quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A aventura chinesa de Carlos Sousa

Já falta um mês para o começo de mais uma edição do Rali Dakar, que este ano vai ser um pouco diferente - começo em Mar del Plata, na Argentina, e final em Lima, no Peru - e uma novidade que já se sabia desde há muitas semanas era que o português Carlos Sousa iria ser piloto oficial de uma construtora chinesa, a Great Wall. O interessante disto tudo é que os chineses querem fazer desde projeto um importante "cavalo de Tróia" para a entrada da sua marca no mercado europeu. Eles que são o maior construtor independente no "Império do Meio".

Na semana que passou, o Autosport foi a Baoding, sede da companhia, para a apresentação do projeto da Great Wall para o Dakar. E eles são ambiciosos: irão gastar 5 milhões de euros para levar os seus carros de avião para a Argentina, porque querem chegar a Lima, palco da meta de 2012, no "top ten". Eis a história contada na edição desta semana do Autosport, e amanhã colocarei mais alguns dados interessantes sobfre este novo gigante automobilistico, que é a China, já acordou e o seu "Grande Salto em Frente" que deu desde há cerca de vinte e cinco anos para cá.

"PARA SALTAR A MURALHA

Fomos com Carlos Sousa à China para conhecer a Great Wall Motors. O maior construtor independente da China investiu forte num projeto que aponta ao top 10 do akar. Carlos Sousa é o ponta de lança deste ambicioso projeto que pretende fazer a industria chinesa dar o grande salto para a notoriedade internacional.

Por Ricardo S. Araujo (em Baoding)

Investimento chinês, talento português. Depois de Mitsubishi, Nissan e Volkswagen, Carlos Sousa regressa à condição de piloto oficial, mas desta vez devido a um inesperado convite com origem do outro lado do Mundo, mais concretamente na China e no seu maior construtor independente, a Great Wall Motors. Aos 45 anos, o mais concentuado piloto nacional de todo-o-terreno é a grande esperança de uma equipa com dois Haval SUV - o outro carro será guiado pelo piloto chinês e mentor do projeto, Zhou Yong - e que é operado no terreno pela francesa SMG de Philippe Gache. uma aposta ambiciosa e um investimento forte - fala-se em cinco milhões de euros - que pretende promover o nome da Great Wall no estrangeiro e conseguir o melhor lugar de sempre de uma marca chinesa no Dakar, atualmente o 22º lugar (Zhou Yong foi 19º em 2005, mas ao volante de um Nissan)

A equipa foi mantida em relativo secretismo até aos mais recentes testes em Marrocos, onde Carlos Sousa rodou pela primeira vez montado e preparado pela SMG, além de ter conhecido o seu novo navegador, o francês Jean-Pierre Garcin (antigo co-piloto de Gache). A apresentação oficial decorreu na semana passada no Salão Automóvel Internacional de Guangzhou, no sul da China. Na prática, este será o terceiro Dakar para a Great Wall, depois de Zhou Yong - que, além de piloto, tem uma empresa de marketing e organização de eventos - ter convencido os responsáveis chineses da validade do Dakar como meio de projeção tanto na China como no meio internacional.

Em 2011, o Haval - ou Hover, consoante o mercado - já tinha sido preparado e assistido pela SMG mas a aposta foi fortemente reforçada em 2012, onde a Grat Wall terá dois protótipos com motor 3.0 Diesel, caixa Sadev de seis velocidades (ao contrário dos pilotos Prioritários que só poderão usar a caixa de cinco velocidades), suspensão Reiger e uma carroçaria inspirada no unico SUV da marca disponivel para exportação. Os meios da equipa revelam a aposta considerável da Great Wall: 35 elementos, três camiões (um T4 de corrida/assistência rápida e dois T5), cinco viaturas de apoio e dois carros para transporte dos responsáveis e jornalistas chineses.

Outro pormenor que demonstra o forte investimento é o facto de os carros de corrida não terem seguido para a Argentina de barco e sim de avião, algo que num passado recente, só a Volkswagen fazia, o que deu à SMG mais algumas semanas para melhorar algumas semanas para melhorar alguns pontos identificados nos testes de Marrocos (principalmente ao nível da refrigeração do motor). Além de Gache, que competiu com o seu buggy até 2010, outra das figuras mais conhecidas da equipa é o team manager Yves Loubet, antigo campeão europeu de ralis e atual organizador do Rali de Marrocos.

