Há precisamente 30 anos, o Dakar estava em África, e ainda era uma aventura de amadores que, com carros altamente modificados, aventuravam-se nas areias africanas para chegar à capital senegalesa, provenientes de Paris. E quem manobrava tudo, oleava a máquina para que as coisas correm sem incidentes era o seu idealizador, Thierry Sabine. Em 1977, perdeu-se no deserto libio a bordo da sua moto Yamaha, e por momentos, pensou que seria o seu fim. Contudo, quase por um milagre, foi salvo por um avião que ia a passar... por acaso. É que os organizadores já o davam como morto. Mas salvou-se. E decidiu aproveitar esse momento para fazer algo melhor.
Dois anos depois, já acontecia o primeiro rali, de Paris a Dakar, passando por Argel, palco da chegada a África. E era assim em 1986, quando, apesar dos amadores serem a maioria, as equipas profissionais já andavam por ali, com a Porsche a colocar os seus 959 nas areias do deserto, por exemplo.
A 14 de janeiro, Sabine e a caravana do Dakar estavam entre o Niger e o Mali, a caminho do Dakar. Ele seguia tudo no seu helicóptero Ecreuil, com o cantor Daniel Balavoine e mais dois fotógrafos (um deles Yann-Arthus Bertrand, o autor de "A Terra Vista do Céu") para distribuir bombas de água pelas populações locais. O vento começou a levantar, à medida que o dia acabava, e no final, a visibilidade era escassa, a pouco mais de vinte quilómetros da meta. Contudo, o piloto tentou abusar da sorte (provavelmente, a pedido de Sabine) e não viram uma duna. O resultado é o que vêm na fotografia: Sabine, Balavoine, o piloto, mais a jornalista Nathalie Odent, da TF1 e o seu cameraman, Jean-Yves Le Fur, acabaram por morrer. Estes dois últimos trocaram de lugar com Bertrand e o jornalista Patrick Port D'Arvor (um dos mais famosos de França), que queriam chegar mais cedo a Bamako e apanharam um avião, numa das pausas da etapa.
O rumor correu forte durante a noite, mas só de manhã é que a noticia foi confirmada, e foi um choque. Lembro-me bem disso, do alto dos meus nove anos, e também me lembro das dúvidas que se colocava em relação ao futuro do Dakar sem Sabine. Pois bem, como podem ver, continua firme e forte... apesar de acontecer noutro continente.
Hoje em dia, as cinzas de Sabine estão espalhadas numa árvore que tem o seu nome, não longe do local onde o helicóptero caiu. O legado, esse, continua.
"Um desafio para os que partem, um sonho para os que ficam" Thierry Sabine, 1949-1986
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