segunda-feira, 12 de outubro de 2020

A imagem do dia


Nos bilhetes das corridas no Reino Unido - e se calhar no resto do mundo - está a impressa a frase "Motorsport is Dagerous". Lembra-nos que, apesar de todas as tecnologias presentes, das distancias de segurança, das proteções que existem dentro e fora dos carros, nas curvas dos circuitos, das redes, dos "guard-rails", dos "roll-cages" e tudo o mais, não há nada cem por cento incólume. Basta um carro a ir demasiado depressa, ou ter o supremo dos azares, para tudo correr mal. A eliminação da morte no automobilismo é uma impossibilidade, apesar de todos os nossos esforços em diminui-la. Fazemos bem isso, mas por vezes, escapa. E quando a Morte ataca no desporto que mais gostamos, ficamos desolados. 

E no meu caso em particular, foi num rali ao pé da minha casa. As circunstâncias foram as seguintes: o carro veio demasiado depressa numa classificativa no meio de um pinhal, num lugar onde outro carro se tinha despistado e embatido de traseira contra um tronco bem grosso de pinheiro. No caso fatal, bateu de lado, precisamente onde estava a navegadora, uma garota espanhola de 21 anos, Laura Salvo de seu nome.

O acidente mortal dela fez lembrar eventos de há dois anos e meio, na mesma edição, com o Carlos Vieira. Foi numa classificativa semelhante, e ele levou com a pior parte. Felizmente, sobreviveu para contar a história, mas demorou muito tempo até poder voltar a correr, e não mais regressou a um rali, dedicando-se à velocidade, em Clássicos. Mas, por acaso, nesse ano de 2018, estive na véspera, no parque fechado, numa "visita de médico" e ainda tive tempo para ver partir alguns carros. Vieira era o primeiro nesse rali, e não sei porquê, passou-me algo que fez arrepiar a minha espinha. Uma hora depois, quando cheguei a casa e liguei o rádio online para seguir a prova, estavam já a noticiar o acidente - tinha sido logo na primeira especial.

O impacto do acidente mortal da garota foi longe. A Fabrizia Pons, navegadora de pilotos como Michelle Mouton e Piero Liatti, referiu ela na sua página do Facebook, mostrando que as más noticias voam velozmente, quase instantaneamente, pelo mundo inteiro. E o rali mais próximo da minha casa foi noticia pelas piores razões, lembrando os eventos de 2018.

Sei que as pessoas podem dizer que "morreu a fazer o que mais gostava", mas na minha mente, tenho mais a ideia de que nesta comunidade de pilotos, navegadores, mecânicos, engenheiros, elementos da organização, jornalistas e até simples adeptos, qualquer perda é quase como se morresse um familiar nosso. E é o que sinto e senti neste final de semana. E isso me faz pensar que, apesar da busca pela perfeição ser um quase absurdo, uma caçada aos gambuzinos, temos de o fazer para o nosso bem. 

Porque todos nós queremos que tudo isto não seja em vão.

Os meus sentimentos para os seus parentes e restante familia. Só posso pedir aos deuses para que a terra lhe seja leve e que no final, reste a saudade de alguém que foi embora demasiadamente cedo.

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