terça-feira, 19 de junho de 2007

Crónica: A memória histórica do automobilismo

O jornal italiano "Gazzetta dello Sport" tem uma secção de primeiras páginas históricas, que marcam os maiores momentos desportivos que a Itália viveu desde o ano da sua fundação, em 1896. Tem lá o seu primeiro numero, e depois há as primeiras páginas que falam de todos os grandes feitos. E o automobilismo não é excepção. Num país de Ferrari, Lancia, Maserati e Alfa Romeo, colocá-los num canto da página é crime!




Começo por um bem mais antigo: 1936, o grande Tazio Nuvolari foi aos "States" e ganha a Copa Vanderbilt. Numa altura em que "Il Duce" Benito Mussolini mandava, qualquer feito era tomado em conta, pois assim exaltava-se os valores do "maschio italiano", e o nacionalismo fascista. O curioso é que parte desse sucesso se deveu a ter conduzido máquinas alemãs, os maiores rivais da Alfa Romeo, dirigida por... Enzo Ferrari!


Passada a II Guerra Mundial, e o aparecimento da Ferrari como marca de automóveis, nasceu uma nova paixão nos "tiffosi". E ao longo desse tempo, os grandes feitos da marca de Maranello tinham lugar habitual na primeira página, como aqui, em 1957, quando Juan Manuel Fangio alcançou o seu quinto título mundial, numa corrida mítica no circuito de Nurburgring.

Mas por vezes naqueles tempos, à glória era irmã da tragédia. E que melhor exemplo do que o GP de Itália de 1961, quando Phil Hill torna-se no primeiro americano a ganhar o título mundial, na mesma corrida em que o seu companheiro, o conde Wolfgang Von Trips, morre no acidente que envolve o escocês Jim Clark, e causa também a morte de 11 espectadores.






E quando os ídolos morrem, os media não ficam indiferentes ao seu legado. Para muitos "tiffosi", Gilles Villeneuve vai ser o maior piloto de sempre que a Ferrari jamais teve, apesar dos cinco títulos que Michael Schumacher deu à casa de Maranello, no inicio deste século. E quando 12 anos depois, foi a vez de Ayrton Senna, como culminar num fim de semana de pesadelo, em Imola, a coisa não passou imune aos italianos, mesmo sabendo que o piloto brasileiro nunca tinha posto o pé num Ferrari...


E é assim, de glórias e tragédias, que foi feita a história do automobilismo. Esta iniciativa do jornal para mim é inédita: oferece aos leitore a hipótese de ter essa primeira página na parede de sua casa, a um preço módico. Até há para os Ferraristas um "pachetto tiffoso", onde se faz um desconto se levar todas as capas dos títulos mundiais ganhos pela Ferrari.



Quem me dera que outros jornais fizessem isso. Para além de ser uma excelente fonte de receitas, davam aos fãs a hipótese de terem pendurada na parede uma foto do seu ídolo, ou do seu clube, ou da sua "squadra", como vejo todos os dias numa "pizzeria" perto da minha casa, pertencente a um genovês, onde tem lá a capa da "Gazzetta" no dia em que ganharam o tetra: "Tutto Vero! Campioni del Mondo", como a mostrar incredulidade a aquilo que tinham acabado de conquistar..