segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A imagem do dia (II)

Um dos filmes mais conhecidos dos anos 70 em Itália foi realizado em 1976 por Ettore Scola, e tinha como título original "Brutto, Sporco e Cattivo". Travata-se da história de uma pessoa, que vivia numa favela nos arredores de Roma e que tinha recebido uma avultada indemenização por ter perdido um olho num acidente de trabalho. E ao longo do filme, a familia fazia de tudo para ficar com a sua fortuna, usando métodos discutíveis.

Aqui, o filme foi conhecido como "Feios, Porcos e Maus", mas na Formula 1 havia uma pessoa que encaixava perfeitamente nesse rótulo: Vittorio Brambilla. Chamavam-no de "Gorila de Monza" e ele, quando lhe pisavam os calos, podia ser um verdadeiro grunho. Mas era muito veloz e tinha uma carreira eclética atrás de si. E foi mais um exemplo de um piloto de sucesso nas duas rodas e que passou para as quatro. Mas a sua carreira é menos conhecida do que, por exemplo, John Surtees e Mike Hailwood.

Vittorio nasceu em Monza em 1937, com uma irmão mais velho do que ele, Ernesto. Crescendo à volta do circuito, cedo ficaram seduzidos pela velocidade. Mas começaram pelas duas rodas, porque era mais barato do que as quatro, E foram mecânicos, porque correr era passatempo de ricos e não de operários como eles.

Ernesto não teve grande história no automobilismo - apesar de ter corrido na Formula 1 e num Ferrari! - e Vittorio só se aventurou nas duas rodas no inicio dos anos 70, quando já tinha... 33 anos. Mas a sua ascenção foi meteórica, chegando a Formula 1 em 1974, aos 36 anos. Graças ao seu carro laranja (cortesia do seu patrocinador, a firma de peças mecânicas Beta), ele era tremendamente veloz, apesar de não ser meigo com os carros.

A temporada de 1975 deve ter sido a melhor de sempre. o March 751 conseguia ser dos melhores do pelotão, e a sua velocidade o colocou nos primeiros lugares da grelha. Em Anderstorp, foi o "poleman", e para melhorar as coisas, ele sabia guiar na chuva. 

Em Zeltweg, palco do GP da Austria, Brambilla foi apenas o oitavo na grelha, mas no dia da corrida, a chuva tinha aparecido bem forte na pista. Brambilla aproveitou bem as condições para saltar para o terceiro posto e ir atrás de Niki Lauda e James Hunt. Na volta 15, já tinha passado o austriaco e estava em cima de Hunt, cujo carro não trabalhava lá muito bem, pois tinha apenas sete cilindros. Pouco tempo depois, aproveitou uma hesitação de Hunt a um retardatário e o italiano ficou com a liderança.

Mas na volta 29, as condições pioravam bastante e a organização decidiu interromper a corrida... com a bandeira de xadrez, que significava o seu final. Ao vê-la. Brambilla comemorou como sabia. Só que perdeu o controlo do carro metros após ter cortado a meta, batendo no muro as boxes. Felizmente, foi só a asa que ficou danificada.

Brambilla ficou com essa asa de recordação e o pendurou nas paredes da sua oficina até morrer, em maio de 2001, aos 63 anos. De facto, aquela tarde chuvosa de Zeltweg foi memorável. E mesmo sendo "feio, porco e mau", Brambilla era incrivelmente veloz.

Sem comentários: