Já fez há algum tempo 25 anos de existência, mas quando o blogueiro monocromático, do Histórias da Formula 1 escreveu, a propósito do final de carreira de Mario Andretti na Formula 1, achei por bem aprofundar essa história e escrever uma versão mais completa dessa corrida que deu à Ferrari uma espécie de prémio de consolo à época terrível que passou, mas deu à casa de Maranello o título mundial de construtores.
Em Setembro de 1982, a Ferrari vivia uma crise: da dupla inicial do inicio da época, Gilles Villeneuve e Didier Pironi, um estava a ter o seu eterno descanso, numa campa do seu Quebec natal, o outro enfrentava um longo processo de reabilitação numa cama de hospital francesa, e as suas hipóteses de título mudial estavam como os seus pés: desfeitos. A primeira solução de recurso, o francês Patrick Tambay, tinha ganho uma corrida, na Alemanha, mas enfrentava ele próprio os seus problemas de saúde: uma hérnia discal o impediu de correr no Grande Prémio anterior, no circuito francês de Dijon-Prenois.
Sendo assim, as hipóteses da Ferrari brilhar no GP de Itália, no "solo sagrado" de Monza, eram infimas. A ironia no meio disto tudo era que a equipa finalmente tinha um carro ganhador, mas sem pilotos capazes de o correr... Assim sendo, "Il Comendatore" Enzo Ferrari pediu a um velho conhecido para que voltasse à Formula 1 uma última vez para ajudar a Scuderia neste momento difícil. Seu nome? Mario Andretti.
Apesar de ter na altura 42 anos, estava muito longe da reforma. Contudo, no final do ano anterior, tinha-se retirado do automobilismo europeu depois de uma época decepcionante ao serviço da Alfa Romeo, marcando apenas três pontos. No inicio de 1982, estando ele a voltar a competir nas pistas americanas, foi chamado de urgência pela Williams para competir em Long Beach, substituindo o argentino Carlos Reutmann, que se tinha retirado de vez da Formula 1. Fez uma boa prova, mas desistiu, vítima de um embate contra o muro de protecção.
No final da época, Enzo Ferrari apelou para as suas raízes italianas (tinha nascido perto de Trieste, em 1940) e ele lá foi conduzir para a Scuderia nos dois últimos Grandes Prémios da temporada: Monza e Las Vegas. Mas, querendo provar que ainda estava para as curvas, e também provar que aquele Ferrari 126C2, desenhado por Harvey Poselwaithe, era excelente, adaptou-se bem ao carro... e fez a pole-position! Ao seu lado, tinha o Brabham-BMW de Nelson Piquet, enquanto que na segunda fila, o segundo Ferrari de Patrick Tambay era terceiro, com o outro Brabham-BMW de Riccardo Patrese na quarta posição.
Quanto aos dois candidatos ao título, Keke Rosberg e John Watson, o finlandês foi sétimo na grelha, atrás de René Arnoux, enquanto que Watson foi 12º qualificado. Quem ficava de fora desta corrida eram os March de Rupert Keegan e de Raúl Boesel, o ATS de Manfred Winkelhock e o Theodore-Ford do irlandês Tommy Byrne.
No dia da corrida, 12 de Setembro de 1982, mais de 120 mil pessoas aguardavam, com ansiedade, que os carros vermelhos mostrassem aquilo que tinham sido capazes de fazer nos treinos. Queriam uma vitória para alegrar os seus corações, muito debilitados pelos acidentes que tinham polvilhado aquele ano. Contudo, na partida, os Ferrari tinham sido dominados pelos Brabham: Piquet e Patrese passaram para a frente, e o velho Andretti atrasava-se. Mais atrás, uma colisão complicava as coisas no fundo do pelotão: o Tolerman de Derek Warwick, o Tyrrell de Brian Henton e o Williams de Derek Daly não completam a primeira volta, vítimas de colisão. Pouco tempo depois, Riccardo Patrese vê a embraiagem do seu Brabham ceder, e ficar pelo caminho.
Entratanto, Arnoux tomava a liderança a Nelson Piquet, e lá ficou até ao fim da corrida. Até foi um prémio de consolação para os "tiffosi", pois ele já tinha assinado para conduzir "la Rossa" em 1983. Entretanto, a luta pela segunda posição era grande: primeiro Piquet e Prost, mas quando ambos desistiram (o brasileiro, devido ao motor, na volta 7, o francês, pela bomba de injecção, na volta 27), os herdeiros foram os Ferari, com Tambay, melhor adaptado e mais saudável que umas semanas antes, à frente de Andretti.
Em relação à batalha pelo título, Watson tinha subido na classificação, e rolava num tranquilo quarto lugar, com o seu maior rival, o finlandês Keke Rosberg, a atrasar-se no pelotão e a acabar num pálido outavo lugar, a duas voltas de Arnoux. Esses três pontos que o inglês ganhava, impediam pelo menos do finlandês de comemorar o seu título mundial já em Monza, transferindo toda a emoção para a última prova do campeonato, na capital mundial do jogo, Las Vegas. A fechar os lugares pontuáveis ficaram o Tyrrell de Michele Alboreto e o Ligier-Matra de Eddie Cheever.
4 comentários:
Muito bom esse post,completou perfeitamente o do historias da formula 1
abraços lucas sena
Que sacada resgatar a última 'pole' de Andretti"
Seus textos são completos e muito bons.
Adoro essa sua "revista na internet" que leio todos os dias, mais de uma vez por dia.
Obrigado!
Caro speedster, o teu trabalho é bom, é muito bom! Continua!
Obrigado por nos trazeres estas e outras histórias, é tão bom recordar :)
Fica bem,
Miguel
Mais uma "perola" para os que não voveram (ou conheceram) esses tempos! Bravo! O meu aplauso, de pé! Foi Mário Andreti o meu primeiro idolo na F1.
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