sexta-feira, 27 de setembro de 2013

5ª Coluna: Sobre as pessoas que assobiam Vettel

Nos últimos tempos, a cada corrida que passa e onde o vencedor é o alemão Sebastian Vettel, quando os pilotos vão para o pódio, o ritual é o mesmo: a multidão decide assobiar o piloto da Red Bull, expressando o seu desagrado.

Mas porque é que isso acontece? Cometeu alguma ilegalidade ou má manobra na pista? Não. É porque simplesmente os fãs estão fartos dele. Fartos de o ver sempre no mesmo lugar, o mais alto do pódio, a unica coisa que sabem fazer é assobiá-lo. E em Singapura, este domingo, parece que houve um exagero da parte deles, especialmente quando vêm que o seu companheiro de equipa, Mark Webber, viu o seu motor explodir precisamente na volta final, provavelmente para desagrado de muita gente que acharam que foi o carro errado...

Em suma: assobiam Sebastian Vettel por três razões: cansaço, frustração e inveja. Os fãs estão fartos de verem o mesmo piloto a vencer há três anos seguidos, e a caminho de um quarto título mundial seguido. E para o desacreditarem, agarram a tudo o que ouvem, como aconteceu no ano passado, na India, quando Fernando Alonso famosamente disse que "não lutava contra Vettel, mas sim contra Newey." Até hoje, as pessoas ainda dizem que o alemão só vai ser alguma coisa quando andar com um carro inferior. Tendem a esquecer que já o fez em 2007 e 2008, e venceu uma corrida, em Monza, num Toro Rosso com motor... Ferrari.

Essa atitude não é nova para mim. Assisti a isso na década passada, quando Michael Schumacher dominava a Formula 1 com o seu Ferrari. Apesar de muitos o aplaudirem, porque ele tinha levado a Scuderia ao topo e vencido durante metade daquela década, havia outros que não cansavam de dizer aos quatro cantos do mundo coisas como "a Formula 1 morreu", ou "não vale a pena ver, se é o mesmo que ganha", entre outras frases. Especialmente quando o seu companheiro de equipa, Rubens Barrichello, era considerado como o eterno segundo ou "1B" como muitos jocosamente afirmaram no Brasil.

E essa atitude é mais do que "mau perder". Vêm de dentro das pessoas, tem a ver com as suas frustrações pessoais. O adepto quer que o seu piloto ganhe, para pensar para si mesmo que a sua vida não é tão má assim. Muitos sofrem com maus empregos - ou sem emprego - com a falta de dinheiro no final do mês, ou com um casamento ou namoro infeliz. É um pouco como o futebol, quando a exigência dos adeptos, que querem ver a sua equipa fazer o "tiki taka" e derrubar todos os dias o seu adversário por dez a zero, para poder dizer no dia seguinte, no emprego, que o seu herói ganhou e atirar isso à cara dos outros, à hora do almoço. 

Em suma: o problema não está no piloto, está no adepto. E Sebastian Vettel sabe disso melhor do que ninguém, porque não está a fazer nada errado, e nem está a ter nenhuma atitude de nariz empinado, ao contrário de Fernando Alonso, conhecido por algumas das suas atitudes de mau génio, para além das polémicas em que esteve envolvido. Ou de Lewis Hamilton, que por vezes está mais interessado em aparecer numa GQ qualquer, algures no mundo ou a encher o braço de tatuagens, qual artista de "hip-hop". O alemão têm consciência de está a trabalhar bem e que este é o preço do seu sucesso. A atitude que ele toma é a certa, quando não liga aos assobios dos outros, porque ouve aqueles que importa ouvir. E todos, sem excepção, o elogiam.

Termino com uma citação do jornalista e dramartugo brasileiro Nelson Rodrigues, que descobri esta semana no Blog do Ico: "A vaia é o aplauso dos desanimados". Eu entendo que as pessoas queiram equilíbrio, mas deveriam vaiar as outras equipas, por conseguirem alcançar a Red Bull.

4 comentários:

siniux disse...

Excelente texto. Os meus parabéns. Concordo com tudo o que foi dito.

Apenas separava mais a ideia de "não ver F1 por ganhar sempre o mesmo" da de "assobiar o piloto que ganha". Nem toda a gente, por preferir corridas disputadas entre 3 ou 4 pilotos e não as ter, está pronta para vaiar o piloto que ganha.

Outra nota, na última frase "mas deveriam vaiar as outras equipas, por conseguirem alcançar a Red Bull." deveria ser "por NÃO conseguirem".

Unknown disse...

Olá Paulo.

Interessante artigo, obrigado.
Mas na minha opinião estás a ser demasiado redutista na tua análise.

Tudo bem que as pessoas são umas frustradas e descarregam no Vettel, eu entendo e aceito isso.

Mas o Vetel é um piloto... pouco entusiasmante, digamos assim. A parte mais entusiasmente do seu desempenho no fim-de-semana é o seu energético dedo no ar no final de cada prova. O gesto, por si só, é já provocador e irritante, convenhamos. E esse gesto é como uma bomba no fim do rastilho que é todo um conjunto de factores, algum já mencionados por ti.

Mas voltando ao seu desempenho. É um piloto que durante os seus 4 títulos (o deste ano é o mais garantido de sempre), poucas oportunidades teve de lutar taco a taco com os seus rivais e por isso é um piloto com pouco crédito junto dos adeptos da F1.
Das poucas vezes que lutou em pista com Hamilton, Alonso e até Button, perdeu. E das vezes que bateu Webber em pista foi para o desconsiderar como colega e desconsiderar ordens de equipa (exemplo do Multi21).
Quando digo bater em pista, não é arrancar em 1º e seguir certinho e rapidinho até à meta. Nisso é ele bom.

Não conheço nenhum fã do Vettel. Até é uma coisa que soa estranho. E os poucos fãs que existem são-no há...4 anos!! Nenhum adepto como eu ou como tu (eu sigo a F1 de muito perto desde que o Alan Jones ganhou o campeonato) se vai agora tornar fâ de um Vettel, certo?

My 2 cents.
Obrigado pelos artigos.

emídio copeto

Jaime Boueri disse...

Paulo,

Excelente texto!

Também escrevi um longo texto sobre as vaias do Vettel e os argumentos para isso lá no meu blog. O link é essa aí embaixo.

http://blogdoboueri.blogspot.com.br/2013/09/sobre-vettel-senna-e-hunt.html

Unknown disse...

Emídio Copeto,
Subscrevo totalmente o seu comentário. O Vettel não transmite a paixão e garra de um Alonso (por exemplo).
Insiste no inoportuno dedo e nem vale a pena descrever a sua atitude de colega de equipa...
Contudo, os simpatizantes de Fórmula 1 (pois os verdadeiros adeptos não têm esse perfil) deviam conter as suas manifestações de desagrado. Estes ditos simpatizantes revoltam-se deste modo, pois julgavam ter adquirido um espectáculo de emoções (ultrapassagens, disputas, acidentes, etc.) quando o enredo foi bem diferente do desejado... Há mais F1 por detrás dessa emoção. Muita mais!...

Paulo, continue com o seus assertivos e oportunos artigos. Um BEM HAJA!
Abraços.
DIMAS COSTA - Póvoa de Varzim