No regresso desta rubrica, começo com uma personagem que conheci no inicio do ano, e que ao longo deste pouco tempo de vida do seu blog, já se tornou numa referência. Bruno Santos, um jovem estudante de Engenharia Quimica com 22 anos de idade, é o mentor do F1 Database, que trata do passado do automobilismo. Admirador de Jackie Stewart e Rubens Barrichello, Bruno fala sobre o assunto de forma desapaixonada quando se trata da actualidade, mas em relação ao passado, traz testemunhos que quase ninguém se lembra, mas que são valiosos para todos, numa forma que nos faz lembrar Daniel Médici, do blog Cadernos do Automobilismo. E não tem pretensões a ser jornalista!
1 – Olá, é um prazer ter-te aqui, neste humilde blog, a responder às minhas perguntas. Queres explicar, em poucas linhas, como surgiu a ideia do teu blogue?
Primeiramente é um prazer também para mim participar da entrevista. Sobre o blogue, eu sempre gostei de Fórmula 1 mas não era um profundo conhecedor do assunto, principalmente das décadas passadas. Então criei um lugar onde eu possa dividir as coisas que aprendo recentemente. Tive três outros blogues que eu sempre visitava e que me serviram de inspiração, o Continental Circus, o F1Nostalgia e o GP Séries.
2 – O nome que ele tem, foi planejado ou saiu, pura e simplesmente, da tua cabeça?
O nome foi algo engraçado. Eu queria um que refletisse a idéia do meu pequeno projeto. Entre muitas tentativas e procurando algum que não tivesse sendo usado entre outros blogues em português, escolhi F1DataBase. Hoje confesso, acho que me faltou um pouco de criatividade, mas na hora que o escolhi, achei o máximo (risos).
3 – Antes de começares este blog, já tinhas tido alguma participação em outros blogues ou sites?
Eu acompanhava alguns blogues, mas nunca fiz nenhum comentário. Depois de um tempo, comecei a ficar compulsivo pelo assunto e em alguns blogues as visitas se tornaram diárias.
4 – Em que dia é que começaste, e quantas visitas é que já teve até agora?
Comecei em um sábado, dia 15 de Fevereiro deste ano. Tenho pouco mais de 4000 visitas. Um número que até me surpreende.
5 – De todos os posts que já escreveste, lembras-te de algum que te orgulhe… ou não?
Eu sinto algo diferente. Sempre o próximo post que vou publicar é o que mais gosto e fico naquela boa expectativa. Vou tentar listar meus três preferidos: o primeiro é o acidente do Jack Brabham em Monaco na última volta e nas últimas curvas, que deixou a vitória para o Jochen Rindt em 1970. O segundo, o tributo para o Roland Ratzenberger. Por último, sobre os acidentes de Didier Pironi e Gilles Villeneuve em 1982 e a visão de Nelson Piquet sobre o carro da Ferrari naquela trágico ano. Recomendo a leitura destes três.
6 – Em que é que tu, escrevendo sobre Formula 1, consegues ser diferente dos outros blogs?
Sinceramente eu tenho um problema sério com textos. Alguns elementos místicos, como vírgulas e pontos, sempre me complicam. Nunca tive o pensamento de fazer algo completamente diferente. Como publico em média um post por dia, tento dar um enfoque diferente para fatos já conhecidos, o que nem sempre é possível, então preciso recorrer aos meus sentimentos para preencher essa lacuna.
7 – Daqueles blogues que conheces sobre automobilismo, qual(is) dele(s) é que tu nunca dispensas uma visita diária?
Todos aqueles listados no meu blogroll, este nomeado carinhosamente como “visita obrigatória”. Abro espaço para falar que com muitos dos blogueiros eu criei inclusive um laço de amizade, acho que é a coisa mais importante desde que criei o blogue. Os outros blogueiros irão me perdoar (espero), mas vou aproveitar para divulgar dois que eu praticamente acompanho desde que foram fundados. O primeiro é do meu amigo Cezar Fittipaldi (http://cezarfittipaldi.blogspot.com/), conta um pouco da sua experiência como piloto e uma visão diferente da Fórmula 1, com relatos perfeitos e muito bem escritos. Outro é da Patrícia Silva (http://newgridgirlf1.blogspot.com/), a garota manda muito bem nas fotos, vale a pena dar uma conferida.
Eu fiz um relato recente em meu blog sobre o tema. A primeira que me lembro de acompanhar e principalmente de entender o que estava acontecendo foi o Grande Prêmio de Monaco de 1992. Eu nos ombros do meu pai, no clube. Acompanhei só o final, com o Nigel Mansell muito próximo do Ayrton Senna, mas sem conseguir espaço para a ultrapassagem. Para mim, uma criança na época, foi a coisa mais legal que eu tinha visto. Começou neste momento a paixão.
