quinta-feira, 25 de novembro de 2010

5ª Coluna: Pequeno Napoleão vs Anãozinho Tenebroso

Lembram-se de há umas semanas ter falado do rumor de um possivel "golpe de estado" na FIA, e de quem era o principal suspeito? Pois bem, acho que a pessoa que estaria interessada em que Jean Todt fosse derrubado e deportado para a sua "Ilha de Santa Helena" seria... outro baixinho. Este de cabelos brancos e óculos. A razão? Bom, parece que Jean Todt, depois de conhecer os cantos á casa, começa a pisar os calos de Bernie Ecclestone.

É certo e sabido que a Formula 1 dos últimos anos foi moldada graças ao dedo do Tio Bernie. Os paddocks tornaram-se enormes e cheios de VIP's, os circuitos tem enormes áreas de escape, quase todas asfaltadas, novos circuitos e novos paises entraram num calendário que a partir de 2011 terá vinte provas, o mais comprido de sempre.

Mas há problemas: ele exige muito dinheiro às organizações dos circuitos e respectivos governos, bem como aos canais de televisão. Daí que aos poucos, por exemplo, estes sejam comprados por canais de satélite, pagos. E claro, os Grandes Prémios se transfiram para petroemirados do Golfo e demais paises do Sudeste Asiático, pois são os unicos que conseguem comportar as exigências milionárias do Tio Bernie (média de 30 milhões de dólares por ano), mesmo à custa de autódromos às moscas, como acontece na Turquia.

Para além disso, os circuitos novos são obra de uma pessoa: Hermann Tilke e o seu gabiete de arquitectos, situados na Alemanha. Todos os circuitos que entraram na Formula 1 desde 1999, com Sepang, são obra de Tilke, como se fosse um monopólio. E quase nenhum deles é uma obra por ali além, tirando talvez Kurtkoy, na Turquia, e Sepang. E mesmo nos circuitos mais antigos, as obras de remodelação tem de ser feitas pelo gabinete de Tilke, se querem receber a Formula 1...

Com Max Mosley ao comando, Ecclestone tinha as costas protegidas, e assim pensava que o mesmo se sucederia com Jean Todt. Afinal, tinha sido alguém com o apoio de Mosley, e que podia manipular os botos das federações, por exemplo. Mas parece que após um ano para conhecer os cantos á casa, Todt decidiu agir por conta própria. Agora, aparentemente, o pretexto é o de fazer a Formula 1 um desporto mais emocionante, onde as ultrapassagens sejam mais frequentes. E tocou no caso dos circuitos, onde ele disse que os traçados deveriam ser modificados, dando o exemplo de Abu Dhabi. ele já disse, por via indirecta, que todos os circuitos desenhados por Tilke serão rexaminados para futuras modificações. Em suma: quer acabar com o monopólio, e isso pode dar mais chances a pistas recentes como Alcainz ou Portimão.

Para além disso, consta-se que metade do dinheiro recebido das várias fontes vai direitinha para a FOM (Formula One Management), detida em grande parte pelo octogenário Ecclestone. É por estas e por outras que hoje em dia, ele é um dos homens mais ricos da Grã-Bretanha. Mas mais louco ainda foi ter assinado, em 2002, um complicado contrato de direitos comerciais à CVC Capital Partners com a duração de... 99 anos onde ficaria com o controlo total de todos os direitos da marca "Formula 1". Um contrato permitido porque o presidente da FIA era Max Mosley, que em temos não muito distantes tinha sido seu conselheiro legal, depois de ele ter largado a aventura da March.

Muita gente concorda que os circuitos árabes são os mais chatos. Este ano, colocar Bahrein e Abu Dhabi como ponto de partida e chegada não deu mais do que longos bocejos e criticas enormes. E este último só não foi igualmente aborrecido porque estava um título em jogo. Mas isso não tirou o facto de Yas Marina ser uma aberração, igual a Valencia, por exemplo. Aquilo que Todt falou talvez seja o primeiro dos toques na ferida da Formula 1, pois logo a seguir, está interessado no contrato quase perpétuo assinado no inicio do século, bem como a GP2 e a GP3, criações do qual Ecclestone tem uma participação indirecta no processo.

Com o passar das semanas, desde o que o rumor do golpe de estado surgiu, a relação entre Todt e Ecclestone tem esfriado um bocado. E corre o risco de ficar gélido com o aproximar das negociações para o novo Acordo da Concórdia, no ano que vêm. A FOTA, agora adormecida, voltará à carga no sentido de conseguir uma fatia maior do bolo, pois com doze equipas em acção, o bolo é mais repartido. Bernie já mandou vários avisos ás equipas de que não está disposto a abdicar da sua parte, e como é sabido, são 50 por cento para as equipas, 50 por cento para o Tio Bernie. Se em 2009 tivemos uma guerra entre o Tio Max e a FOTA, que quase levou a Formula 1 à beira da separação, agora em 2011, terá Ecclestone, com Todt ao leme, o mesmo tipo de apoio que teve com Max Mosley?

Quem poderia imaginar há um ano que a eleição de Todt poderia acabar num presente envenenado para Ecclestone? A ver vamos.

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