quarta-feira, 23 de setembro de 2015

As ameaças da Red Bull

É mais do que sabido que a Red Bull afirmou ontem, num dos seus folhetos oficiais, de que abandonaria a Formula 1 caso não dessem motores "iguais" aos do fabricante, para assim terem uma chance de vitória em relação aos outros. Ou seja, serem um parceiro e não um cliente. Se não é Dietrich Mateschitz a falar, seria Helmut Marko a fazer de "mau da fita" neste caso em particular.

A razão para que levemos esta ameaça " a sério" é óbvia: a casa de Salzburgo é demasiado grande para não causar impacto na Formula 1. Red Bull e Toro Rosso representam quatro dos atuais vinte lugares que a Formula 1 tem agora na grelha de partida, e para além disso tem uma corrida no calendário, o GP da Áustria. Logo, investiram imenso dinheiro na Formula 1 e querem, entre outras coisas, mais dinheiro da FOM por causa do seu palmarés, como tem agora a Ferrari, por exemplo.

Claro que muitos criticam estas ameaças porque parece que os energéticos não sabem perder, que fazem lembrar os meninos ricos que são os donos da bola, que quando perdem, simplesmente pegam na bola e vão-se embora dali. Mas a realidade é outra: querem algo semelhante ao da Ferrari. Já o tem por causa do seu palmarés - quatro títulos de pilotos e construtores de 2010 a 2013 - mas só por causa da história, a Ferrari tem à partida cem milhões de euros provenientes da FOM, enquanto que a Red Bull tem cerca de 30 milhões. E é isso que eles querem.

Mas isso não é fácil, porque os outros também pedem a mesma coisa. A Renault, por exemplo, já veio a público dizer que quer mais dinheiro por causa do seu estatuto - e tem com que reclamar, pois está na Formula 1 há quase 40 anos, e contribuiu para a introdução dos motores Turbo. De uma certa forma, todas estas reclamações tem também um objetivo, que é de diminuir a fatia que vai para a CVC Capital Partners e para Bernie Ecclestone, que sem fazer algum, ganham no seu conjunto quase metade das receitas da Formula 1. Esse é que é o problema, e que tem uma solução simples: diminuir essa percentagem a favor das equipas.

Mas agora... será que querem mesmo sair? Não. Acho que toda a gente topou esta. Um exemplo disso é que conta hoje o jornalista português Luis Vasconcelos, na Autosport local, onde afirma que isto é uma "faca de dois gumes" onde tanto tem a perder como a ganhar. Primeiro que tudo, eles assinaram um contrato com a FOM que os "obriga" a ficar na Formula 1 até 2020. Ou seja, ficarão por lá por mais seis temporadas, pelo menos. E caso "rasguem o contrato", a indemnização é enorme: 500 milhões de euros! Mais concretamente, cem milhões por cada temporada que não cumpram até ao final da década.

Para além disso, a Red Bull na Formula 1 - e a Toro Rosso - é um gigante. Segundo ele conta, em Milton Keynes existem 900 funcionários, o dobro que há em Faenza para a STR. E se para o primeiro caso, as leis inglesas são fléxiveis, no caso italiano, as coisas piam fino. Indemnizar 450 funcionários pela lei trabalhista italiana é o equivalente a arrancar toda uma dentadura sem anestesia, e os custos poderão elevar-se até mil milhões de euros. Ou seja, é imeeenso dinheiro, e só se venderam mil milhões de latinhas num ano é que terão a chance de sairem dali sem serem prejudicados. Isto, se conseguirem, pois há uma reputação a defender, e que seria bem prejudicada se abandonassem intempestivamente a Formula 1 por razões ditas "fúteis"...

Em suma, é demasiado arriscado, e todos sabem disso. Provavelmente haverá uma solução nesse campo, mas talvez nada que a Ferrari teve há alguns anos, quando Luca de Montezemolo fez exigências semelhantes. Em resumo, é mais para entreter do que outra coisa. Mas não haverá orelhas moucas...

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