Essa coisa da Dia Internacional da Mulher deveria ser como o Natal: é para comemorarmos como quisermos. Mas de uma certa maneira entendo. Quando no meu país, há menos de 50 anos, uma mulher não poderia tirar o passaporte poe ela mesma, e para viajar ao estrangeiro, tinha de pedir autorização aos seus familiares, fossem pais ou maridos, entendo porque a sociedade patriarcal que mandou até muito recentemente praticamente tratava o sexo feminino como um ser de segunda classe. Votar, guiar um carro, viver a sua própria vida, ter o seu próprio emprego... para essa sociedade, elas eram um perigo.
Mas as coisas já mudaram muito. Vivemos revoluções nos costumes, mas ainda hoje, é uma revolução nas mentalidades que se precisa. Porque a igualdade de oportunidades faz parte de uma coisa mais vasta como um contato social. E no desporto, um lugar onde ainda existe muita discriminação, muito machismo, onde até há poucos anos as mulheres eram "pedaços de carne", apenas toleradas como "enfeites". Lembram-se da tempestade que foi quando a Formula 1 aboliu as "grid girls"?
Neste dia, quero falar de uma mulher que poucos conhecem, mas marcou uma geração. Chamava-se Denise McCluggage. Americana de nascimento, nasceu em 1927 em Kansas City, estudou jornalismo na Califórnia e quando estava a cobrir uma corrida de iates, conheceu Briggs Cunningham, um dos pioneiros americanos a correr nas 24 Horas de Le Mans. Conversando sobre automobilismo, ela começou a interessar-se pela modalidade, e com o dinheiro que tinha juntado no seu trabalho, comprou um MG TC Midget, e mais tarde, um Jaguar XK140, participando em provas da SCCA, Sports Car Club of America. O seu capacete, branco com pintas rosa, tornou-se num objeto de admiração por ser uma mulher entre uma mará de homens, a correr lado a lado com eles, em lugares como Sebring e Nassau, e junto com gente como Stirling Moss, Juan Manuel Fangio, Phil Hill, Pedro e Ricardo Rodriguez, Richie Ginther, Dan Gurney, entre outros, ganhou o respeito de todos eles.
No seu local de trabalho, o New York Herald Tribune, escrevia sobre corridas e desejava a igualdade de oportunidades para elas no automobilismo. E um dos seus dias de glória aconteceu nas 12 Horas de Sebring de 1961, quando, a bordo de um Ferrari 250 GT privado, e fazendo parelha com Allen Eager, foi décima classificada, mas triunfou na classe GT de 3 litros. Três anos depois, participou no Rali de Monte Carlo, no enorme Ford Falcon, e obteve mais uma vitória à classe, numa altura em que o vencedor a geral foi o "minusculo" Mini Cooper...
Depois de pendurar o capacete, com cerca de 40 anos, ela ajudou a fundar a Autoweek, uma das publicações mais conhecidas do automobilismo americano. Ajudou a desenvolver uma estância de ski no norte do estado de Nova Iorque, a Hunter Mountain, escreveu livros e tornou-se na única mulher jornalista a acabar no Automotive Hall of Fame, em 2001, e no Sebring Hall of Fame, em 2012, três anos antes de correr, aos 88 anos. E parecendo que não, aquele capacete branco com pintas rosa é inesquecível para uma geração, e uma inspiração para muita gente.
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