quinta-feira, 5 de março de 2009

Bólides Memoráveis - Onyx ORE-1 (1989-90)

A história deste carro confunde-se com a história da própria equipa. E nela envolve pessoas competentes e um milionário excêntrico, de origem belga, que se proclamava “anarquista”, mas no final foi preso por fraude, apesar de ter evitado isso… fundando o seu próprio partido, para assim obter imunidade parlamentar!


Mas a história deste chassis confunde-se com a da própria Onyx, um projecto de Mike Earle (na foto) que tem raízes no final da década de 70. No final de 1978, Earle e Greg Field fundaram a Onyx, com o objectivo de correr na Formula 2, com os seus próprios chassis, mas foi um fracasso. Três anos depois, em 1981, Earle era bem sucedido na categoria, com o italiano Riccardo Paletti e o venezuelano Johnny Ceccoto, e começam a planear o salto para a Formula 1. Em 1982, inscrevem um March para o espanhol Emílio de Villiota, e Earle queria projectar um chassis próprio para 1983, com Paletti ao volante.


Mas a morte do italiano, na partida do GP do Canadá, fez adiar os planos. Continuam na Formula 2 que a partir de 1985 se transforma em Formula 3000, e em 1987, alcançam sucesso com o piloto italiano Stefano Modena. As coisas em 1988 não foram boas, mas Mike Earle já tem a ambição de passar para o nível seguinte: a Formula 1.


Com o financiamento inicial de Paul Shakespeare, Earle contrata Alan Jenkins, ex-projectista na McLaren e Penske, para desenhar aquilo que veio a ser o Onyx ORE-1, que teria motores Cosworth V8 e calçaria pneus Goodyear. Entretanto, outro financiador apareceria em cena, através de um dos pilotos que contratam, o belga Bertrand Gachot: Jean-Pierre Van Rossem, o milionário fundador da Moneytron, também de origem belga, um economista de aparência excêntrica, que se auto-proclamava como “anarquista”. Anarquista ou não, tinha na altura uma fortuna pessoal avaliada em 800 milhões de dólares!


Segundo me conta o Germano Caldeira, do Blog 4x4, Van Rossem "comprou" a maioria das acções da equipa da seguinte forma: pegou nos dois milhões de dólares da equipa, multiplicou-os por quatro vezes e meia, através do esquema Moneytron, até alcançar os 9 milhões de dólares. Entretanto, Earle contratava um misto de experiência e juventude. Para além de Gachot, contratavam o sueco Stefan Johansson. Tudo tratado, agora a equipa tinha na frente uma tarefa colossal: tentar levar o seu carro para uma grelha de 26 carros, num ano onde se tinham inscrito um “record” de 39 carros!


Não era fácil, nessa altura, tentar passar as manhãs pré-qualificativas. E nas primeiras três corridas do ano, não o conseguiram. Até que na corrida do México, a sorte muda e Stefan Johansson consegue o primeiro feito da equipa, ao se qualificar na 21ª posição da grelha, acabando a corrida na volta 16 com um problema de transmissão. O sueco repete a proeza em Phoenix e no Canadá, embora nessa corrida, tenha acabado desclassificado, devido a uma infracção nas boxes.


Por esta altura, o “paddock” da Formula 1 conhecia Van Rossem e as suas excentricidades. Comprava um avião Gulfstream para ele, e atraía as atenções pelas suas declarações. Mas por agora, as coisas estavam bem. E melhor ficariam no GP de França, onde Johansson e Gachot finalmente punham os seus carros na qualificação, e conseguiram passar para a grelha definitiva, num surpreendente 11º (Johansson) e 13º lugares (Gachot). E no final dessa corrida, o sueco chegava na quinta posição, conseguindo os primeiros pontos para a equipa. Esses dois pontos dariam, em teoria, o passaporte para saírem do inferno das sextas-feiras de manhã, mas em Silverstone, os piloros da Minardi, Pierluigi Martini e Luís Perez-Sala, conseguiram três pontos e assim, a Onyx teria de passar de novo pelo inferno da pré-qualificação.


Contudo, esta segunda fase foi mais calma do que a primeira, embora tenha sido Johansson a levar mais vezes o carro para a grelha do que Gachot. Entretanto, Van Rossem fazia das suas: por fora, dizia que queria contratar pilotos de topo para a equipa, e que iria gastar 40 milhões de dólares para, alegadamente, desenvolver o motor Porsche V12 durante três anos. Mas em privado, estava a ver que a aventura da Formula 1 estava a sair-lhe cara demais e começava a pensar se valeria a pena pagar as contas da equipa…


Então, Van Rossem começou a dizer que a sua aventura iria acabar se não conseguisse os motores Porsche V12 que tanto desejaria. A ideia era de conseguir, por meios estranhos ao comum dos mortais, que atraísse um construtor de topo para financiar a sua equipa. Não conseguindo, teria um pretexto para sair da equipa que não pela falta de dinheiro, ou pelas contas que começava a deixar de pagar, ou então pela fuga ao fisco que as autoridades fiscais belgas começavam a descobrir…


Enfim, enquanto que isso acontecia, na equipa, Bertrand Gachot começava a queixar-se de não lhe darem tantas oportunidades de testar quanto o sueco. A conversa foi parar ao domínio público, sem o conhecimento de ninguém (nem do próprio Gachot), mas foi despedido, e substituído no Estoril pelo finlandês Jyrki Jarvi (J.J) Letho. Ele não se qualificou, mas o seu companheiro Johansson fez a corrida da sua vida, ao decidir correr com um só jogo de pneus, e levou o carro ao terceiro lugar final, levando a Onyx ao pódio pela primeira (e única vez) na sua história. Para Johansson, era o seu último resultado de relevo na sua carreira.


