segunda-feira, 3 de julho de 2017

Conversas de Paris, e os aproveitadores de noticias

Normalmente só faço isto em dias de corrida, mas esta é uma crónica corrida numa segunda-feira à tarde, com o calor a atingir forte e feio. E nestes tempos que correm, até é interessante escrever isto com o Twitter ligado e a ler todas as noticias, rumores e "fake news", como está tão na moda.

Hoje é 3 de julho, o dia em que Sebastian Vettel faz 30 anos. Contudo, em vez de festejar com a familia, está em Paris, a prestar declarações à FIA sobre se o Tribunal deverá ou não sentenciar as suas manobras no GP de Baku. A audiência começou no inicio da tarde, e desde logo, começou com polémica. Primeiro, um comunicado a mostrar que Vettel tinha sido desclassificado da corrida, que imediatamente foi denunciado por ser falso, e depois, noticias colocadas na imprensa italiana de que, caso existisse uma sanção grave por parte da FIA, a Ferrari poderia boicotar o GP da Áustria, por retaliação. Que há pressões por toda a parte, é um facto.

Mas curiosamente, eu já tinha visto este filme antes. Há dez anos, quando foi o "McLarenGate", onde a equipa de Woking roubou segredos do carro da Ferrari, o dia do julgamento aconteceu uma semana depois do GP da Bélgica. E ainda a reunião estava a decorrer quando surgiu a noticia de que a McLaren estaria excluída do Mundial na sua totalidade, exatamente igual ao que tinha acontecido à Tyrrell em 1984, quando se descobriu que os seus carros eram demasiado leves e que faziam a diferença colocando chumbos nos seus depósitos. A reunião ainda ia a meio e a coisa parecia que já estava decidida.

No final, não andou longe: a equipa foi desclassificada, a multa foi muito elevada - 500 milhões de dólares - mas os pilotos puderam correr e pontuar naquela temporada. Sabia-se que, caso fizessem isso, praticamente iriam retirar emoção ao campeonato e claro, entregar o título a outra equipa, neste caso, a Ferrari. E nestes tempos que correm, a televisão e as audiências contam mais, independentemente das polémicas e dos escândalos. Nunca haverá justiça total.

Contudo, pelas seis da tarde, a FIA comunicou que Sebastian Vettel assumiu a responsabilidade dos atos em Baku e pediu desculpas pelo incidente. A FIA - dizendo melhor, Jean Todt - aceitou as suas desculpas e decidiu que não haveria mais investigação sobre isto, ou seja, não haveria chamada do Tribunal de Apelo, nem possíveis desclassificações. E nem multa. Ou seja, uma admoestação e um aviso: da próxima, vai a tribunal.

Foi uma tarde longa, mas claro, as especulações incendiaram a atualidade automobilística. E é um pouco como vivemos hoje: acreditamos em tudo o que aparece de forma inconsciente. Bom, não em tudo, porque sabemos que, se aparecer uma noticia inverosímil, como um porco a andar de bicicleta, dizemos logo que é falso. Mas estes são tempos em que algures neste planeta, há agricultores a ensinarem porcos a andar de bicicleta é verdade e há quem falsifica comunicados da FIA dizendo que determinado piloto foi excluído e metem no Twitter ainda antes da reunião começar.

Mas no final, o que hoje a FIA queria saber era se havia razões para convocar o Tribunal de Apelo, se as ações de Sebastian Vettel eram suficientes para tal coisa. Mas dadas as especulações sobre este tema, houve quem quis aproveitar, apenas para agitar as águas ou fazer "lobby"...

1 comentário:

Reginaldo Nepomuceno disse...

Olá, Paulo! Não acompanhei bem a polêmica, mas é realmente triste saber que perdemos cada mais tempo filtrando o joio do trigo na hora de ler notícias, ainda mais quando se trata de um nicho como a F1.

Vamos ver se a atitude do Vettel nas pistas condiz com o arrependimento mostrado na visita à sede da FIA. E deixar as especulações pra quem quer dar audiência a falastrões.