OPORTUNIDADE

Para Carlos Sousa, o convite da Great Wall teve tanto de inesperado como de oportuno. "De facto não estava nos meus planos regressar ao Dakar pois, como se sabe, é cada vez mais difícil ter patrocinadores nacionais. Tudo começou em meados de fevereiro, ligaram-me a perguntar se eu estava disponivel, eu disse que sim mas nada ficou definido. Quando meses mais tarde me confirmaram que tinha sido o escolhido, senti orgulho não só por ser o primeiro piloto estrangeiro contratado por um construtor chinês mas também porque existiam vários pilotos disponiveis no mercado", analisa o tetracampeão nacional, a caminho do seu 13º Dakar (segundo na América do Sul). Como curiosidade, refira-se que quatro dos cinco primeiros em 2010 ficam de fora na próxima edição (Sainz, Al-Attiyah, Miller e Chicherit).

Depois de três dias em Marrocos, Sousa ficou já com uma impressão sobre o potencial do protótipo Haval: "O carro tem potencial para terminar no Top 10 e gostei particularmente do motor, claramente acima do que estava habituado no Mitsubishi. O Dakar é uma prova extremamente difícil, é quase impossivel chegar ao final sem problemas mecânicos ou incidentes. Acredito que, se tivermos fiabilidade, poderemos facilmente obter o melhor resultado da marca na prova e justificar este investimento."

Após alguns dias na China, onde visitou a sede da Grat Wall em Baoding, Sousa revelou-se surpreendido "pela receção e pela dimensão da fábrica, algo que sinceramente não estava à espera. Nota-se que os responsáveis da marca só agora estão a descobrir os benefícios de uma associação ao desporto automóvel. Se as coisas correrem bem, acredito que estão cá para ficar". Já sobre a coirrelação de forças no próximo Dakar, Sousa reafirma que "em condições normais, o Peterhansel vai ganhar porque não tem pressão. Sem Sainz ou Al-Attiyah ele só precisa de andar a 70 por cento e pode poupar o carro para fazer a diferença nas etapas mais duras. Os outros pilotos da Mini não tem a mesma capacidade. Mas a prova é sempre imprevisivel. Vasmos ver o que De Villiers pode fazer com a Toyota da Overdrive. Quanto a nós, e como à exceção de Fronteira estamos sem competir desde abril, vamos tentar retomar o nosso ritmo nos primeiros dias sem perdermos demasiado tempo para os pilotos da frente. Depois, se tudo correr normalmente, acredito que poderemos facilmente rodar nos dez primeiros".

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O PESO DA EXPERIÊNCIA

Além de ser a principal aposta para um bom resultado final, Carlos Sousa é também um auxiliar precioso no que toca às afinações do Haval SUV e juma fonte últil de conselhos para o segundo piloto da equipa, Zhou Yong, que reencontra agora depois de ambos terem estado no Team Dessoude em 2005. Tendo completado 11 das 12 edições em que participou - obtendo em 2003 a sua melhor classificação de sempre de um português nos automóveis, o quarto lugar - Sousa gtem maior experiência do que o seu colega de equipa, que lhe pede conselhos sobre técnicas de pilotagem ou a melhor afinação.

Para Zhou Yong, mentor inicial do projeto, "o Carlos é sem dúvida um piloto de topo a nível mundial. Com a sua experiência, capacidade técnica e o seu ritmo, é o piloto certo para conseguir um resultado histórico para a equipa. Espero que possa ficar conosco para o futuro." Zhou, de 42 anos, tem um passado nas corridas de circuitos e no campeonato chinês de ralis, tendo feito a estreia no Dakar em 2005 (19º) e chegando também no final de 2006 (43º), 2010 (33º) e 2011 (22º), sendo que este ano rodou em 15º até duas etapas do fim.

"O Zhou nunca pilotou um carro tão potente e precisa de ter cabeça fria na parte inicial para evitar exageros", refere Sousa. "Todos os pilotos tem o seu limite e no Dakar é muito importante conhecê-lo e respeitá-lo. Eu aprendi isso quando estava na Volkswagen e apanhei o (Nasser) Al-Attiyah numa zona de dunas. Tentei acompanhar o seu ritmo até compreender que não era possivel, que não estava confortável. Mais vale ter calma e guardar sempre uma margem para evitar erros que comprometam o resultado."

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