segunda-feira, 3 de junho de 2019

No Nobres do Grid deste mês...

(...) em 1986, o piloto [Andrea de Cesaris] tinha fama de desastroso. Oito chassis destruídos em 1981, pela McLaren, deram-lhe o cognome de “De Crasharis”, ao ponto de ele ter sido impedido de correr no GP da Holanda porque já não havia mais chassis, ele tinha não só arruinado o seu próprio, como o de reserva! Em 1982, voltou à Alfa Romeo e fez uma pole-position em Long Beach e conseguiu o seu primeiro pódio no Mónaco, apesar de ter ficado sem gasolina na última volta. E três anos depois, em 1985, Guy Ligier decidiu dispensar os seus serviços depois de ter destruído um dos seus chassis no GP da Àustria.

Assim sendo, a Minardi foi um refúgio, onde a fragilidade do conjunto chassis-motor não ajudou em nada. Depois do México, não acabou na última corrida do ano, na Austrália por problemas mecânicos. Aliviado, transferiu-se para a Brabham, onde iria fazer companhia a Riccardo Patrese. Mas a Brabham em 1987 era uma marca em decadência. Bermie Ecclestone estava a desinteressar-se da equipa e Gordon Murray tinha ido embora para a McLaren, deixando o desenho do BT56 para John Baldwin e Sergio Rinland. Era mais convencional que o radical BT55, e tinha o motor BMW Turbo, que era potente, mas pouco durável. E De Cesaris vai pagar por essa fragilidade. (...)

(...) Em Spa-Francochamps, palco do GP da Bélgica, De Cesaris continuou a ter azar do costume, mas também teve uma tremenda sorte. 13º na grelha, furou logo na primeira volta, mas aproveitou os azares alheios para se salvar, especialmente quando os dois Tyrrell, o de Jonathan Palmer e Philippe Streiff, bateram um no outro na reta Kemmel, causando a amostragem de bandeiras vermelhas.

Na segunda partida, De Cesaris aplicou-se a fundo e ultrapassou alguns pilotos, subindo na geral até chegar aos pontos. Na última volta, ele tinha um terceiro lugar garantido quando a poucos metros da meta, o seu Turbo explodiu e viu o carro ficar em chamas. Como tinha cumprido mais de 90 por cento para ser classificado, acabou por ficar com o lugar mais baixo do pódio, até então o terceiro da sua carreira. Mas tecnicamente, não tinha cruzado a meta dentro do seu carro. (...)

Se estivesse vivo, Andrea de Cesaris teria cumprido 60 anos no passado dia 31 de maio. 204 Grandes Prémios realizados entre 1980 e 1994 não lhe deram qualquer vitória, apesar de ter passado por Alfa Romeo (duas vezes), McLaren, Ligier, Minardi, Brabham, Rial, Dallara, Jordan (duas vezes), Tyrrell e Sauber. Contudo, conseguiu uma pole-position, uma volta mais rápida e cinco pódios, dois deles em 1983, quando acabou no oitavo posto da geral, a sua melhor classificação da sua carreira.

Morto num acidente de mota a 5 de outubro de 2014, na sua Roma natal, De Cesaris passou para a história como alguém que fez parte do mobiliário do automobilismo, mas cuja fama de destruidor de carros nunca o largou. Mas os seus recordes de desistências se deveram mais à fragilidade dos seus materiais do que o seu pé pesado. E é sobre esse recorde funesto que falo este mês no Nobres do Grid.

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