Chamavam-lhe o “Diabo Vermelho”,
devido à cor da sua barba e à sua personalidade nervosa. O automobilismo deve a
ele os recordes de velocidade, bem como o de ter sido o primeiro a passar os
100 quilómetros por hora… ao volante de um carro elétrico. Mas a sua carreira
de piloto não foi passada a bater recordes de velocidade, foi também a correr
em provas automobilísticas, dado que participou – e foi um dos vencedores – da
Taça Gordon Bennett, a primeira prova de automobilismo entre nações. Cem anos
depois da sua morte, hoje falo de Camille Jenatzy.
Nascido a 4 de novembro de 1868
na vila belga de Schaerbeek, Camile era filho de Constant Jenatzy, um
fabricante de pneus em borracha para bicicletas. Cedo interessou-se pela mecânica
e partiu para Paris no sentido de estudar Engenharia. Por essa altura, surgem
os primeiros automóveis, e Jenatzy ficou interessado na nova invenção. Mas ao
contrário da grande maioria, que se dividia entre o vapor e a gasolina, Jenatzy
pensou na tração elétrica, outra das invenções que tinha surgido recentemente,
já que a lâmpada tinha feito a sua aparição havia pouco mais de dez anos.
Começa a construir táxis
elétricos, para depois construir automóveis. Sempre ávido por publicidade, vai
construir veículos elétricos, como uma “terceira via” em termos de sistema de
propulsão. Nesta altura, desenvolve uma rivalidade com outro construtor, a
Jeantaud, e aproveita essa realidade para fazer várias demonstrações e
participar em várias provas automobilísticas, com os seus carros elétricos.
Ele dá nas vistas em novembro de 1898,
quando se envolve numa rampa em Chanteloupe. O seu carro elétrico consegue
bater toda a concorrência. Algumas semanas depois, soube que o Conde Gaston de
Chasseloup-Laubat tinha vencido uma prova de dois quilómetros ao volante de um
carro de energia elétrica, com uma média de 66,9 quilómetros por hora.
Imediatamente desafiou o Conde para nova corrida, no mesmo local, dali a um
mês. Ele aceitou, e a 17 de janeiro de 1899, bateu Chasseloup-Laubat por sete
segundos, a uma velocidade média de 70,4 km/hora. Mas o Conde melhorou logo a
seguir o tempo, subindo a fasquia para 74,3 quilómetros por hora.
Nos dois meses a seguir, o duelo
“Jenatzy versus Chasseloup-Laubat” prende as atenções dos jornais, pois
trata-se de dois tipos de propulsão: eletricidade contra gasolina. Dez dias
depois do primeiro duelo, a 27 de janeiro, Jenatzy foi o melhor, conseguindo
aumentar a velocidade para 85 quilómetros por hora, aproveitando o facto do
Conde nem sequer ter partido, porque… o motor do seu carro pegou fogo. Mas
Chasseloup-Laubat teve a sua vingança: a 4 de março, baixou o tempo para um
minuto, 27,4 segundos, a uma média de 97 quilómetros por hora.
Foi nessa altura que Jenatzy
decidiu construir uma nova máquina: a “Jamais Contente” (eterno descontente), um
carro feito aerodinamicamente em forma de torpedo, com duas baterias elétricas
de 25 quilowatts cada uma. O veículo era feito de uma liga que Jenatzy chamou
de “partinium”, composto por alumínio, tungsténio e magnésio. A 1 de abril, o
carro estava pronto para uma tentativa de recorde – desta vez sozinho – mas ele
partiu tão rápido… que os cronometristas não estavam prontos.
Desiludido, mas não desanimado, a
29 de abril volta ao mesmo local para a sua tentativa de recorde. Resultado
final: alcançou a velocidade média de 111,8 quilómetros por hora. Oficialmente,
era o homem mais rápido do mundo, e o primeiro a alcançar a primeira grande
barreira do automobilismo. O seu recorde vai durar por três anos, até que Leon Serpollet
o baterá.
Ainda em 1899, participa na Volta
à França Automobilistica, terminando no nono posto. partir de 1900, dedica-se
mais à competição pura e dura. Representa a Bélgica na Taça Gordon Bennett,
tornando-se vencedor da edição de 1903, a bordo de um Mercedes, e é segundo
classificado na edição de 1904. Em 1905 e 1906 entra na Vanderbildt Cup, ao
mesmo tempo que está a tomar conta do negócio familiar dos pneus de borracha,
herdado apos a morte do seu pai.
Contudo, continua a tentar
recordes: em 1909, a bordo de um Mercedes, passa a barreira dos 200 km/hora na
praia de Ostende. Os seus feitos a bordo de carros da marca alemã faz com que
diga certo dia uma frase profética: “Ainda acabarei por morrer a bordo de um
Mercedes”.
E foi o que aconteceu a 7 de
dezembro de 1913. Jenatzy vai à caça nos arredores de Habbay-La-Neuve com um
grupo de amigos, entre eles, Alfred Maddoux, um amigo seu e diretor do jornal
“L’Étoile Belge”. Jenatzy decidiu esconder-se por trás de arbustos, gozando com
os seus amigos, imitando sons de animais. Maddoux, julgando mesmo que era um
animal selvagem (aparentemente, um javali) atirou sobre os arbustos, ignorando
que tinha atirado contra o amigo. Levado para o hospital, acabou por sangrar
até à morte. Irónicamente, esse carro… era um Mercedes. Tinha 45 anos.
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