quarta-feira, 11 de maio de 2016

As razões do silêncio sobre Michael Schumacher

O assunto "Michael Schumacher" tem andando nas bocas do mundo desde há quase uma semana, depois de um site americano ter falado que a vida do piloto alemão de 47 anos poderá estar por um fio. O site citava um neurocirurgião não identificado que afirmara que Schumacher tinha perdido cerca de 30 quilos desde que sofreu o acidente, a 30 de dezembro de 2013, e que a sua morte estaria "por horas". Isso fez despertar as especulações nesse campo, reforçadas com uma declaração de Jean Todt, neste domingo, quando esteve na Sicília, que afirmava que Schumacher estava "a lutar a batalha da sua vida".

Na realidade, Tenho ouvido destas coisas desde fevereiro, quando Luca de Montezemolo deu uma declaração semelhante a que deu agora Todt. O ex-presidente da Ferrari disse que "só um milagre é que teremos o Schumacher de antes", o que fez agitar as águas. O que ele queria dizer - e o tempo se encarregou disso - é que a sua evolução tinha ficado parada e não vai ser mais a pessoa "normal" que conhecemos, e a extensão das suas lesões cerebrais do acidente o fizeram virar um "vegetal", provavelmente sem poder andar ou comunicar de forma audível.

Por outro lado, todas estas noticias, especialmente as mais recentes, podem não passar de especulação - e provavelmente são noticias falsas - mas tudo isto, só a menção do seu nome, sem ouvir o que a família ou o seu porta-voz, Sabine Kehm, tem para dizer sobre isto, mostrou que o público está sedento de noticias sobre a real condição do heptacampeão do mundo, numa família onde a privacidade é sagrada, e quem a quebrar será severamente punido. Uma coisa que para muitos pode ser completamente estranha num mundo de hoje, cheio de redes sociais, onde todos querem aparecer e as noticias voam no espaço de segundos pelo mundo inteiro.   

Esta quarta-feira, a Motorsport brasileira falou com Stefan Ziegler, da sua congénere alemã, para perguntar as razões por este silêncio. Ziegler fala que esta blindagem ética é resultante de um acordo de cavalheiros entre a imprensa e a família do piloto alemão. 

De fato, existe uma espécie de ‘acordo de cavalheiros’ entre a imprensa, a família Schumacher e Sabine Kehm”, começou por dizer. “Por exemplo, nós apenas falamos sobre Schumacher e sua saúde quando há notícias oficiais vindas da família ou da Sabine”, continuou.

Do outro lado, existem várias revistas e sites que relatam todo o tipo de coisa, e que na sua maioria estão totalmente incorretos ou são de mau gosto. Mas a família Schumacher tem advogados muito bons em termos de media, que trabalham nestes casos, e, geralmente, a multa por quebrar as regras da família é muito cara. Assim, muitos meios de comunicação não fazem nada por temer punição. Mas alguns fazem isso para vender mais revistas ou obter visualizações”, declarou.

Apesar desta blindagem, respeitada pela imprensa especializada e tradicional, Ziegler comenta que a estrita privacidade que a família Schumacher é algo frustrante para os meio de comunicação social. E obter de outras fontes, como por exemplo, as pessoas que conviveram com o alemão no passado (Luca de Montezemolo ou Jean Todt) não conseguem oferecer informações mais precisas do que aquilo que é sabido.

O problema é: Sabine e a família não compartilham muita informação. Basicamente é só uma coisa ou outra ao longo do ano. Portanto, muitos 'jornalistas' fazem as suas próprias histórias infelizmente", começou por dizer. “Como sabemos o que é verdade ou não? Fácil: nós verificamos se há uma declaração oficial da família ou de Sabine. A maioria não tem. E, geralmente, mesmo aquelas pessoas perguntadas sobre Schumacher (Jean Todt, Flavio Briatore, Luca di Montezemolo e etc), dizem algo sem realmente saber com certeza. Então, é melhor não relatar isso também”, concluiu.

E quando se trata de imagens de Schumacher após o acidente, isso ainda é mais perigoso. O famoso caso do fotojornalista que se disfarçou de padre para tirar uma imagem de Schumacher na sua cama, no Hospital Universitário de Grenoble, pouco mais de duas semanas após o seu acidente, demonstrou a fome que uma certa imprensa tinha para lucrar com a desgraça. Ziegler fala que qualquer pessoa que tentasse isso poderia ser famoso num instante, mas pagaria um preço muito caro depois.

"Você pode imaginar alguém tentar qualquer coisa para tirar uma foto”, começou por dizer Ziegler. “Contudo, toda a gente sabe que a família e seus advogados iriam fazer de tudo para processar qualquer um que publicasse imagens dele [na cama do hospital]. Você pode vender a imagem para uma revista e fazer uma fortuna, mas você vai estar acabado quando descobrirem que foi você e vão te fazer pagar como se não existisse o amanhã. Além disso, se você for um jornalista e/ou uma revista publicasse essa foto, você teria o seu momento de fama, mas depois a queda chegaria e você estaria acabado”, concluiu.

Que o desfecho vai ser aquele que infelizmente esperamos, isso já está mais ou menos pacificado. Contudo, a fome de noticias sobre ele pode ver-se até quando se inventa algo sobre ele para ter audiência. A curiosidade sobre a sorte uma figura pública, quer a família queira, quer não, existirá sempre até ao desfecho deste caso.

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