Com seis pontos no campeonato, e o décimo lugar no Mundial de Construtores, parecia que as coisas correriam melhor em 1990. Puro engano: Van Rossem retira-se no final da temporada, e vende as suas acções. Mike Earle e Greg Field saem, e Alan Jenkins fica a cuidar da equipa. Quem fica agora com ela são dois suíços com dinheiro: o ex-piloto, construtor e coleccionador Peter Monteverdi (na foto) e Karl Foitek, pai de Gregor Foitek, que claro, vai para a equipa após o GP do Brasil, depois de Stefan Johansson ter sido despedido, pelo facto de ter começado a pedir... aquilo que a equipa devia. J.J. Letho fica na equipa, onde vão conseguindo qualificar-se para as corridas, e onde Gregor Foitek fica à porta dos pontos no Mónaco, numa corrida onde acabam… oito carros.


Por essa altura, já o chassis tinha sido melhorado, virando o ORE-1B, mas isso não fazia com que melhorasse a situação da equipa, que estava agora num verdadeiro caos. Earle e Chamberlain tinham voltado, mas zangas com Jenkins fizeram com que este saísse da equipa, e mais tarde foi o próprio Earle a sair. Para piorar as coisas, Monteverdi (que tinha convencido a equipa a mudar o nome), não fazia qualquer ideia de como dirigir uma equipa de Formula 1, e as coisas cedo caíram num caos absoluto. Após o GP da Hungria, Foitek sénior saiu de cena, as dívidas acumularam, e a Onyx pura e simplesmente saiu de cena.


Quanto a Van Rossem e Monteverdi: o primeiro fundou um partido em 1991, numa tentativa para fugir ao processo em tribunal por fuga aos impostos. Conseguiu ser eleito deputado, mas pouco tempo depois, o próprio parlamento belga levantou-lhe a imunidade parlamentar, para poder cumprir a pena de cinco anos de prisão por evasão fiscal. Não sem antes ter gritado “Viva a República!” na cerimónia de juramento do novo rei Alberto II, em Agosto de 1993. Peter Monteverdi continuou a cuidar do seu museu até á sua morte, em 1998.


Chassis: Onyx ORE 1
Projectista: Alan Jenkins
Motor: Ford Cosworth HB V8 de 3,5 Litros
Pilotos: Stefan Johansson, J.J Letho, Bertrand Gachot e Gregor Foitek
Corridas: 26
Vitórias: 0
Pole-Positions: 0
Voltas Mais Rápidas: 0
Pontos: 6 (Johansson 6)


Fontes:


http://en.wikipedia.org/wiki/Onyx_(racing_team)
http://www.f1rejects.com/teams/onyx/index.html
http://grandprix.com/gpe/con-onyx.html

4 comentários:

Ovi disse...

Interesante artículo, gracias por seguir informandonos con estos grandes articulos, un saludo.

Germano disse...

O Gachot que "apresentou" o Van Rossem à Onyx...e o Van Rossem se tornou "dono" da Onyx da seguinte forma, pegou 2 milhões (que a equipe havia juntado) e multiplicou com o Moneytron, transformando em 9,5 milhões de dólares

O Gulfstream era dele, mas ele pôs à disposição da Onyx na época (nem a McLaren tinha um)

Quanto aos motores, ele estava de olho nos TAG-Porsche, mas queriam 40 milhões para desenvolver um em três anos, e Van Rossem estava interessado em fornecimento grátis (parceria), tipo McLaren-Honda, Williams-Renault (na época)

Speeder76 disse...

Germano:

Alguns desses factos são interessantes, especialmente essa de ter sido o Gachot a apresentar o Van Rossem à equipa. E quanto à Moneytron, pelo que andei a ler, é quase um tipico esquema piramidal, ao bom estilo Madoff (para usar o nome mais infame da alta finança actual...) Mas deu lucro à equipa!


Quanto à Porsche, acho até que eles se safaram de boa, porque os V12 que a Arrows acabou por ficar em 1991, tornaram-se num desastre (eram pesadissimos e pouco potentes), e eles tiveram que ir buscar à pressa os Cosworth...

Anónimo disse...

Olá amigo Speeder,

parabéns pelo post, realmente ótimo.
Esse carro é da mesma categoria do Jordan 191, carros bons e baratos... praticamente a antitese da receira da Ferrari no início dos ano 90: carros vermelhos carissimo e frageis

Um abraço