Um dos grandes defeitos do Ayrton Senna por muito tempo era a sua falta de paciência, especialmente para passar os carros mais lentos. O exemplo do GP de Itália de 1988 é o mais célebre, quando não esperou alguns segundos para poder passar Jean-Louis Schlesser, pois tinha uma enorme vantagem sobre o Ferrari de Gerhard Berger. E ao não ter paciência para atrasado, ofereceu à Ferrari a mais inesperada das suas vitórias na sua longa história da Formula 1.
Em 1990, a Formula 1 regressava a Interlagos na pior altura para receber um Grande Prémio. No Brasil, o país vivia com o flagelo da inflação, e o novo presidente, Fernando Collor, decidiu confiscar as poupanças que as pessoas tinham no banco, obrigando-as a tirar apenas uma infima parte. As pessoas correram aos balcões para tirar o que podiam antes da medida entrar em vigor, e muitos não conseguiram.
Ao mesmo tempo, Jean-Marie Balestre, então presidente da FISA, ia ao Brasil, poucos meses depois dos eventos de Suzuka. Eles aproveitou a situação para insultar o povo brasileiro, dizendo que não tinham dinheiro para comprar tomates para poder atirar a ele, e chamando-os de cobardes, ao compará-los aos separatistas corsos que matavam pessoas com bombas debaixo dos carros. Vá lá, não disse que o IRA e a ETA eram melhores...
Senna era de São Paulo e queria ganhar em casa. Aliás, até então não tinha ganho nenhum GP do Brasil, tendo o melhor sido um segundo lugar na edição de 1986, e em 1988 e 89, tinha tido problemas, desde batidas na partida até uma desclassificação. E até tinha colocado o dedo nas obras de remodelação ao autódromo de Interlagos, que completava 50 anos em 1990. Foi por causa dele que nasceu o "S" de Senna, por exemplo.
Ele queria avidamente ganhar, especialmente para poder esfregar na cara de Prost, que vencera em "terra Brasilis" em 1982, 84, 85, 87 e 88. Na Ferrari, tinha máquina para ser de novo campeão, logo, seria o rival de Senna no título... e no seu próprio Grande Prémio. Senna fez a pole e Prost foi apenas sexto na grelha, enquanto o brasileiro partiu no comando, enquanto atrás, Prost tentava fazer uma corrida suficiente para estar no lugar certo, à hora certa.
Na volta 40, Senna aproximava-se do Tyrrell de Satoru Nakajima, seu companheiro nos dias da Lotus-Honda. Prost estava no segundo posto, a cerca de dez segundos. Estava perto, mas não era ameaçador. Contudo, a sua ansiedade levou a melhor, e a impaciência levou a uma atitude intempestiva. O nariz foi quebrado e o downforce comprometido. Foi às boxes e tentou recuperar o tempo perdido, mas não conseguiu mais que o terceiro posto, atrás de Alain Prost e Gerhard Berger.
Claro, nem tudo foi mau. Continuava a liderar o campeonato, mas em rermos de vitórias naquela temporada, era um empate. Quando tinha tudo para sair dali como vencedor. Os fãs tiveram de esperar mais um ano, e em circunstâncias épicas, para verem o seu sonho realidade.
1 comentário:
Estava lá eu na empolgação da volta da F1 a Interlagos, tinha acompanhado as obras de remodelação e tudo. Quando no GP, estava na saida da curva do Sol, que era tranquilamente de Senna, surge não um retardatário (Nakagima), mas a impaciencia. Ela que na maioria dos casos deu certo e ele ultrapassava impiedosamente e as vezes perigosamente tambem, desta feita tornou o podium ocupado no seu degrau mais baixo e adiado um 1 ano sua tão esperada vitória em casa
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