segunda-feira, 19 de agosto de 2024

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Em 1971, entre os montes de vales de Spielberg, no centro dos Alpes austríacos, acontecia o GP da Áustria, numa pista ultra-veloz e moderna. No fundo de uma grelha que tinha o suíço Jo Siffert na pole-position, um jovem de 22 anos tinha alcançado o topo automobilistico... pagando para entrar. Tal como um seu compatriota e amigo. Ele pagara cerca de 3500 dólares do seu bolso para ter esse lugar por um Grande Prémio, preparando-se para a temporada seguinte, onde iria arranjar muito dinheiro para isso. 

O seu amigo... tinha outros contactos, um bom patrocínio e até tinha ganho uma corrida importante uns meses antes, ao correr pela equipa de fábrica. Ambos alinharam não muito longe um do outro, no final da grelha, e o melhor que conseguiram foi um 11º lugar, a duas voltas de Siffert, o vencedor. 

Para uma Áustria ainda órfã de Jochen Rindt, ainda eram "verdes". Estes jovens pilotos eram Niki Lauda e Helmut Marko. Marko, que em junho tinha ganho as 24 Horas de Le Mans num Porsche, não iria ter uma grande carreira na Formula 1: em junho do ano seguinte, em Charade, uma pedra iria atingi-lo na viseira e perderia a visão do olho esquerdo. 

Lauda teve mais persistência. Pagou para correr, mas tinha uma visão inabalável do que estava a fazer. E depois de ter gasto mais de 85 mil dólares para correr na March e BRM, nas duas temporadas seguintes, conseguiu chegar à Ferrari e consagrar-se como um dos melhores pilotos da sua geração. 

Mas até 1984, nem Lauda, nem Marko, nem sequer Jochen Rindt tinham conseguido isto: vencer na sua própria terra. E era essa a história no dia em que a Formula 1 chegava ao seu 400º Grande Prémio. 

E a corrida foi... estranha. Pelo menos, à partida. Com Nelson Piquet na pole-position, no seu Brabham, a corrida começou com os semáforos algo descontrolados. Primeiro, de verde, passou para amarelo, depois verde, e regressou ao vermelho. Pelo menos, era isso que Lauda afirmava aos comissários. Alguns carros ficaram momentaneamente parados, antes de arrancarem. Ayrton Senna, por exemplo, partiu de décimo para ser quarto na primeira curva. Resultado? Bandeira vermelha, repetição da partida. 

Na segunda largada, os McLaren arrancaram mais fortes que Piquet, que aparentemente, ficou a "patinar", a para trás. Mas o brasileiro recuperou e passou Lauda e Alain Prost, para ficar com o comando, porque existia um duelo entre companheiros, e se um deles não terminasse, era importante nas contas do campeonato. 

Prost desistiu na volta 28, despistando-se numa das curvas, e Lauda era segundo, atrás de Piquet. Mas pouco depois, a caixa de velocidades do austríaco tinha ficado sem a quarta velocidade, essencial numa pista veloz como aquela. Lauda pensou em desistir, mas quando descobriu que tinha a terceira e a quinta, prosseguiu adiante, e conseguindo apanhar Piquet na volta 39, rumando para uma vitória que acabaria por ser histórica. Afinal, Lauda, que ia a caminho de um eventual terceiro título, e com inúmeros títulos e vitórias históricas, nunca tinha ganho na sua terra.  

E na grelha, havia mais dois austríacos. E tal como em 1971, um deles se estreava ali: Gerhard Berger, tripulando o segundo ATS-BMW. O outro era Jo Gartner, no seu Osella-Alfa Romeo. 

Curiosamente, Lauda em 1984 ainda é a única vez que um austríaco triunfou na sua terra natal. Acontecerá no futuro, só se espera que estejamos vivos para assistir. 

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