O realizador americano
Sidney Pollack, que fez filmes memoráveis como "
Os Cavalos Também se Abatem", "
Africa Minha", "
Tootsie" e "
A Tradutora", entre outros, morreu esta madrugada em Los Angeles, vitima de cancro. Tinha 73 anos.
Filho de imigrantes judeus vindos da Rússia, Pollack nasceu a 1 de Julho de 1934 em Lafayette, Indiana. Filho de farmacêutico e de uma mãe alcoólica, que morreu quando Pollack tinha 16 anos, pouco tempo depois dos pais se terem divorciado.
Pollack foi para Nova Iorque em 1952 para estudar no Nighbourhood Playhouse, com o objectivo de se tornar actor, mas pouco tempo depois começou a produzir e realizar, primeiro files para televisão, nomeadamente episódios de séries icónicos como "Alfred Hitchcock Apresenta" e "O Fugitivo". Em 1966 ganhou um Emmy, e dois anos depois destaca-se no cinema com o filme "Os Cavalos Também se Abatem", com Jane Fonda e Gig Young, onde retrata um concurso de dança durante a Era da Depressão, e onde se mostram os poucos escrúpulos que os concorrentes tinham que fazer para conseguirem o prémio. O filme foi um exito, e Pollack conseguiu aqui a sua primeira de três nomeações para melhor realizador.
Na
edição de hoje do Jornal Público, um excerto conta como ele se tornou realizador, graças a
Burt Lancaster: "
Eu passava o tempo a tentar esconder-me e desaparecer da vista dele. Mas o Lancaster não me largava. Gozava comigo, tentava envergonhar-me à frente de toda a gente – ele era uma grande estrela, um homem que metia medo. Mas começámos a falar, ele interessou-se por mim e quando as filmagens terminaram chamou-me ao escritório dele e perguntou: 'Porque é que andas a tentar ser actor? Devias ser realizador’.”
Lancaster tinha amigos influentes e apresentou-o Lew Wesserman, na altura um dos maiores operadores da indústria do entretenimento. Pagava 75 dólares por semana para Sydney Pollack ficar calado a ver como se fazia. Depois entregou-lhe a série televisiva Shotgun Slade para ver como é que ele se saía – saiu-se tão bem que deixou de ser actor (mas não para sempre). “
Eu sabia que nunca ia ser um grande actor. Com a minha cara, ia ser sempre o amigo do amigo”.
Pollack, para muitos, era um realizador do "Star System" de Hollywood. Mas mesmo nos conturbados anos 70, altura dos "movie brats" como Martin Scorcese, Francis Ford Copolla, Peter Bogdanovich ou Steven Spielberg (antes do Tubarão) dominavam a industria, Pollack conseguia fazer filmes que agradassem à industria, mas à sua maneira, como "O Nosso Amor de Ontem" (1973) ou "Os Três Dias do Condor" (1975), ambos com Robert Redford no principal papel.
Em suma, subvertia o sistema a partir de dentro: "Quando se tem uma carreira como a minha, tão identificada com Hollywood, com os grandes estúdios e as grandes estrelas, é inevitável que uma pessoa se pergunte se não devia ir à sua vida e fazer aquilo que o mundo considera filmes pessoais. Mas eu acho que enganei toda a gente. Eu sempre fiz filmes pessoais – só que os fiz noutro formato.” afirmou numa entrevista em 1993 ao jornal inglês The Guardian.
Apesar de realizar filmes, nunca perdeu a oportunidade de ser actor. A sua entrada no filme "Tootsie" (1982) foi sugestão do protagonista,
Dustin Hoffman, que tinha desaguisados com o próprio Pollack, e discutiam constantemente. Nesse filme, que lhe deu a sua segunda nomeação como realizador, Pollack era o agente de Hoffman, um actor desempregado de nova Iorque, que se travestiu de mulher para arranjar emprego e consegue ter um sucesso televisivo inimaginável, as duscussões com Pollack iam para além da interpretação...
Três anos depois, e de novo com Redford, filma "
Africa Minha", a história da escritora dinamarquesa Karen Blixen nos planaltos do Quénia. O filme deu-lhe, por fim, os ambicionados Oscares de Melhor Filme e Melhor Realizador. Continuou a fazer bons filmes, mas a partir da década de 90, concentrou-se mais na sua carreira de actor. Foi assim que participou em filmes como "
De Olhos bem Fechados" (1999), o último filme de
Stanley Kubrick, ou em "
Michael Clayton - Uma Questão de Consciência" (2007), contracenando com
George Clooney.
Nesse ano, quando dirigiu um docimentário sobre o arquitecto Frank Gehry, Pollack comparou-se a ele, diametralmente oposto em termos de personalidade: "Nunca teria tido a coragem de fazer no cinema o que o Gehry faz na arquitectura. Ele quebrou todas as regras, eu sou muito mais cobarde. Não me considero um realizador vanguardista, nem sequer um realizador particularmente original. Nunca pensei que ia reinventar o cinema.”
Não o reinventou, mas deixou a sua marca. Ars lunga, vita brevis.
1 comentário:
http://www.f1nostalgia.blogspot.com/
Voltei professor!
saudações soviéticas
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