Faltam menos de dez dias para começar a temporada de 2012. E se para muitos, as expectativas são muitas, pelo facto de termos seis campeões do mundo a correrem ao mesmo tempo, algo que não acontecia há quase 40 anos, e também porque finalmente vão ver ação, depois de tantas semanas de testes, especulações e desmentidos - ou nem tanto - há outros que dizem, um pouco em surdina, que estamos a ver o inicio da tempestade. E digo isto porque a temporada de 2012 é o último ano de validade do atual Pacto de Concórdia.
E como sabem - tenho contado esses desenvolvimentos ao longo dos últimos meses - a Formula 1 vive uma tensão controlada entre a FIA, Bernie Ecclestone e as equipas de Formula 1, numa FOTA dividida. E isto é potencialmente perigoso, pois como sabem, num desporto que movimenta receitas superiores a mil milhões de euros, e do qual são divididas a meio por uma organização que é, basicamente, uma pessoa: Bernie Ecclestone. E ele está a caminho dos 82 anos. Pode ainda estar a posse de todas as faculdades, mas não andará por aqui para sempre.
E nestes tempos, o Joe Saward conta que há mais um fator a acrescentar a isto tudo: o caso Gribowsky. Se não sabem, eu conto. Trata-se do financeiro alemão ao qual no final de 2009 foram descobertos 50 milhões de euros numa conta sua na Austria, e do qual ele não deu uma explicação convincente. Executivo na Bayerlische LF, um banco que faliu na altura e que no inicio da década cuidou dos interesses da Formula 1 após a falência do Grupo Kirch, em 2003, Ecclestone afirmou em tribunal que deu esse dinheiro para o calar sobre a proveniência da Bambino Trust, o fundo que criou para mimar as suas filhas, e que deve valer mais de mil milhões de libras (1,2 mil milhões de euros).
Agora por causa disso, o Fisco britânico, mais concretamente a Serious Fraud Office, quer falar com Ecclestone sobre esse fundo, pois acha que ele anda a fugir aos impostos. Pelos vistos, é mais um problema bicudo para que o anãozinho tenebroso resolver...
Em suma, cada lado está fragilizado, e provavelmente, nenhum poderá usar o seu poder para bater o outro lado. As equipas podem jogar com o "fator tempo" - os 81 anos de Bernie - e o fato de não haver um sucessor designado, o que é típico de alguém que delega tudo em si mesmo, para conseguir o que querem, que é uma fatia maior do bolo, deixando entre 10 a 15 por cento a uma espécie de comissário, que tanto pode ser a CVC - é uma financeira, que vende à melhor oferta - que poderá designar um burocrata "petrolhead".
Mas se este pode ser um potencial caminho, há outro grande assunto que tem de ser tratado, que é o controle de custos na Formula 1. A Europa já chegou a um limite em termos de pagamento do dinheiro que Ecclestone pede para que tenham a categoria máxima do automobilismo nos seus lugares. Valência pode estar à beira do cancelamento, por ser incapaz de pagar o dinheiro que Ecclestone pede, quase 30 milhões de euros, e Barcelona já está com dificuldades. Se a Bélgica já aceita que o seu circuito receba a Formula 1 de dois em dois anos, alternando com França, porque receber a prova em Spa-Francochamps dá prejuízo, isso é cada vez mais um sinal de que as coisas estão a ir longe demais. E em tempo de crise, só tende a piorar.
E claro, Ecclestone e os que estão à sua volta estão cada vez mais alheados da realidade, o que é típico dos ditadores que tanto admira e se esforça em seguir.
Portanto, podem ver que a temporada que aí vem tem todo o potencial para ser fantástica na pista. E nos corredores do poder e do dinheiro, também...
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