terça-feira, 31 de maio de 2016

A Formula 1 continua a ser o melhor negócio do mundo?

É muito giro falarmos que a Formula 1 é o "centro do mundo", porque tem o Mónaco, e as audiências refletem isso. Contudo, quando eu - e muitos outros - falam que a Formula 1 segue uma direção errada, quer em termos de transmissões televisivas, quer em termos de redes sociais, quer em termos de onde é que deveriam ir, em termos de locais, muitos não entendem as nossas criticas.

Pois bem, quando esta tarde lia o - sempre excelente - Joe Saward, dei de caras com duas noticias interessantes, que reproduzo aqui:

"Noutras noticias, a CVC Capital Partners continua a dizer que está disposto a vender a Formula One Group, mesmo que algumas dessas pessoas digam que não estão interessados [em vender]. Eles esperam que os chineses entrem, mas uma discussão recente com o grupo de internet Alibaba não deu em nada, e a oferta do americano Stephen Ross continua a ser o mais provável, mesmo se CVC pensa que eles possam conseguir convencer os chineses a entrar. Como Ron Dennis provou com a McLaren, A entrada de investidores chineses num negócio como Formula 1 não é fácil. Talvez quando o primeiro acordo desse tipo ocorrer, poderemos ver outros a vir, mas por enquanto a China parece estar mais interessada na Fórmula E. A Formula 1 é muito assustadora, muito virada para o curto prazo e muito complicada.

Enquanto isso, a NASCAR fez um anúncio discreto, que mostra o quão fora de ritmo está a Formula 1 em termos de marketing em si. O mais recente projeto cinematográfico com a NASCAR como pano de fundo é com o diretor Steven Soderbergh, e é um filme de ladrões centrado em torno da Charlotte Motor Speedway. O filme será chamado de Lucky Logan e vai ter como atores Channing Tatum, Daniel Craig, Riley Keough, Adam Driver e Seth MacFarlane. É claro, os filmes de Soderbergh seriam perfeito para Monte Carlo e seria divertido ter um filme centrado no[fim de semana da] corrida de F1... 

A trilogia de Ocean's fez $ 1,1 mil milhões no "box office". Certamente, a Formula 1 poderia obter uma fatia de bolo semelhante, se percebesse que o cinema não é apenas uma máquina de fazer dinheiro, mas também uma ótima maneira de divulgar um desporto."

Quando as pessoas dizem, queixam-se, que a Formula 1 está a tornar-se cada vez mais elitista, está a fechar-se a si mesmo e que não quer saber mais dos seus espectadores, em migrar cada vez mais para canais pagos, vistos apenas pelos que podem pagar; que não quer saber das redes sociais para nada, que vai para sítios de origem duvidosa só pelo dinheiro, que os seus líderes estão fora de contacto com a realidade, as consequências estão aqui: a dificuldade de arranjar novos parceiros para injetar mais dinheiro na modalidade, e o fracasso de seduzir uma nova geração de pessoas. Quando a Formula 1 migra para canais pagos, mesmo em sítios como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, está simplesmente a dizer que não quer saber do seu futuro.

E depois, não se admirem que não vejam patrocinadores chineses nesta competição, ou que, por exemplo, o circuito de Xangai fica vazio de pessoas, excepto no dia da corrida - e até há uns anos, os bilhetes eram distribuídos pelos estudantes das universidades locais para ajudar a "colorir" as bancadas do circuito de Xangai. Enquanto tiverem o velho como Bernie Ecclestone, não se pode esperar muito em termos de mudanças, apesar de ter havido recentemente uma abertura às redes sociais, especialmente com a chegada da pagina oficial da Formula 1 no Facebook e no Twitter, por exemplo.

Mas outro exemplo que aqui coloquei: já repararam que nunca tivermos qualquer marca chinesa a comprar uma equipa de Formula 1, enquanto que na Formula E já temos duas marcas, a NEXTEV e a recém adquirida Aguri? A entrada dos chineses na competição elétrica tem uma boa razão: eles querem eliminar o mais rapidamente possível a fama de poluidora, construindo milhares de centrais eólicas e solares, para não dependerem mais do carvão, uma enorme fonte de poluição e que enche as principais cidades de "smog", para não falar do transito automóvel, que já alcança niveis de insuportabilidade no Império do Meio.

A Formula 1 sofre um pouco da arrogância dos que estão no topo, criando vícios que depois, quando as vacas ficarem magras, se descobrirão e arrastarão a estrutura para a sua decadência inevitável. Já disse vezes sem conta que é liderada por uma geração que está no meio há mais de 40, 45 anos, e ainda não tem a consciência de que o seu tempo está a chegar ao fim. Ninguém discute - pelo menos abertamente - em o que fazer quando Bernie Ecclestone se for embora dali, já que tem 85 anos. Parece que todos esperam que ele morra para agir, mas será que tem paciência para aguentar esse tempo todo?

E ainda por cima, todos sabem que deixar o controlo da competição às equipas não é boa escolha...

Enfim, muitos já viram que a Formula 1 tem muitas falhas. Falta de imaginação, acomodação, recusa da mudança, divergências entre equipas sobre o modelo a seguir, guerras de poder... são muitas as razões pelos quais esta competição, como qualquer império que está no auge, sofra com a inevitável decadência. A Formula E, por exemplo, está a seguir um caminho de cooperação com o objetivo de crescer de forma sustentada e ser uma alternativa não só para o automobilismo, como também para a industria automóvel, dado que esse foi sempre um dos seus propósitos: o desenvolvimento da sua tecnologia beneficie os carros do dia-a-dia.

Mas com esta gente no poder, e sabendo nós que o dia da mudança se aproxima a passos largos, não pensam no dia seguinte. Ou na razão porque eles já não atraem tantos quantos queriam.

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