Niki Lauda e Muhammad Ali, algures em 1977. Digo que pode ser esse ano porque o austríaco já carrega consigo as cicatrizes do seu acidente no ano anterior, em Nurburgring. Ambos tinham carisma, e eram desbocados quando queriam dizer alguma coisa.
Toda a gente sabe, mesmo hoje em dia, que quando os jornalistas vão ter com ele, virá bomba da parte do agora administrador não-executivo da Mercedes na Formula 1. Mas ele, para a "shit talk", deve ter aprendido alguma coisa com Ali, perito em dizer o que pensava, primeiro para intimidar os seus adversários, e depois quando queria falar sobre as injustiças no mundo.
Muhammad Ali morreu hoje aos 74 anos, depois de três décadas a sofrer a Doença de Parkinson. Antes disso, nasceu Cassius Clay, foi campeão olimpico, sofreu na pele o racismo existente e ergueu a sua voz contra as injustiças da sociedade em que vivia. Mudou de nome, converteu-se ao islão, tornou-se campeão de pesos pesados por três vezes - um recorde que perdura até hoje - e os seus combates atraíram milhões em todo o mundo, mesmo quando ia combater em paragens exóticas, como Kinshasa ou Manila, algures nos anos 70. Combateu até aos 39 anos, em 1981, e mesmo as suas aparições públicas, cada vez mais raras devido à sua doença, incutiam respeito e uma silenciosa admiração, mesmo com um aspecto chocantemente frágil e tremendo incontrolavelmente. Ainda está na memória a sua aparição na cerimónia de abertura dos Jogos Olimpicos de Atlanta, quando foi o último a carregar a tocha olimpica antes de o acender na pira.
Ali gritava que era o maior de todos os tempos. O tempo, o maior dos professores, deu-lhe razão. Ars lunga, vita brevis, Muhamad.
Sem comentários:
Enviar um comentário