sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Explicando as razões de "Rush" não ir aos Oscares

Vinte e quatro horas depois dos nomeados para os prémios da Academia de Hollywood, vulgo Óscares, confesso que a ignorância que os membros da Academia tiveram acerca de "Rush", o filme de Ron Howard que retrata a temporada de 1976 da Formula 1, que têm Chris Hemsworth como James Hunt e Daniel Bruhl como Niki Lauda me surpreendeu um pouco. Não que achasse que fosse o melhor filme do ano - eu reconheço que há meia dúzia muito bons, desde "Capitão Phillips" a "O Lobo de Wall Street", passando por "12 Anos Escravo" ou "A Golpada Americana" - mas achei que a interpretação de Daniel Bruhl merecia pelo menos a nomeação.

Ron Howard e Peter Morgan são uma boa dupla e o filme é bem competente, apesar de não ser "cem por cento verdadeiro" (os puristas vão dizer que é um lixo, mas são uma minoria), mas eu vi e normalmente sou critico dos filmes que são baseados em histórias reais. Olhem "Argo", por exemplo: há muitos aspectos que foram inventados "para Hollywood ver" e ganhou o prémio para Melhor Filme. Portanto, dizer que foi por isso que não entrou na "shortlist" é uma falácia e um perfeito desconhecimento sobre como as coisas são feitas por lá.

Para mim não foi isso que ele foi esquecido nestes Oscares. A razão é a qualidade dos filmes deste ano, todos acima da média. E ainda por cima, a tendência atual são os filmes "baseados em fatos reais". Todos os filmes que referi anteriormente - ou outros como "Dallas Buyers Club" - são exatamente isso. Portanto, "Rush" é um pouco vitima dessa tendência. Num outro ano, provavelmente teria levado umas quatro ou cinco nomeações, e a melhor prova disso não é os Globos de Ouro: é os prémios BAFTA, que premeiam a cinematografia britânica. "Rush" têm quatro nomeações - som, edição, filme britânico e ator secundário. E já agora, em 2011, "Senna", o documentário sobre a vida e carreira do tricampeão brasileiro, levou três nomeações e ganhou dois prémios BAFTA. E o filme também foi esquecido nos Óscares, onde pelo menos deveria ter ido na categoria de Melhor Documentário.

Mas já agora, é um pouco redutor pensar que os americanos não gostam simplesmente de automobilismo. O filme foi um sucesso comercial, deu lucro mesmo na América, deixando cair por terra a ideia de que "de Formula 1 os americanos não entendem". Mas o que quero dizer é que na Academia de Hollywood, o pessoal não é fã de desporto, seja ele qual for. A não ser que seja como base para outra coisa, como "Munique" de Steven Spielberg. E para citar um exemplo recente para sustentar essa ideia, posso dizer que a animação "Turbo", que fala sobre um caracol que quer ganhar as 500 Milhas de Indianápolis, também não chegou aos nomeados para os prémios da Academia na categoria de Filme de Animação.

Portanto, em jeito de conclusão, para ver um filme de automobilismo (ou desporto), baseado em factos reais ou ser completamente fictício, a chegar à "shortlist" da Academia só se for algo muito bom, num ano em que a concorrência seja muito fraca. E tem de ser feito por algum realizador brilhante como... Martin Scorcese, por exemplo. Ou outro mais "queridinho" da Academia.

2 comentários:

Ron Groo disse...

Creio que seja apenas porque o filme não desperta interesse mesmo.
É bem feito, romanceia uma rivalidade com tintas humanas... Mas é complicado pela temática.
Quem nos EUA se importa com Lauda ou Hunt?

Mr. K disse...

O filme é bom, mas como disseste no post, teve azar porque a colheita de 2013 é capaz de ser das melhores em muito tempo.
Quanto ao Daniel Brul quando vi o filme pensei na nomeação, mas entretanto fui vendo os outros filmes, sim a interpretação é boa, não está ao nivel da do Fassbender ou ( e eu não acredito que vou dizer isto) do Jonah Hill.