Michael Lanzegal, o autor do artigo (e CEO de uma companhia holandesa chamada Fastned), começa por escrever:
"De vez em quando aparece uma nova tecnologia que vai mudar profundamente a forma como os seres humanos se relacionam em termos de energia e transportes. Rodas, motores a vapor e aviões foram todas as invenções que colocam a humanidade numa nova trajetória. Quando eu dirigi pela primeira vez um Nissan Leaf elétrico em 2011, eu percebi que estava sentado num avanço tecnológico desse género.
Um motor de combustão interna usa um pico de 30 por cento de eficiência. Este é o resultado de um século de melhoria contínua e trilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento. O espaço para melhorias que resta nos motores de combustão é mínima. No entanto, lá estava eu, dirigindo a primeira geração de um carro que chegou confortavelmente a 85-90% de eficiência! Eu imediatamente entendi o enorme potencial do carro elétrico: aceleração rápida, zero emissões nocivas, três vezes mais eficiencia em termos energéticos - e que poderia ser conduzido com a pura energia do sol.
Desde a introdução do Nissan Leaf, mais carros elétricos têm atingido o mercado. Mas este é apenas o começo de uma grande mudança que nos faz trocar os combustíveis fósseis e motores de combustão para carros elétricos movidos a energia renovável. Na Fastned, batizamos isto de 'Autowende'".
Para terem uma ideia da razão porque o Grupo VAG pode ter feito isto (e provavelmente mais algumas marcas na industria automóvel), pode-se dizer que em 2021, ou seja, dentro de seis anos, os carros de estrada não podem emitir mais do que 95 gramas de CO2 (dióxido de carbono) por quilómetro. E pedir à Mercedes, por exemplo, que os seus Classe S, o modelo de luxo da marca, que tenha as emissões equivalentes a um Fiat 500, pode ser algo quase inalcançável num motor a combustão. A não ser que seja híbrido, com metade da potência a ser dada por um motor elétrico, num sistema de recolha de energia semelhante ao KERS usado nos seus Formula 1, o que não seria mau de todo.
Mas também a ideia de que os carros elétricos eram pouco potentes já foi respondida há muito tempo graças ao Tesla Modelo S, quando se viu que o seu torque era bem superior a muitos supercarros a combustão interna que andam por aí, como Ferrari, Lamborghini, Porsche, Lexus e outros. Para terem uma ideia, o sistema "Performance", com 90 kilowatt, e montado com o sistema "Ludicrous", vai dos zero aos 100 em 2,8 segundos, e tem uma potência de... 762 cavalos. Tudo numa pequena bateria, sem qualquer barulho e sem qualquer emissão carbónica para a atmosfera. Até é capaz de superar quase todos os "muscle car" americanos...
Claro que tudo tem um preço: este carro vale 118 mil dólares no mercado americano.
E agora, outras marcas estão a fazer isso. Recentemente, a Aston Martin "rendeu-se às evidências" quando apresentou uma versão elétrica do Rapide, o seu modelo de quatro portas, do qual espera tê-lo à venda em 2017. E segundo eles, terá inicialmente... mil cavalos. E Andy Palmer, o CEO da marca, justificou a decisão:
"Somos uma empresa que faz motores V12. Projetemos para o futuro. Seguirei o caminho do resto da indústria que reduzir o tamanho do motor? Ver a Aston Martin com motores de três cilindros? Deus me livre. Você tem que fazer algo radical. A energia elétrica dá esse poder. Dá-nos torque".
E esse torque do qual o Tesla mostrou e do qual existem dezenas de exemplos no Youtube está a dar de volta às pessoas algo que a BMW coloca como lema: "Freude am fahren", o prazer de conduzir. Com o alto preço da gasolina (quer através dos impostos, quer quando o preço do petróleo estava alto), tinha-se perdido esse prazer, pois estávamos preocupados com a carteira e não com a sensação de andar com o carro numa estrada serpenteada algures na Europa, ou até passear em qualquer lugar sem se preocupar com mais nada. Quando tivermos baterias suficientemente potentes (e baratas. A tendência é que em 2020 as baterias custem 100 dólares por kilowatt) que nos permitam levar suficientemente longe para dispensarmos um carro a combustão interna, o preço da electricidade será suficientemente baixo para deixarmos de preocupar com isso. Para além do tal prazer de condução.
Voltando ao artigo de Lanzegal, há uma expressão bem interessante de Sir Richard Branson, o homem por trás da Virgin, e que faz uma comparação bem interessante: o tabaco. "Daqui a vinte anos, o cheiro de um tubo de escape será tão raro como é hoje em dia o cheiro de tabaco num restaurante". O que o artigo fala é que de todos os que compram um carro elétrico, a esmagadora maioria não volta a guiar um carro de combustão interna, ou se quiserem, não voltarão a comprar um carro desse tipo a não ser que seja absolutamente necessário. Matar saudades, por exemplo.
Mas também o que ele quer dizer é que na nossa infância, fumar era um ato natural: faziamo-lo em todo o lado, desde os aviões às salas de cinema, passando pelos restaurantes e claro, em casa. Mesmo sabendo dos perigos do tabaco, era frequente ver anúncios a ele na televisão, nos rádios, nos jornais. E não se esqueçam dos patrocínios na Formula 1 e outros desportos... hoje em dia, o ato de fumar desapareceu, pois não se pode fazer isso em lado algum. Se querem fumar, é só na rua, e muitos olham para essas pessoas com uma certa desaprovação. Aliás, aliado ao alto preço do maço de cigarros um pouco por todo o mundo, o consumo está em niveis minimos, na Europa e nos Estados Unidos.
E é provável que algures em 2030, é o que poderá acontecer com os automóveis: a maioria poderá ser elétrica, com baterias suficientemente potentes, e provavelmente poderemos ver oficinas especializadas em conversão dos carros ditos "regulares" para os elétricos. Sei que isso poderá ser herético para muitos dos fãs empedernidos do motor a combustão, mas isso poderá ser uma inevitabilidade, e muitas das oficinas ou se especializam, ou se convertem, ou desaparecem. E como no tabaco, também haverá pessoas que questionarão os que ainda têm carros a combustão interna a razão porque ainda os têm, quando sabem que faz mal ao ambiente e às pessoas.
Muitos falam que o "Dieselgate" da Volkswagen poderá ter feito a industria automóvel despertar para a inevitabilidade do carro elétrico. A própria marca alemã, ainda a lamber as feridas de tudo isto, decidiu que iria apostar neste tipo de energia para o futuro, apesar de ainda não ter mostrado um plano nesse sentido. Mas este ano, no Salão de Automóvel de Frankfurt, mostrou um carro que eles prometiam ser um "anti-Tesla", o Porsche Mission E, do qual falavam que iria ter uma bateria de 500 km de autonomia e que seria carregado em 15 minutos. À partida, iria ser um exercicio de estilo, uma espécie de plano a muito longo prazo, mas agora já disseram que pretendem ter o carro na estrada em 2019. Isto numa altura em que a Tesla já terá feita a sua "Gigafábrica", no estado do Nevada, do qual poderá fazer meio milhão de carros por ano.
Para Lanzegal, aquilo que a industria europeia deveria fazer nos próximos anos é isso, caso não queria perder o comboio: construir, converter e desenvolver fábricas para carros elétricos, criando milhares de novos postos de trabalho, e garantir a continuidade de uma industria que arrisca a ser ultrapassada por outros. Caso digam sim, andar em carros elétricos acontecerá mais cedo do que se julga...
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