quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

A Rússia invadiu a Ucrânia. E agora, Formula 1?


Como toda a gente sabe, a Rússia entrou esta madrugada em guerra com a Ucrânia. Não falarei dos detalhes maiores, porque como todos sabemos no jornalismo, "em tempo de guerra, a primeira vítima é a verdade". Haverão relatos desencontrados, acusações de parte a parte dos piores crimes, e só quando se calarem as armas é que saberemos verdadeiramente os estragos, as vitimas mortais e materiais e as consequências para o mundo.

Mas então, vamos para o que interessa neste lugar. Falei do assunto ontem por causa da participação russa na Haas F1 e de Nikita Mazepin, se quiserem ler, deixo aqui o link. Mas hoje, com os aviões e helicópteros sobre Kiev, Kharkiv, Odessa, Mariupol e outras cidades, em Barcelona, no meio dos testes, os pilotos começam a discutir isso mesmo, porque já sabem que a neutralidade não é suficiente.

Um exemplo do que falo foram os tweets do jornalista Chris Medland. Esta manhã, recolheu a opinião de Sebastian Vettel, sempre muito atento e agora muito politico, afirmando que a Formula 1 não deveria correr em Sochi este ano e que, por ele mesmo, não irá participar no GP russo. E logo a seguir, Max Verstappen, o campeão, deixou o seu recado: "Quando um país está em guerra, não deveríamos correr por lá."

Resultado? As equipas reunir-se-ão no final da tarde, após o dia de testes para discutir a situação. 

E tem de ser, por diversos motivos, dos quais destaco três. 

A primeira é que Sochi situa-se mo Mar Negro, e apesar de ser uma estância balnear, não fica muito longe da zona de conflito, no Mar de Azov, a pouco mais de duas horas de avião. E também faz fronteira com a Abkhazia, uma república rebelde da Georgia, do qual em 2008, as tropas russas invadiram parte dela para retalharem o país quer dessa região, quer da Ossétia, uma situação do qual o governo de Tiblissi teve pouco para se poder defender. A Formula 1 poderá dizer que correr nesses lados poderá não ser muito adequado e ter de arranjar uma maneira de quebrar os acordos sem ter de pagar muito dinheiro.

A segunda é saber quanto tempo é que isto durará. Semanas? A Ucrânia é grande, o segundo maior país da Europa. Em termos de superfície, é a Alemanha e a França juntas, embora com uma população de 40 milhões de pessoas. O governo mobilizou um exército de 250 mil homens para defender, e já declarou a lei marcial, onde entre recolheres obrigatórios e outros, implica que qualquer cidadão possa andar com armas. Mesmo que os russos se imponham, nunca terão paz. Poderá ser algo semelhante ao Afeganistão, com guerrilha a atacar cirurgicamente tudo que seja russo ou algum exército colaboracionista que apareça, por exemplo. O risco de uma guerra civil prolongada, ou desta incursão se transformar num inferno para os soldados russos, como aconteceu uma geração antes aos que foram para o Afeganistão virar "carne para canhão", é bem forte.

A terceira razão para agir é que há ações noutras modalidades. No futebol, por exemplo, a UEFA está a ser pressionada para deixe cair o palco da final da Liga dos Campeões, que está marcada para São Petersburgo. Há pressões nesse sentido, nomeadamente do governo britânico, que provavelmente poderá ver uma ou duas equipas suas nessa final. A possibilidade de pedir a eles para que não a joguem em território hostil poderá ser forte e há movimentações nesse sentido. E não ficaria admirado se na semana que vêm, eles decidam que a final seja jogada num outro palco, evitando este embaraço.

E o que impede de, mais tarde, os organismos desportivos não expulsem a Rússia? Bem sei que são organizações "neutras" - algumas delas tem sede na Suíça - mas sabem da pressão da população nestes dias e o impacto nas redes sociais se nada fizerem. 

Mas o que é certo é que as equipas de Formula 1 irão falar sobre o assunto logo à noite. E tudo está em cima da mesa. E a primeira consequência - do qual não tinha falado - está aí: o patrocinador russo da Haas já não aparece nos chassis... e não garanto que Nikita Mazepin corra por muito mais tempo.   

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