Fala-se desde o inicio do ano sobre a possibilidade da FIA aceitar uma equipa para a temporada de 2015, especialmente desde que no inicio de dezembro de 2013, a entidade que gere o automobilismo abriu um concurso para receber candidaturas para, ao que inicialmente se esperava, escolhessem um lugar. Contudo, esta terça-feira, parece que as vagas vão ser... duas. E há dois bons candidatos: o americano Gene Haas, uma das metades da equipa da NASCAR Stewart-Haas, e o projeto liderado por Colin Kolles, que já foi dono da Spyker e da HRT, e que poderá ter dinheiro romeno nisto. Fala-se também a Stefan GP, mas parece que a hipótese é fortemente descartada.
Em paralelo às candidaturas, Jean Todt, o presidente da FIA, está a querer convencer as equipas para que aceitem um tecto orçamental de 150 milhões de euros, para que evitem ficar na penúria ou com enormes prejuizos, como acontece com a Lotus-Renault, que têm prejuízos acumulados e vê algumas das suas melhores cabeças a voarem para a concorrência, uns porque são atraídos, outros porque são despedidos. E não se fala da Sauber, que no verão fico aflita de dinheiro, mas aparentemente este ficou resolvido, não com russos, mas com mais do México.
Ora, a história das duas novas equipas na Formula 1, aliado à história do teto salarial de 150 milhões - bem plausível para toda a gente no pelotão - pode não significar mais do que um episódio de uma guerra surda entre Ecclestone e Todt pelo controle do poder da Formula 1, e uma tentativa de recuperação da FIA de um poder que foi entregue pelo seu antecessor, Max Mosley, no final do século passado, graças ao famoso "acordo dos cem anos".
Vamos por partes: primeiro, a Formula 1 é lucrativa. Têm receitas brutas na ordem dos 1500 milhões de euros por ano, do qual existem cerca de 500 milhões de euros de despesas próprias. Bernie Ecclestone é mestre em conseguir sacar o dinheiro da maior fonte de receita, que são os pagamentos que os estados fazem para receber a categoria máxima do automobilismo. Daí esta emigração para a Ásia e Médio Oriente, pois países como o Bahrein, Singapura ou Coreia do Sul foram capazes de pagar os mais de 50/60 milhões de euros por ano que o anãozinho octogenário exige. Mas isso, como sabem, têm limites: em 2014, a Coreia do Sul e a India saltam fora do calendário, porque eles já viram que isso lhes dá mais prejuizo do que outra coisa.
Dos mil milhões de euros de lucro, metade vai para as equipas, que são distribuidas de dorma desproporcional - desde os 100 milhões para a Ferrari para os 10 milhões da Marussia - e a outra metade fica para os fundos de investimentos que são donos da categoria. A CVC Capital Partners é a principal, mas dentro dela, Bernie Ecclestone é o maior acionista, quer a título individual, quer através do seu fundo pessoal, a Bambino Trust. Chega a 15 por cento, o que podemos chegar à conclusão que ele recebe mais de 75 milhões de euros por ano. E claro, isso é muito dinheiro. Daí ele ter uma fortuna pessoal a rondar os quatro mil milhões de libras e ser um dos homens mais ricos da Grã-Bretanha.
Porque falo dele? Ora, na segunda-feira, o Humberto Corradi - sempre uma personagem bem informada - referiu que Ecclestone propôs uma solução radical às equipas e à FIA, para contrariar a proposta de Todt: oito equipas de três carros cada um. De uma certa maneira, era uma união das suas propostas com as reivindicações de Luca de Montezemolo, que há muito tempo defende a ideia dos três carros na grelha. Oito equipas com três carros são 24 bólidos, e com a FOM a distribuir dinheiro pelas dez equipas do pelotão, significaria mais dinheiro para eles, não tocando na parte de Ecclestone e claro, dos "hedge funds" como a CVC. Em suma, é a ideia do "clube privado" onde não entra ninguém. E como nesta altura de crise, como já contei atrás, Lotus e Sauber lutam pela sobrevivência, e Tony Fernandes, da Caterham, já disse que não quer colocar mais dinheiro na equipa durante muito mais tempo, podemos ver que Ecclestone não precisa de empurrar ninguém para fora...
Assim sendo, podem imaginar o que significa 13 equipas com o atual equilibrio de forças em termos financeiros. Caso Todt diga que a Stewart-Haas e a equipa que Colin Kolles está a montar sejam as mais adequadas, estará a esbarrar mais uma vez com Ecclestone, principalmente numa altura em que ele está em maus lençois nos tribunais alemães, com o "caso Gribowsky", cuja primeira sessão deverá começar algures em abril. E claro, convêm não esquecer que Ecclestone é um sujeito que vai a caminho do seu 84º aniversário natalicio...
Claro, temos de ver que neste momento, as coisas estão acertadas graças a um Acordo da Concórdia válido até 2020, e até lá, não deverá haver nada de especial nesse campo. Mas Todt joga com o tempo. Sabe que poucos - muito poucos mesmo - deverão acreditar que Bernie Ecclestone, esteja vivo em 2020, no alto dos seus 89 anos (só fará 90 a 28 de outubro, se chegar até lá vivo) - e logo, tenha condições de impor as suas regras contra os chefes de equipa e os promotores e Jean Todt, o presidente da FIA, que por essa altura, muito provavelmente, será reeleito como presidente por mais um mandato.
De uma certa maneira, temos de olhar para isto como peças de xadrez de uma luta surda pelo poder e controlo da Formula 1, do qual ouvimos os seus recados ou desabafos algumas vezes pelos jornais. Mas vamos pensar nisto: com a situação como esta, o que prefeririam? Treze equipas com 150 milhões de euros de dinheiro para gastar como teto salarial ou oito equipas sem limites para gastar, correndo o risco de acabar com a galinha dos ovos de ouro? Tendemos a esquecer que muitas das vezes, a Formula 1 pode atrair construtores que desejam vencer mais carros à segunda-feira, mas também sonhadores que desejam vencer e aventureiros que desejam mostrar-se numa das melhores montras do mundo.
4 comentários:
Difícil dizer...
Se for pro teto ser respeitado, com 13 equipes há uma chance maior que a atual de várias equipes brigarem pela ponta e, teoricamente, deverá ser mais fácil pagar as contas no final do mês. Por outro lado, seria fácil ver várias equipes brigando pelo fundo, não pela ponta, como tem sido há um bom tempo.
Mas 3 carros por equipe permite um número maior de pilotos brigando pelo título, já que não é incomum ter ao menos 2 ou 3 equipes brigando pelos primeiros lugares e isso saltaria de 6 pra 9 pilotos em condições de brigar (claro, numa Ferrari da vida, dificilmente não teria um piloto claramente no papel de apenas auxiliar, senão dois, mas numa Red Bull, McLaren ou Mercedes seria bem interessante). Mas tem como negativo justamente o lado de pilotos que tenham que ficar atrás até por contrato, além de virar uma categoria praticamente só de fabricantes.
Três equipes com 15 carros cada uma... rs.
Se for 3 carros por equipa é 1 a lutar pelo titulo e 2 para atrapalhar a concorrencia... por isso a ferrari se a favor desta teoria, porque já viram que só com um segundo piloto não conseguem...
Eu não duvido que o Ecclestone ainda vai viver muitos anos, ele nunca pareceu mal de saúde, e deve ser movido a ambição... Se aposentar, "acaba o combustível".
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