Eu posso falar muita coisa sobre a Red Bull, Max, "Checo" e a atitude de Helmut Marko em relação aos seus pilotos. Mas acho que são os menos culpados desta situação. O que posso falar, porém, é a atitude de uma Internet que deseja sangue, não tem perdão sobre humanos, e que, se tivesse poder de decisão, há muito que ele estaria não só despedido, mas morto.
As redes sociais são mais do que um caixote do lixo que destrói a mente das pessoas, são um escape à frustração das pessoas. Não direi que são mesquinhas, mas exalam mesquinhice, e exigem algo que é quase impossível. Desejam sangue. Se o Helmut Marko despediu o Nyck de Vries, depois de não ter pontuado - num carro horrível, diga-se - então, porque exigir que faça o mesmo ao atual terceiro classificado do campeonato, que tem as únicas vitórias não alcançadas por Max Verstappen nesta temporada? Há uma mistura de muitas coisas: frustração, desejo de ver "o mundo a arder", de uma certa forma, a atitude de "treinador de futebol", do género "se não o esmagas em cinco corridas, estás despedido", ou então porque querem "trollar", por outras palavras, pura anarquia.
Por estes dias, troquei impressões com o Rafael Lopes, jornalista da Globo, que tem o blog Voando Baixo. Ele afirmou que anda a largar aos poucos o Twitter, que como sabem, está numa espécie de turbulência, especialmente desde que chegou o seu novo proprietário, Elon Musk. A atitude de muita dessa gente, vinda de Silicon Valley, é que a liberdade está acima de tudo. E essa "liberdade" significa uma espécie de anarco-capitalismo. Porque digo isto? Porque acha que essa liberdade não pode ter qualquer moderação, logo, alguém que vá para a sua rede social exalar mensagens de ódio contra minorias sexuais, étnicas, de género ou então, contra qualquer oposição à sua crença, está no seu direito, mesmo que vá contra o bom senso.
"Odeia pessoas? OK, desde que não ande na rua a andar aos tiros". O problema nem é isso: em casos extremos, até já fizeram "lives" de gente a andar aos tiros contra mesquitas (estou a lembrar da mesquita em Cristchurch, na Nova Zelândia, que matou 51 pessoas) e as redes sociais resistem a pedidos para a moderação. E Musk já decidiu apoiar pessoas que foram bloqueadas anteriormente na sua rede social por mensagens de ódio.
Em resumo: as redes sociais não querem mexer nisto. E claro, as pessoas tomam atitudes. Uma minoria decidiu já desligar-se das redes sociais, de forma permanente, porque acham que se transformaram numa fosse séptica. E regressando à Formula 1, o Rafael disse-me que anda a desligar-se, em nome da sua saúde mental. Eu já o aconselhei a acabar com a sua conta no Twitter e ir para outro lugar onde haja uma moderação eficaz.
Regressando à Formula 1 e aos que aplaudiram o acidente de Pérez nesta manhã: estou convencido que lido com gente doente. É um espelho da nossa sociedade. Um bando de frustrados com a vida que decidem desabafar sobre isto e aquilo, achando que a melhor coisa que fazer é tentar quebrar alguém, fazendo má publicidade até que haja aquilo que desejam. Neste caso em particular, que o Helmut Marko despeça "Checo" Pérez, de preferência... "ontem". E se o segundo lugar da Red Bull for o segundo pior lugar da terra depois do vulcão que está a explodir na Islândia, melhor ainda. Queremos "ação", nem que seja para ter motivo de conversa entre amigos, num fórum qualquer, para defender os seus - distorcidos? - pontos de vista.
E no meio disto tudo, esquecem-se que há humanos. Que destroem vidas e carreiras. E não se importam porque "são ricos e eu não sou". Bem me tinham avisado que a estupidez é infinita, mas não tinha ideia de até que ponto a sociedade está muito doente. E pior: os gatekeepers sabem que podem moderar isto, e não querem. Temos de ser nós a tomar a atitude.
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