terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Os pés de Nico Hulkenberg, ou uma metáfora da Formula 1 atual

Já sabemos que a Formula 1 não tem lugar para velhos. Não tem lugar para talentosos, quando o orçamento das equipas aperta. E não convêm muito quando os pilotos são altos. Mas "pézudos"... olhem é nova para mim. Digo isto porque surgiu esta semana a noticia de que Nico Hulkenberg tem algumas dificuldades em caber dentro do Sauber C32, especialmente na área dos pés, de tal forma que a solução provisória foi o de cortas as solas na área do calcanhar. “Tivemos de cortar as solas pelos calcanhares para ter mais espaço”, referiu Hulkenberg.

A Formula 1 sempre foi uma área onde os projetistas raramente cederam aos pilotos, em nome da eficiência aerodinâmica. Tinham de ser eles a adaptarem-se do que os carros a adaptarem-se aos pilotos. Há uma história bem curiosa de Adrian Newey, quando ainda projetava carros na March: após o primeiro teste com o novo bólido, Ivan Capelli queixou-se que que praticamente não tinha espaço para virar sem que os cotovelos tocassem na parede do carro, de tal forma que ele acabava com eles em dor e sangue, de tanto tocar na altura em que fazia as curvas. Relutantemente, Newey fez modificações no carro de forma a que Capelli ficasse mais confortável no seu "cockpit".

A história de Hulkeberg é um pouco o símbolo da Formula 1 atual: compartimentada num determinado tamanho, do qual não grama muito as mudanças, desde que não tenham a ver com a entrada de mais dinheiro. Seria mais um "fait divers" se não fosse pelos tempos que vivemos agora, com a ascensão, mais do que nunca, dos pilotos pagantes, e com o facto de o novo Acordo da Concordia ainda não ter sido assinado e as equipas começarem a falar, cada vez menos em surdina, que algo deve ser feito para controlar os custos, sob pena de a categoria rebentar de duas formas: ou pelo dinheiro, ou pela rivalidade entre FIA e Ecclestone, tal como aconteceu entre 1980 e 1982.

No caso de Hulkenberg, engraçado, é um piloto que está lá mais pelo talento e não tanto pelo dinheiro, apesar de trazer algum. Mas só depois de ter sofrido com disso. Quem já se esqueceu do motivo pelo qual saiu da Williams em 2010, dias após ter feito a pole-position em Interlagos? 

No final, a Sauber arranjará um carro só para ele, onde não terá mais de cortar solas dos sapatos para poder caber confortavelmente. A equipa atendeu às queixas e irá fazer as mudanças necessárias. Mas e a Formula 1, será que fará o que tem de fazer quando estiver em guerra? 

2 comentários:

Unknown disse...

Será que o Alonso, o Hamilton ou o Vettel tem esses problemas?!?!
Não duvido que os projectistas mudariam o carro de um piloto campeão, para que este pudesse fazer melhor ao volante...
Já os pagantes como dão dinheiro e não recebem salário não merecem tais mordomias!
Algo parece invertido?!?!? Mas na F1 nada é normal é um mundo à parte!
Esta é a minha opinião posso até estar errado...

Bruno Cabral disse...

Gostaria de saber mais sobre o que aconteceu entre 1980 e 1982. Poderia fazer um post sobre isso? Obrigado