domingo, 21 de dezembro de 2014

A história de Tyler Alexander, um discreto fundador (parte 1)

A revista britânica Motorsport faz isto todos os meses: convida uma personalidade para um almoço para que ele desfie as suas memórias de tempos remotos nas corridas, para contar certos capítulos pouco ou nada conhecidos, como acontece sempre que almoçamos com um grupo de amigos. Há um ano, comprei a edição de settembro de 2013 e o convidado foi o americano Tyler Alexander. A ocasião era a ideal: a McLaren fazia 50 anos de existência, e com a comemoração do seu 73º aniversário, a 3 de setembro, e também para celebrar uma fotobiografia sua sobre Bruce McLaren, com fotos tiradas por ele mesmo na parte final dos anos 60, quando a Formula 1 era algo mais romântico do que é agora.

Com tudo isso e muito mais, estas conversas são autênticas pérolas do automobilismo, pois falamos de alguém que esteve mais de 40 anos envolvido no meio, desde a Formula 1, passando pela CART e Can-Am, em ambos os lados do Atlântico. Nascido a 2 de setembro de 1940 em Weymouth, no Massaschuchets, a meras quinze milhas de Boston,  estudou engenharia aeronáutica no Wentworth Institute, mas em 1961, é atraido pelas corridas.

"Um amigo meu chamado John Field tinha um Cooper-Norton de 500cc que corria na Formula Junior, da SCCA [Sports Car Club of America], tendo vencido quinze das 17 corridas dessa temporada, acabando como campeão. Nessa categoria estavam nomes como Timmy Mayer, Peter Revson, Jim Hall, Hap Sharp. Roger Penske também. Timmy, que era de uma familia influente na Pennsilvânia, ganhou o campeonato com o seu Cooper, e com isso veio um convite para participar na Speed Week de Nassau. 

Mas nessa altura ele tinha sido recrutado para o exército e o Teddy, seu irmão mais velho, emprestou o carro para Penske. Teddy disse a John e eu: 'Vão até Nassau, peguem o carro nas docas e cuidem dele, que pagarei as despesas'. Com os carros de motor BMC, em 1962, não conseguia acompanhar os Lotus-Ford de Pete Lovely e de Pat Piggot, mas acabou no terceiro lugar."

"No ano seguinte, 1962, Timmy conseguiu uma licença do Exército para correr na maioria das corridas da SCCA, e venceu de novo o titulo na Formula Junior. Para lidar com Timmy e Peter [Revson], Teddy decidiu fazer uma coisa chamada RevEm Racing, e acabei por ajudá-los. Não era pago, mas na realidade, achava tudo isto bem interessante, e eles julgavam que eu saberia mais do que realmente sabia. Então, em 1963, Timmy acabou a recruta no exército e ambos foram para a Europa."

"Quando os Mayers se foram embora, precisava de algo para fazer, e então falei com Roger Penske no sentido de ajudar o seu homem, Roy Gane. Ele tinha transformado um Cooper de Formula 1 destruido num acidente, guiado pelo Walt Hansgen, num carro desportivo chamado Zerex Special, Roger ganhou várias corridas com ele, depois vendeu-o a um homem do petróleo do Texas chamado John Mecom, mas Roger continuou a correr com ele. Assim sendo, fui trabalhar com Mecom no Texas. Ele tinha um Ferraro GTO e montes de outras coisas. E Mecom inscreveu o Zerex numa corrida em Brands Hatch, em agosto, de seu nome The Guards Trophy. Iriamos também buscar o Lola GT para ser guiado por Augie Pabst."

