sexta-feira, 15 de março de 2019

A imagem do dia (II)

Na foto, Charlie Whitting em 1978, a tratar do Hesketh de Divina Galica. Toda a gente tem um lado escuro. E Charlie, morto esta quinta-feira aos 66 anos de idade, em Melbourne, nas vésperas da nova temporada da Formula 1, tinha uma história que poucos sabiam até agora. É verdade que Whitting era uma excelente pessoa, de bom trato e capaz de aguentar as brigas e reclamações de toda a gente, desde pilotos e dirigentes, muitas das vezes acalmando egos. 

Contudo, esta história que vou falar é contada pelo Joe Saward, e já tinha lido logo no dia que morreu. Mas aqui estão muitos pormenores, todos referentes a Nick Whitting, o irmão mais velho de Charlie. Seis anos mais velho que ele, tornou-se num mecânico competente no final dos anos 60 no circuito de Brands Hatch, onde se tornou num excelente piloto dos "club racing". Com o passar do tempo, Nick montou uma equipa, a All Car Equipe (ACE), montou a sua própria garagem e vendeu carros usados, o "wheeler-dealer", como dizem na Grã-Bretanha. Montava caros melhores e vendia com lucro, claro. Atraído por esse mundo, Charlie começou a ajudar o seu irmão com 15 anos de idade e em 1976, ambos montaram um Surtees de Formula 5000 pertencente a Divina Galica, uma esquiadora britânica que se apaixonou pelo automobilismo e tornou-se numa das cinco mulheres a participar num Grande Prémio de Formula 1. E foi com ela que Charlie e Nick entraram nesse mundo.

Ambos ficaram sem emprego com o fim da Hesketh, a meio de 1978, mas se Charlie bateu à porta da Brabham e ficou no mundo da Formula 1 para o resto da sua vida, Nick decidiu continuar com a sua garagem e prosperar no negócio. 

Mas... como dizem nas nossas mães quando somos garotos: "cuidado com as más companhias". Nick tinha um amigo de infância, Kenneth Noye. E ele tinha-se metido com o submundo de Londres, no final dos anos 70, inicio dos anos 80, onde era relativamente fácil assaltar bancos e carrinhas de valores. E alguns desses mafiosos não gostavam de "pontas soltas". Em 1983, um grupo de ladrões foi para um sítio chamado Brink-A-Mat, onde esperavam levar um saque de 3 milhões de libras. Contudo, ali estavam 6800 barras de ouro, totalizando três toneladas. E esses três milhões de libras passaram a ser 26 milhões.

Noye foi envolvido no negócio e sabia onde buscar carros velozes. Contudo, sete anos depois, em julho de 1990, Nick foi raptado da sua garagem e desapareceu sem deixar rasto. Cinco semanas mais tarde, foi encontrado num pântano não muito longe da sua garagem, com marcas de facadas e cinco balas de 9mm no seu corpo. Provavelmente, foi um infeliz caso de "queima de arquivo", por saber demais e, com a policia a apertar o cerco sobre o roubo das barras de ouro, os que estiveram envolvidos começaram a entrar em parafuso. Noye acabou por ser apanhado e foi acusado de outros crimes, mas não do rapto e morte de Nick Whitting.

A história é arrepiante, de facto, mas apenas é uma infeliz conto de alguém que conheceu pessoas erradas. Que por sua vez, é irmão de uma personagem discreta, mas importante na Formula 1 nos últimos vinte anos. E esteve outros vinte num selecto clube, fazendo parte da historia do automobilismo.

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