9 – E qual foi aquela que mais te marcou?
Muitas me marcaram. Vou escolher uma do piloto que mais torci nesses anos todos, Rubens Barrichello. Na época da equipe Stewart sempre ficava esperando uma ajuda dos céus: a chuva. Mesmo com essa aliada, o brasileiro não conseguiu vencer nenhuma corrida nesse período. A primeira vitória demorou e veio só na Alemanha em 2000, já na Ferrari, de uma forma inesquecível. Simplesmente foi uma mostra do talento do Barrichello e terminou com um jejum de 7 anos sem ouvir o “tema da vitória” na transmissão brasileira.
10 – Fittipaldi, Piquet e Senna. Qual dos três é aquele que mais agrada, e porquê?
Uma pegunta complicada. Impossível comparar, pois os três tiveram uma grande contribuição para o automobilismo nacional. Acho que Emerson poderia ter conseguido mais títulos que os outros dois, mas preferiu apostar no projecto do time próprio, junto com seu irmão Wilson. Ayrton Senna mostrou que vencer era a única coisa que importava e se dedicou incansavelmente para isso. Com um ideal um pouco diferente tem-se Nelson Piquet. Um profundo conhecedor de carros e um talento extraordinário, além claro de seu gênio divertido e sua sinceridade. Se tivesse que escolher um, ficaria com este último.
Felipe Massa cresceu bastante no último ano. Mostrou que está preparado para ser campeão mundial, já é maduro o suficiente. A expectativa foi criada para este ano, mas o carro da Ferrari não saiu como o esperado (ou foram os outros que saíram melhores que o esperado). Ele ainda tem muitos anos na categoria e certamente terá outras chances para brigar pelo título de forma mais directa.
12 – Comparando-o aos três pilotos acima referidos, Massa é mais parecido com quem, e porquê?
Novamente, é difícil comparar. Felipe Massa tem um estilo próprio, não consigo ver muita semelhança com os outros pilotos. O Felipe aprendeu a controlar seu ímpeto, a ser bem mais político em suas respostas e críticas. A não criar uma série de promessas. Mesmo com o povo brasileiro a não ser tão patriótico, é bonito ver um piloto usando um macacão com as cores do país no ponto mais alto do pódio e chorando.
13 – Achas que o título de 2008 foi bem entregue?
Foi bem entregue, apesar que o Felipe Massa estava em um nível tecnicamente superior ao Lewis Hamilton e, também, muito mais maduro e preparado para o título. O britânico teve uma carreira meteórica dentro da categoria, mas acho que ainda falta pontos importantes em sua formação, como acertar bem o carro da McLaren e ajudar no seu desenvolvimento. Além de uma boa dose de personalidade, acho que um pouco de humildade. Dentro da pista, seu talento dispensa comentários.
14 – Tirando os brasileiros, qual é para ti o piloto mais marcante da história da Formula 1, e por quê?
Eu vi o domínio do Schumacher. É impressionante ver os números e feitos que conseguiu ao longo da sua carreira na Fórmula 1. Eu ficava na torcida para o alemão não vencer, para ter emoção nas corridas. Por isso não posso o escolher. Um que eu gosto muito é o Jackie Stewart, três vezes campeão mundial e participou de um período totalmente diferente, marcou o finalzinho da era romântica na década de 70 na categoria. Na pista, seu estilo de condução é incrível e gosto da sua simplicidade também fora delas.
15 – Para além de Formula 1, que outras modalidades de automobilismo que tu mais gostas de ver?
Eu gostaria de ver outras, mas a transmissão em canal aberto aqui no Brasil não conta com muitas opções. Gosto de ver a IndyCar e raramente a StockCar brasileira.
16 – E achas que vale a pena falar sobre ele no teu blogue?
Quando se relacionam com Fórmula 1, sim. Por exemplo, falar sobre os pilotos que venceram na Indy 500 e que também correram na F1. Acho que mais futuramente posso falar de outras categorias, por enquanto acho complicado.
17 – E miniaturas de carrinhos, tens algum?
Eu tinha uma Ferrari, com o número 27. Não me lembro bem dela, meu pai me deu numa época onde brinquedos não duravam muito (risos). Recentemente conheci um blog português, do seu amigo Pedro Costa (http://www.maniadcarrinhos.blogspot.com/). Deu aquela vontade de montar alguns kits e fazer minha colecção. O tempo segue um problema. Talvez seja mais um hobby que deixarei para meus tempos de aposentadoria.
18 – Passando para a actualidade, como tens seguido a actual temporada da Formula 1?
