sábado, 19 de dezembro de 2015

A história do campeonato sul-africano de Formula 1 (Parte 3)

(continuação do capitulo anterior)


O PRIMEIRO PATROCINADOR DA FORMULA 1


No primeiro de janeiro de 1968, foi abolida a lei que obrigava as equipas a pintarem os seus carros de acordo com as cores dos seus países. Ou seja, os britânicos não eram mais obrigados a andar de verde, os franceses de azul, os italiano de vermelho ou os americanos de branco com faixas azuis. E isso fez com que os carros pudessem ser pintados de acordo com os seus patrocinadores.

A lenda conta-se que o primeiro a fazer isso foi Colin Chapman, que contactou a Imperial Tobacco sobre se não queriam ter o seu produto nos Lotus de Jim Clark e Graham Hill, logo em janeiro, quando estivessem a correr na Tasman Series. A troco de 60 mil libras para a Formula 1 e a Formula 2, e porque Geoffrey Kent, o presidente da Imperial Tobacco, achou "patriótico patrocinar uma equipa de Formula 1", Chapman ficou creditado como o percursor dos patrocínios na categoria máxima do automobilismo.

Na realidade, não foi bem assim. Na passagem do ano de 1967 para 1968, os pilotos estavam em paragens sul-africanas para correrem na primeira prova do ano, em Kyalami, e entre os Brabham e Lotus verdes, os Ferrari vermelhos e os Matra azuis, havia uns estranhos carros laranjas e castanhos. Eram os carros de John Love, Sam Tingle e Basil van Rooyen, pintados com as cores do seu patrocinador, os cigarros Gunston. Love alinhava num Brabham, Tingle no seu LDS e van Rooyen no Cooper T79 que quase tinha levado Love à vitória no ano anterior. 

Não era um patrocinador novo, pois estava com Love desde 1962, mas nunca pode usar as suas cores nos chassis dos carros que ele arranjou ao longo desses anos. Contudo, com o fim do regulamento que restringia a decoração dos carros às cores nacionais, eles decidiram aproveitar logo no primeiro dia.

Contudo, em termos de corrida, isso de pouco lhes valeu, pois Love não conseguiu mais do que o nono lugar, e o único a chegar ao fim, sendo o melhor dos locais numa corrida marcada pela 25ª e última vitória de Jim Clark na sua carreira, quatro meses antes do seu acidente mortal, em Hockenheim.

Em termos de campeonato nacional, alguns pilotos aproveitaram a proximidade do GP para correrem na primeira prova do ano, em Killarney. Jean-Pierre Beltoise levou o seu Matra à corrida e foi o vencedor, na frente de Jackie Pretorious e Sam Tingle, enquanto que Dave Charlton e John Love desistiram. Mas depois, Love venceu as três provas seguintes, o Rand Autumn Trophy, o Coronation 100 e o Republic Day Trophy, com Pretorious o unico a acompanhá-lo. Basil van Rooyen ven eu no Natal Winter Trophy, numa altura em que Love já tinha um Lotus 49, para vencer em East London e no Rand Winter Trophy, em Kyalami. Jackie Pretorious e Dave Charlton venceram nas duas corridas seguintes, mas Love voltava a ser campeão, com um avanço de 14 pontos sobre a concorrência mais próxima.


A PASSAGEM DO TESTEMUNHO


Parecia que por esta altura não haveria rival para o piloto rodesiano a não ser um seu compatriota, Sam Tingle, este um pouco mais velho do que ele (em 1968 tinha 47 anos!), mas no horizonte já espreitava um piloto com talento, mas sem uma máquina à altura, pois parecia que a Gunston tinha dinheiro mais do que suficiente para conseguir as máquinas mais desejadas da competição. A grande rival da Gunston era a Scuderia Scribante, uma equipa feita no inicio da década por Neville Lederle, para os seus carros, mas que depois foi gerido por Alex Blignaut, que tinha sido piloto em 1963, sem resultados de relevo. Em 1966 passou para o dirigismo, quando Lederle abandonou o automobilismo, mudando o nome para Scuderia Scribante e recrutando Dave Charlton para ser seu piloto.

Nascido a 27 de outubro de 1936 em Brotton, no Yorkshire inglês, Charlton veio para a África do Sul aos dez anos de idade. Cedo abandonou a escola e envolveu-se no automobilismo, primeiro na mecânica, e depois começando a competir, logo em 1960, aos 24 anos, num Austin Healey, vencendo a sua primeira prova, em East London. Contudo, só se virou para o campeonato em 1965, com um Lotus 20 da Ecurie Tomahawk, não conseguindo qualificar-se para a corrida.

No ano seguinte, porém, foi para a Scuderia Scribante, onde ficaria o resto da sua carreira, tornando-se no grande rival de John Love. Venceu três corridas em 1966 (Khumalo, Lourenço Marques e Kyalami), acabando no terceiro lugar do campeonato, e no ano seguinte, duas em Kyalami (Rand Autumn Trophy e o Rand Spring Trophy), sempre num Brabham BT11, acabando de novo no terceiro lugar, atrás de Love e Tingle. Em 1968, a bordo de um Lola-Chevrolet, apenas venceu o Rand Spring Trophy, em Kyalami.

Em 1969, a fasquia ficou bem elevada. A Gunston tinha comprado um Lotus 49 para Love, e ele dominou a competição, enquanto que Charlton apenas conseguiu uma vitória em Khumalo, com o seu Lola. Sabendo que as coisas teriam de se mudar, se queriam quebrar o dominio de Love, teriam de ficar a par em termos de máquina, senão superá-lo. Assim sendo, também arranjaram a máquina do momento, um Lotus 49 ex-de fábrica.

A temporada de 1970 parecia que iria ser como as outras, pois Love vencera na prova de abertura, a 10 de janeiro, na Cape South Trophy, em Killarney. Charlton tinha desistido, mas na Highveld 100, a 31 de janeiro, em Kyalami, Charlton vencia, com Love em segundo, e o mesmo resultado se repetiria na Coronation 100, em Pietmaritzburg. Mas a 6 de junho, quando regressaram a Kyalami, para o South African Republic Festival Trophy, Charlton foi segundo, numa corrida ganha por Pieter de Klerk, mas o seu rival Love tinha sido apenas o sexto.

Apesar desta vantagem, parecia que tudo voltaria à estaca zero quando desistiu na Bulawayo 100, em terras rodesianas, pois o vencedor tinha sido Love. Mas a partir dali, Charlton venceu as cinco provas seguintes, terminando o campeonato como vencedor, com 69 pontos contra os 37 de Love. Pela primeira vez desde 1964, havia um campeão diferente, e Charlton, doze anos mais novo do que Love, era o símbolo do futuro.

(continua amanhã)

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