terça-feira, 24 de setembro de 2013

James Hunt, o ativista anti-apartheid

Sabemos que James Hunt foi uma personagem fora do vulgar. Um excelente piloto, mas que sabia divertir-se (mais de cinco mil mulheres, alegadamente...) e claro, venceu o campeonato do mundo de 1976, batendo Niki Lauda. Retirado em 1979 e morto em 1993, vitima de um ataque cardíaco fulminante, a luta com Lauda chega agora ao cinema através de "Rush", o filme realizado por Ron Howard, com Chris Hemsworth como Hunt e Daniel Bruhl como Lauda.

Contudo, o filme revelou outros aspectos do britânico. O Jalopnik conta hoje que durante os anos 80, quando ele já era comentador televisivo na BBC, ao lado de Murray Walker, Hunt não deixava passar uma oportunidade de alfinetar a Formula 1 pelo facto desta correr numa Africa do Sul que ainda estava sob o regime do "apartheid". Sempre que podia, durante as corridas, tirava o sarro ao regime de minoria branca.

Um episódio é contado por Murray Walker: “Estavamos a cobrir o Grande Prémio da África do Sul, durante os dias do "apartheid", quando de repente, e sem esperarmos, Hunt lançou um ataque cerrado sobre o regime do "apartheid". Não tinha nada a ver com o Grande Prémio, mas prejudicava as relações entre a Grã-Bretanha e a África do Sul. A seguir, o nosso produtor estende-nos um pedaço de papel, onde está escrito: 'Falem apenas da corrida!'.’ “Imediatamente a seguir, James diz em direto: 'Graças a Deus, nós não estamos lá!"

Esta parte em particular era também delicado, pois a BBC não dizia aos espectadores que nas provas fora da Europa, os seus comentadores não iam aos circuitos fazer o relato em direto.

Mas o mais espantoso foi contado há algumas semanas no The Guardian. Na caixa de comentários de uma das noticias sobre o piloto britânico, alguém escreveu um relato que aconteceu algures nos anos 80, quando essa pessoa participava numa reunião de angariação de fundos para os grupos anti-apartheid em Londres.

"Durante os anos do "apartheid" na África do Sul, eu organizei e presidi a uma reunião (discreta) no centro de Londres para individuos com dinheiro e mais algumas fundações no sentido de apoiar grupos que queriam uma mudança para a maioria negra. A reunião tinha acabado de começar quando tocaram à campaínha. Atendi e verifiquei que era uma cara vagamente familiar, que se desculpava por ter chegado tarde e perguntava se podia deixar a sua bicicleta no "hall" de entrada. 

Só ao fim de algum tempo é que percebi quem ele era. Hunt era o que comentava as corridas ao lado de Murray Walker. Ele não queria que os seus comentários fossem transmitidos na África do Sul e o dinheiro que ganhava a comentar essas corridas era entregue a grupos que advogavam a mudança no país.", concluiu.

Não ficaria nada admirado se Hollywood voltasse a pegar no assunto "James Hunt" e fizesse um "biopic"...

2 comentários:

izumi disse...

Cada vez mais admiro esse cara.

Rafael Schelb disse...

Não conhecia esse lado do Hunt. Ele é, de fato, uma personalidade muito interessante, mesmo...