Tenho seguido esta temporada bem de perto. Incrível ver o renascimento do espólio da Honda, principalmente pelo ótimo desempenho nesta temporada. A retirada dos aparatos aerodinâmicos e a volta dos pneus slicks deram um novo visual para a categoria. Foi um passo importante a ser dado, já tivemos boas corridas desde então. Falta só aumentar ainda mais o espírito de competitividade, já que a Brawn GP se mostra muito superior aos outros times.
19 –Agora que a temporada começou, achas que Ross Brawn fez bem em escolher Rubens Barrichello em detrimento de Bruno Senna, na Brawn Grand Prix?
O Bruno Senna terá sua chance ainda na Fórmula 1. Imagino ele nesse carro vencedor da Brawn GP e é impossível supor se o desempenho dele estaria superior ou inferior ao do Barrichello. Este último tem feito um bom trabalho, acerta o carro como poucos pilotos hoje na categoria, mas ainda não consegue bater seu companheiro, o britânico Jenson Button. No lugar do Ross Brawn, eu teria feito a mesma escolha, além do mais, Barrichello merece uma despedida oficial na Fórmula 1.
20 – O que achaste sobre a polémica dos difusores? Era uma forma das outras equipas tentar corrigir o seu mau arranque, ou tinham razão?
Penso assim: se três equipes fizeram o desenho do difusor duplo (Toyota, Williams e Brawn GP e que têm maior vantagem aerodinâmica com o aparato) prova que o regulamento poderia ser interpretado de forma diferente, porque não foi um caso isolado. As outras equipes vendo a diferença de rendimento, primeiro tentaram proibir o difusor mais eficiente, para evitar mais gastos. Como o processo não foi para frente, a única saída foi elaborar seu próprio projeto de difusor melhorado.
Já são quatro vitórias na temporada e o carro segue imbatível. Dentro da equipe, Barrichello ainda não consegue reverter a situação e vencer, então, Jenson Button segue soberano em busca do título, mas ainda não tem nada decidido. Vimos que campeonatos podem ser decididos até a última curva. Espero que apareça novos postulantes ao título e que o campeonato ganhe mais emoção.
22 – Agora temos uma briga entre a FOTA e a FIA, sobre coisas como o sistema de pontuação e os custos controlados na Formula 1. Achas que esta briga será algo parecido com o que aconteceu em 1980, ou poderemos correr o risco de ver uma cisão na Formula 1, como aconteceu nos Estados Unidos?
Primeira que a FIA tem proposto grandes absurdos, o que se agravou nesta temporada. O sistema de pontuação para se definir o campeão seguirá o tradicional, que tiver mais pontos será o campeão, ainda bem. Quanto a briga para reduzir custos, acho extremamente necessário para as equipes atuais e a promoção de novas entradas de outros times. O processo, porém, tem que ser bem gradual, como estava sendo feito. Limitar os gastos e propor uma divisão da categoria é algo extremamente bizarro. Sinceramente acho que não acontecerá a cisão. Fica evidente, falta muito diálogo entre todos os envolvidos na Fórmula 1.
23 - “Correr é importante para as pessoas que o fazem bem, porque… é vida. Tudo que fazes antes ou depois, é somente uma longa espera.” Esta frase é dita pelo actor americano Steve McQueen, no filme “Le Mans”. Concordas com o seu significado? Sentes isso na tua pele, quando vês uma corrida, como espectador?
Uma frase bem forte. Na verdade nascemos com algum dom, uma coisa que faremos de forma apaixonada e muito bem. Podem ser outras coisas, além de pilotar um carro de corrida. Então a frase de McQueen pode ser generalizada para outras situações. Eu sinto uma apreensão e uma vontade que o dia do próximo grande prêmio chegue, não chega a ser prioridade na minha vida, mas faz parte dela. Adoro assistir a uma prova de Fórmula 1.
24 – Já agora, tens alguma experiência automobilística, como karting? Se sim, ficaste a compreender melhor a razão pelo qual eles pegam num carro e andam às voltas num circuito?
Incrivelmente eu não tenho nenhuma experiência com automobilismo. No próximo aniversário deverei quitar esta dívida e andar algumas voltas em um karting. A sensação deve ser incrível e é um sonho que tenho.
25 - Tens algum período da história da Formula 1 que gostarias de ter assistido ao vivo?
Seria legal ter acompanhado a década de 60 e até metade da década de 70.
26 - Já alguma vez viste a briga entre o René Arnoux e o Gilles Villeneuve, no GP de França de 1979? Para ti, aquelas voltas finais significam o quê?
