terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A história de Tyler Alexander, um discreto fundador (parte 3)

(continuação do capitulo anterior)

Em 1965, Bruce McLaren saiu por fim do seu contrato com a Cooper e começou a fazer os seus carros a partir da temporada de 1966, primeiro com o modelo M2, feito em maalite, um compósito com base em madeira, e depois o M3, em 1967, ambos sem grande sucesso - tanto que Bruce correu algumas corridas na Eagle do seu amigo Dan Gurney - mas em contraste, construía os chassis M8, para a Can-Am, onde acabou por ser dominador, conseguindo os gordos prémios de vitória que permitiam construir os seus chassis na Formula 1. 

Nessa altura, Tyler Alexander trabalhava nas instalações da marca em Feltham, enquanto que vivia em Surbiton, num quarto pertencente a Bruce e à sua mulher, Patty. "Vivia com Bruce e a sua mulher por muito tempo, primeiro no seu apartamento em Surbiton, depois num casa maior com um quarto, e ia para o trabalho com ele todos os dias. Isto chegava ao ponto de quando falava da parte que ele queria colocar num dos seus carros, mal ele acabava a frase, eu estava a começar a trabalhar nela. Era uma pessoa de trato fácil, e mesmo quando não trabalhavas para ele, trabalhavas com ele

"Se tinha um ego, nunca o mostrou. Mas era o líder, sem dúvida alguma, e confiavamos nele totalmente. Se ele viesse ter contingo num amanhã e dissesse 'OK pessoal, alinhem numa unica fila, porque hoje vamos marchar no deserto do Sahara', nós nem perguntavamos porquê, simplesmente seguiamo-o. Eventualmente, Wally, eu e Eoin fomos para um apartamento que chamavamos de 'O Castelo', onde os quartos eram alugados à ordem de cinco libras por semana. Na esquina, em Ditton Road, havia uma casa alugada por Chris Amon, Peter Revson, Mike Hailwood e outro piloto neozelandês, Bruce Abernathy. Chamavamo-os de Ditton Road Flyers.

"Abernathy comprou meia dúzia de velhos Jaguares com o dinheiro do Chris, e iam ser mandados para a Nova Zelândia com enormes lucros. Estavam estacionados na relva, e alguns deles nem sequer ligavam! As festas eram lendárias. Hailwood tinha todos os seus troféus do motociclismo, e certo dia, houve uma pessoa que bebeu demais, e como não queria fazer asneira na carpete, pegou um dos troféus do Mike da estante, vomitou para lá e colocou o troféu no lugar!"

Em 1970, as operações da McLaren tinham-se estendido para a IndyCars, e em maio desse ano, eram quatro os pilotos que iam a todas: McLaren e os seus compatriotas Dennis Hulme e Chris Amon, e o americano Peter Revson, outro dos amigos dos primeiros tempos. Hulme e Amon andavam com o chassis M15, com motor Offenhauser, quando o primeiro teve um acidente e queimou as mãos. Isso foi mais do que suficiente para Amon largar as 500 Milhas de vez. Ambos iriam ser substituidos por Peter Revson e Carl Williams.

"Nos circuitos de alta velocidade, Chris era bravo, mas psicologicamente, ele não conseguia lidar com a Indy. Dizíamos a gozar que tínhamos de pintar umas árvores no muro, para que ele pensasse que estávamos em Spa".

Alguns dias mais tarde, numa terça-feira, 2 de junho de 1970, Bruce estava de volta a Goodwood para testar o modelo M8D, que iria usar na Can-Am, cuja temporada iria começar ali a uns dias. No meio do teste, quando fazia a reta Lavant, a traseira voou, perdeu o controlo e bateu contra um posto de comissários de pista. Bruce teve morte imediata.

"Naquela terça-feira de manhã ainda estava em Indianápolis, arrumando as coisas para a corrida de Milwaukee, que aconteceria no fim de semana seguinte. Estava a tomar o pequeno almoço com Dan Gurney quando me disseram que tinha uma chamada para mim e fui atender. Do outro lado estava o Teddy, a dizer que o Bruce tinha morrido. Já não recordo que palavras usei, mas a cara de Dan falou mais do que o sentimento de perda que todos nós tínhamos sentido. Fui às garagens e contei aos mecânicos e disse a eles para continuarem com o trabalho. Depois peguei um voo para Londres e fui direito à fábrica".

"Toda a gente estava em choque: que vamos fazer agora? A pessoa que nos iria guiar pelo deserto do Sahara tinha desaparecido. Eu disse: 'Olhem, algo de terrível nos aconteceu. Mas aconteceu. O que nós teremos de fazer é continuar com aquilo que estávamos a fazer. Foi aquilo que o Bruce nos ensinou e agora depende de nós'. Depois Teddy juntou-nos - éramos cerca de 50 na altura - e disse: 'Temos uma corrida de Can-Am na semana que vêm. É melhor trabalharmos nisso'. Depois fomos para o escritório e falamos com o Dan ao telefone, que estava na California."

Uns dias depois, todos estavam em Mosport para a primeira prova do campeonato, com Gurney no lugar de McLaren e Dennis Hulme - ainda a sofrer as queimaduras nas mãos - no outro carro. As coisas foram más na qualificação, marcada pela morte do americano Dick Brown, e o pessoal andava nas boxes a fazer modificações constantes nos carros. Tanto que a dez minutos do fim, Gurney não tinha feito qualquer tempo.

"Eu disse ao Dan, 'olha, tens de fazer um tempo'. Então, ele foi para a pista, fez duas voltas e regressou. Pole. E depois ganhou a corrida. Denny ainda não estava em forma - não que fosse um atleta no sentido de ir ao ginásio - mas acabou no terceiro lugar. Depois da corrida, ficou no carro, imóvel, incapaz de tirar as suas mãos cheias de pensos do volante. O que aqueles dois fizeram, tão pouco tempo depois da morte do Bruce, trouxe-nos de volta à vida."

"E no fim de semana seguinte, estávamos em Zandvoort, com os carros de Formula 1, para o GP da Holanda. Após os treinos, estava a jantar num dos hotéis com Dan, a sua mulher Evi e Teddy. Era a primeira vez que o Dan corria na Europa desde o final da aventura da Eagle, ano e meio antes, e ele começou a lembrar de todos os pilotos que morreram desde que ele veio da primeira vez, em 1958. Era uma longa lista. estava sentado nessa mesa e pensei, 'ele quer parar'. E depois, no domingo, Piers Courage morre num acidente. um mês mais tarde, após ele ter corrido connosco em Watkins Glen para a Can-Am, e corrido em Clermont e Brands Hatch na Formula 1, decidiu parar de vez".

(continua)

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