volante, à excepção do WRC. Haverá duas rondas da GP2, o Mundial de Resistência estará por lá em setembro, e uma das finais do Mundial de karting será nesse emirado. E tudo graçasa aos gostos automobilisticos do filho do emir...

Com as equipas a terem de decidir até este final de semana, as pessões, como podem entender, são grandes. E os receios crescem na mesma proporção. Um bom exemplo desse receio é o que o Luis Fernando Ramos, o Ico, escreveu esta quarta-feira na sua coluna no site Total Race. O título que ele usa diz tudo: "Insensatez", e este parágrafo é revelador da mentalidade dominante na categoria: 

"O pior é que precisamos lamentar mais a inabilidade da Fórmula 1 de sair dessa situação do que a instabilidade no Bahrein. Ao menos, manifestações populares contra regimes totalitários sinalizam mudanças. Mas o regime totalitário da F-1 coloca seus interesses financeiros acima de tudo. Até mesmo acima da imagem da categoria, que merecerá todos os adjetivos de estúpida, arrogante e mercenária se fizer seu show para as arquibancadas sempre vazias do circuito do Sakhir enquanto, a poucos quilômetros dali, a polícia sentar o pau no povo do país." 

"E todo esse desgaste absolutamente desnecessário em meio a um campeonato que começou muito bacana na esfera esportiva. Chegou a hora da F-1 viver sua revolução política."

Sei que os barenitas não raptam pessoas, mas acho que se planeassem uma "Operação Ecclestone" para perturbar o Grande Prémio, não ficaria admirado. 

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