Tenho um espaço em meu blog sobre alguns belos duelos ao longo de quase sessenta anos da Fórmula 1. Pela representatividade e pela plástica esse foi o post inaugural da sessão. A cena representa o sentido de uma prova de automobilismo, a disputa intensa para ficar na frente. Foram momentos de pura mágica e é impossível ficar indiferente.
27 – Jeremy Clarkson, o mítico apresentador do programa de TV britânico “Top Gear”, disse que Gilles Villeneuve foi “o melhor piloto que alguma vez sentou o rabo num carro de Formula 1”. Concordas ou nem por isso?
Gilles Villeneuve mostrou que nasceu para guiar carros de corrida, de tal forma que o fazia com um afinco invejável e digno de aplausos. Tecnicamente não foi o melhor, mas talvez, tenha sido o sonho de qualquer espectador ter uma prova com 20 pilotos no mesmo estilo do Villeneuve, elevando a disputa ao extremo e sempre buscando o máximo. Com certeza é um dos mais marcantes pilotos da história da Fórmula 1 e foi embora muito cedo.
28 - Costumas jogar em algum simulador de corridas, como o “Gran Turismo”, o “Formula 1”, ou jogos “online”, como o BATRacer ou o “Grand Prix Legends”?
Deve ter no mínimo uns seis anos que não chego próximo a um vídeo-game. Joguei por muito tempo o Gran Turismo 2, na minha saudosa infância.
29 – E se fosses o Max Mosley, o que preferias ter na Formula 1? Uma grelha só de montadoras ou de “garagistas”?
Como bom apreciador da Fórmula 1 antiga, os garagistas não podem faltar, até pela paixão sem limites e seus grandes sonhos, vide Sir Frank Williams. Acho que o melhor balanço seria um grid dividido entre garagistas e as grandes montadoras. Melhor, sem grandes disparidades, para proporcionar excelentes disputas na pista.
30 – Vamos falar do futuro próximo: Bruno Senna, Lucas di Grassi, Nelson Piquet Jr. Um já está lá, os outros dois querem lá chegar. Achas que algum dos três tem estofo de campeão? Se sim, qual?
Realmente são poucos que chegam a Fórmula 1 com status de possível campeão. O tempo já mostrou que previsões podem furar e que a carreira na categoria depende de muitos fatores para se alcançar o sucesso, além do talento. Talentosos os dois brasileiros são e acredito que terão oportunidade em um futuro bem próximo. Nelson Piquet Jr. ainda não conseguiu corresponder as expectativas, mas acho que não tem condições de ser campeão algum dia (tomara que eu queime a língua).
31 - Que impressão é que ficas do novo projecto de Ken Anderson e Peter Windsor, a USF1? Achas que deve ser levado a sério?
O projeto dos dois segue a todo vapor, foram até acompanhar o Grande Prêmio da Espanha recentemente. É importante a volta de uma equipe norte-americana para a Fórmula 1. Na verdade, é importante a entrada de novos times sérios na categoria. Os dois estão fazendo tudo para o projeto dar certo, anunciaram com antecedência, mostraram o projeto e só posso desejar sorte e sucesso na empreitada.
32 – Tens algum plano para o blogue, no futuro próximo? Novas secções, meteres-te num podcast ou videocast?
Normalmente minhas idéias aparecem de repente. Não tenho algo planejado. Recentemente comecei a publicar histórias de amigos que frequentam meu blog, sobre o nascimento de sua paixão pela Fórmula 1 ou a descrição de um fato marcante que acompanhou na categoria. O resultado tem sido bem legal. Fica o convite a você, Paulo, e aos seus leitores.
6 comentários:
Esse Bruno Santos é um blogueiro de mão cheia. Seu blogue, hoje, é indispensável pra quem gosta do assunto... Grande Bruno...
Um prazer entrar para a lista de seus entrevistados, Speeder. Nunca pensei que chegaria meu dia. Só tenho a agradecer e fiquei na expectativa para sua descrição, e ter o nome citado perto de Daniel Médici é uma grande honra. Obrigado.
Valeu Felipão.
Abraços.
Parabéns ao Bruno e ao Speeder. Legal essa entrevista, e muito obrigado pela citação de meu humilde blog.
Gostei das respostas do rapaz....e isso porque tem apenas 22 anos.
Abraços.
Grande brunão, seu blog é muito bom fico muito grato em ser citado por ele,um cara que escreve um blog de qualidade.
O Blog do Bruno é realmente um dos melhores... Parabéns Speeder e Bruno!
E me senti extremamente honrada pela citação do meu humilde blog na entrevista...
Obrigada pela lembrança!
Bjos
Patrícia
Obrigado Cezar, Marcos e Patrícia.
Fico feliz com as palavras de todos vocês.
Abraços.
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