quarta-feira, 2 de junho de 2021

O caso do automobilismo em TV aberta


Automobilismo em sinal aberto é algo cada vez mais raro. A tendência que começou no inicio desde século é agora imparável e praticamente nenhum país da Europa transmite a Formula 1 em sinal aberto. É tudo através de sinal fechado, onde mesmo tendo TV por cabo, a pessoa paga mais um extra para poder ver manifestações desportivas, sejam elas futebol, sejam elas automobilismo ou outras modalidades. Dinheiro manda, e os clubes estão muito dependentes desse dinheiro vindo das televisões para manter plantéis cada vez mais caros, numa obsessão para ultrapassar a concorrência.

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Contudo, subitamente, por estes dias, dei por mim a ler um artigo no site racefans.net, da autoria do Dieter Rencken, um dos mais respeitados jornalistas de automobilismo da atualidade, em que defende o regresso da Formula 1 em TV aberta. Ou seja, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Itália deveriam voltar a transmitir a modalidade para o público em geral. O artigo, publicado no passado dia 5, fala sobre a crescente "afunilação" da audiência, no sentido de captar aqueles que são realmente fãs e estão dispostas a pagar por isso, e por causa disso, desde 2018, quando tiveram 490 milhões de visualizações, as audiências no Reino Unido desceram para metade do que tinham antes. Agora, em 2020, foram 433 milhões, ao que não é alheio a temporada parcialmente cancelada devido à CoVid-19. E noutros lados, foi ainda pior: em Espanha, por exemplo, caíram 75 por cento, ao que não é alheio a saída temporária de Fernando Alonso da Formula 1.

E sem audiência, os patrocinadores não estão muito interessados em colocar o seu nome em algo que é visto por uma elite, ou como disse certo dia Bernie Ecclestone, "os velhos de 70 anos com Rolexs no pulso"

No inicio de 2020, Scott Young, então o diretor da Sky UK, falava que o contrato assinado entre eles e a Liberty Media iria custar nos próximos a exuberante quantia de 1,18 biliões de libras (1,53 biliões de dólares) até 2024, ou se quiserem, 255 milhões de libras por temporada. Isso representa um terço das receitas televisivas que a Liberty Media recebe por ano, cerca de 750 milhões, dos quais 450 milhões vão para as equipas, que distribuídas por dez, calham 45 milhões cada uma. O resto, 300 milhões, vão para os cofres da Liberty.

A ideia do "free-to-air" que Rencken defende passa nem tanto para a devolução desses direitos para os canais de televisão, como acontecia até ao final do século passado - e ele reconhece que não há muito que possa ser feito antes de 2025, sem que se quebre contratos - mas mais para plataformas digitais como o Youtube, que fez um acordo no ano passado para a transmissão do GP de Eifel através do seu "streaming", em alguns países europeus. É verdade que hoje em dia, pode-se pagar um pequeno valor mensal, através da F1TV, para poder ver as corridas nas plataformas digitais - celular, PC portátil - e numa altura em que as equipas concordaram em reduzir as suas despesas, colocando um teto salarial em termos de orçamentos e salários dos pilotos, alguns dos mais caros da modalidade, com a Liberty Media a ter mais lucros que o esperado, poderia ser mais ousada e menos gananciosa, abdicar de parte dos lucros em troca de maior visibilidade, e assim teria mais publicidade e uma renovação da audiência.

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Na Europa, as transmissões televisivas são desde há muito pertencentes aos canais por cabo com assinatura. Mesmo lugares como a Grã-Bretanha e a Alemanha já transmitem as corridas não para o público em geral, mas para aqueles que estão dispostos a pagar um extra para ver toda uma temporada. Mas recentemente, começou-se a falar sobre a ideia de regressar aos canais por cabo acessíveis para todos. Uma ideia que começa a ganhar algum terreno, mas numa altura em que a Liberty Media está a fazer um grande investimento nas redes sociais, com muito sucesso - e também não é alheio o sucesso da série "Drive to Survive", que passa na Netflix - o regresso ao sinal aberto não prece que esteja nos planos de ninguém, nem nas televisões, nem na própria Liberty Media.

Isto e muito mais podem ser lidos este mês no Nobres do Grid.  

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