Cada um tem as suas recordações de infância. Uma das minhas, naquelas tardes algures em meados da década de 80, após o meu establecimento definitivo em Portugal, era de ver os desenhos animados apresentados por um tal de Vasco Granja, um senhor muito simpático, com óculos fundo de garrafa, e que fazia explicações aborrecidas sobre os filmes que íamos ver, vindos de paragens desconhecidas, muitas das vezes inexplicáveis para a mente de uma criança como a minha, na altura. Mas na minha ingenuidade de então, desconhecia que estava a ver autênticas obras-primas do cinema de animação, de pessoal como Tex Avery ou Norman McLaren, para além dos intraduzíveis desenhos animados vindos da então Cortina de Ferro, como a Polónia ou a Checoslováquia.
Mas no final, colocava um desenho dos Looney Toons ou da Pantera Cor de Rosa, para entreter os mais novos, consciente, talvez, que nem todos os que viam o seu programa entendiam o que falava ou o que mostrava. Mas também não seria um daqueles inocentes. Quem conhece esses desenhos animados, sabe que o sarcasmo é norma…
Esse senhor, Vasco Granja, foi o homem que mais fez pela divulgação da banda desenhada em Portugal. Morreu esta madrugada, na sua casa de Cascais, aos 83 anos, vitima de complicações derivadas da Doença de Alzheimer.
Na sua elegia que li esta tarde no jornal “Público”, desconhecia que o termo “banda desenhada”, que designa os "comics" em Portugal, tinha sido cunhada por ele, num artigo do Diário Popular de 1966. Uma expressão feliz, que creio que vai ser a mais duradoira. Mas há mais, muito mais. Nascido a 10 de Julho de 1925, não frequentou qualquer universidade, trabalhou sempre, primeiro nos Armazéns do Chiado, passando pela Tabacaria Travassos e acabando na Livraria Bertrand até à reforma, em 1990. Era ligado ao Partido Comunista Português, e por causa disso, foi preso por duas vezes durante o Estado Novo, primeiro em 1954 e depois em 1963.
Sendo sempre um homem de letras, descobre o cinema de animação em 1958, quando começa a ver os filmes experimentais do canadiano Norman McLaren. Dez anos depois, colabora na versão portuguesa da revista “Spirou”, e em 1978, ajuda a fundar a primeira livraria especializada em Portugal, “O Mundo da Banda Desenhada”.
Mas no final, colocava um desenho dos Looney Toons ou da Pantera Cor de Rosa, para entreter os mais novos, consciente, talvez, que nem todos os que viam o seu programa entendiam o que falava ou o que mostrava. Mas também não seria um daqueles inocentes. Quem conhece esses desenhos animados, sabe que o sarcasmo é norma…
Esse senhor, Vasco Granja, foi o homem que mais fez pela divulgação da banda desenhada em Portugal. Morreu esta madrugada, na sua casa de Cascais, aos 83 anos, vitima de complicações derivadas da Doença de Alzheimer.
Na sua elegia que li esta tarde no jornal “Público”, desconhecia que o termo “banda desenhada”, que designa os "comics" em Portugal, tinha sido cunhada por ele, num artigo do Diário Popular de 1966. Uma expressão feliz, que creio que vai ser a mais duradoira. Mas há mais, muito mais. Nascido a 10 de Julho de 1925, não frequentou qualquer universidade, trabalhou sempre, primeiro nos Armazéns do Chiado, passando pela Tabacaria Travassos e acabando na Livraria Bertrand até à reforma, em 1990. Era ligado ao Partido Comunista Português, e por causa disso, foi preso por duas vezes durante o Estado Novo, primeiro em 1954 e depois em 1963.
Sendo sempre um homem de letras, descobre o cinema de animação em 1958, quando começa a ver os filmes experimentais do canadiano Norman McLaren. Dez anos depois, colabora na versão portuguesa da revista “Spirou”, e em 1978, ajuda a fundar a primeira livraria especializada em Portugal, “O Mundo da Banda Desenhada”.
Por essa altura, Vasco Granja já tinha o seu programa na RTP. Começou em 1974, pouco depois do 25 de Abril, e durou até 1990, altura em que se reformou. Teve mais de 1000 emissões e divulgou sistematicamente as grandes escolas internacionais do género, influenciando toda uma geração de jovens e crianças, sendo o grande divulgador da Banda Desenhada em Portugal. Para mim, que fiz parte dessa geração que cresceu com Vasco Granja, este deve ter sido o seu maior legado. Ars lunga, vita brevis. Ou então, neste caso em particular, caro Vasco... Koniec!
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