Assim sendo, estava pela primeira vez na Grã-Bretanha. Indo do Hilton, em Park Lane para a sede da Lola, em Bromley - bom, isso seria um artigo à parte. O Zerex tinha originalmente um lugar central, mas agora tinha um lugar para o passageiro muito pequeno entre o lugar do condutor e o tanque lateral. Tivemos uns problemas em Brands por causa dos regulamentos, e passamos a noite a corrigir tudo aquilo que eles não queriam. E claro, Roger liderou a corrida do inicio até ao fim. Timmy estava lá com o seu Cooper Monaco e acabou em terceiro atrás de Roy Salvadori, e durante o fim de semana ele me disse se estaria interessado em construir um carro para Timmy na Tasman Series. Eu perguntei:
'Que diabo é isso da Tasman Series?'"


O que Tyler Alexander não sabia era que Timmy tinha-se estabelecido com Bruce McLaren, depois de este ter dito que queria construir dois chassis Cooper para concorrer numa série na Austrália e Nova Zelândia, a Tasman Series. Pediu inicialmente ajuda à equipa oficial da Cooper, mas Charles Cooper vetou a ideia, e assim decidiu establecer a Bruce McLaren Motor Racing com dois Cooper de 2.5 litros, guiados por ele e pot Timmy Mayer, que iria ser o piloto oficial da Cooper na temporada de 1964 da Formula 1.

A Tasman Series tinha em 1964 a sua temporada inaugural, em janeiro e fevereiro e teria quatro corridas na Nova Zelândia e outras quatro corridas na Austrália, com a prova final em Longford, nas Tasmânia. As coisas correram às mil maravilhas para a equipa, com Bruce a vencer e Timmy a caminho de ser vice-campeão, quando nos treinos para a corrida, perdeu o controlo do seu Cooper e embateu numa árvore, acabando por morrer. Timmy tinha 25 anos.

"Devo ter dito 'sim' à proposta do Teddy, porque depois de Brands, arrumamos o Zerex e o Lola, e depois o Roy Gane, eu e os outros rapazes da Mecom pegamos um taxi para Heathrow. Eles sairam do taxi e fiquei sentado no banco de trás. Foi nessa altura em que lhes disse que ficava para trás, algo que não caiu muito bem entre o pessoal. Depois continuei para um lugar onde Teddy tinha alugado em Thames Ditton, em Tagg's Island, perto a fábrica da AC. Ali saiam os Cobras meio acabados durante o dia, e voltavam à noite. 

"Fiquei ali com o Teddy e todos os dias ia a Surbiton, à fábrica da Cooper. Atrás da oficina onde preparavam os Formula 1, o Wally Wilmot, o mecânico do Bruce, estava a construir o carro dele da Tasman, e eu construia a do Timmy. Não demorou muito até que os mecânicos da Cooper topassem que conseguia construir coisas, não era mais o americano feioso, e então demo-nos bem."

"A primeira vez que conheci o Bruce como deve de ser foi num almoço de domingo, na casa do Teddy. O clique foi instantâneo. Sabia o que tinha feito desde que saiu da Nova Zelândia, cinco anos antes: venceu o GP americano logo na sua primeira temporada, tinha sido vice-campeão do mundo na segunda. Mas mais do que tudo, ele sabia muita coisa sobre automobilismo, logo, quis ficar com ele para saber mais alguma coisa."

"Voamos então para fazer a Tasman Series de 1964, quatro corridas na Nova Zelândia, outras tantas na Austrália, e as coisas correram realmente bem, com o Bruce a vencer a Tasman Cup e o Timmy a fazer segundos e terceiros lugares. Depois, nos treinos para a corrida final em Longford, na Tasmânia, Timmy teve um acidente e morreu.

"Vistas as coisas hoje em dia, não deveriamos ter corrido ali, mas era assim que faziamos nesses dias. Era numa das estradas em direção à cidade, perto de um cruzamento, numa passagem de nivel, depois de um "pub" onde o pessoal bebia cerveja enquanto via os carros passar. Após uma descida muito veloz para a direita, havia uma lomba, onde um ribeiro passava por baixo, e os carros "descolavam" ali. Timmy aterrou mal, o carro fugiu-lhe e bateu numa árvore. Teve morte imediata."

(continua amanhã)

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