quarta-feira, 27 de julho de 2016

A Ferrari depois de James Allison

A Scuderia anunciou esta manhã que James Allison não é mais seu trabalhador. A noticia poderá ser algo inesperada - por ter sido dita agora - mas de alguma forma, poderemos dizer que é mais uma das vitimas de uma gigantesca máquina trituradora que por vezes é a equipa de Maranello. O seu substituto será Mattia Binotto, de 45 anos, e que está na Scuderia desde 1995. Apesar do nome italiano, Binotto... é de Lausana, na Suiça.

A equipa gostaria de agradecer ao James pela sua entrega e sacrifício durante o tempo que esteve connosco, e deseja-lhe os maiores sucessos e serenidade para as suas aventuras futuras”, disse a Ferrari, no seu comunicado oficial.

Pouco depois, o inglês respondeu, tambem em comunicado oficial: “Durante os anos que estive com a Ferrari, em duas etapas distintas e assumindo diferentes tarefas, consegui conhecer e apreciar o valor da equipa e das pessoas que a compõem. Quero agradecer-lhes a grande experiência pessoa e profissional que partilhámos. Desejo a todos um futuro feliz com muito sucesso”.

Um anuncio destes, feito no final de julho, pode ser encarado como uma péssima noticia, mas há muitas variantes nisto. A primeira é que ele poderá ter baixado os braços e chegado à conclusão de que a Ferrari, da maneira como está, não ganhará tão cedo. Daí esta rescisão por mútuo acordo.E há uma variante mais pessoal: Allison sofreu no passado mês de março a perda da sua mulher, que tinha apenas 48 anos de idade, e viu-se com a tarefa de cuidar dos seus filhos como pai solteiro que se tornou. Nem todos tem uma mente de aço nesse campo.

Allison, agora livre que nem um pássaro, irá provavelmente tirar uma sabática até que em meados de 2017 entrar numa outra equipa. As candidatas mais óbvias são a Renault e a McLaren, que lutam para voltar aos seus tempos gloriosos. A equipa de Enstone vive o seu "ano zero" e precisa de alguém para reconstruir a marca, num plano de longo prazo para fazer um vencedor, e claro, a marca de Woking teria o prazer de ter alguém que ajude a equipa chegar ao topo, com Fernando Alonso e outro jovem promissor no seu encalço, com um motor Honda que funcione melhor do que está a acontecer agora.

Já se sabia desde há algum tempo que tinha soado as campaínhas de alarme por aquelas bandas. A Ferrari não só não conseguia apanhar a Mercedes, como era ameaçada pela Red Bull, com um motor Renault... "cliente", disfarçado de relojoeiro. Não se poderá dizer que tem a ver com a única vitória "não-Mercedes" deste ano, mas quando tem nas fileiras Max Verstappen, que é o candidato numero um a ser "o melhor do resto", de certeza que faz preocupar Sergio Marchione, Maurizio Arrivabene e claro, os pilotos Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen, pagos a peso de ouro na marca.

Marchione, que já tem mais com que preocupar - surgiu esta semana noticias que as vendas da subsidiária Fiat-Chrysler nos Estados Unidos estavam a ser sobrestimadas - tem mais este problema nas mãos, porque, como sabem, em 2017 haverá novos regulamentos, novos carros de Formula 1 serão desenhados, e se não tiver um desenho vencedor, arrisca a ver alargar ainda mais o jejum de títulos que já vem desde 2008 (2007 em termos de pilotos). É que quem acerta no chassis, normalmente tem um "oligopólio" de vitórias garantidas. Foi assim com os Red Bull, de 2009 a 2013, e é agora com os Mercedes. 

Ver mais uma era sem títulos, numa equipa que gasta 300 milhões de euros por ano, vai começar a questionar sobre a utilidade do dinheiro e os seus previlegios. Não se pode esquecer que Bernie Ecclestone e a FOM lhes dá todos os anos mais de cem milhões de euros ainda antes de eles fabricarem a primeira peça do chassis de cada temporada. O orçamento de uma Sauber, por exemplo...

Por estes dias, soube-se que Marchione e Arrivabene quis recrutar de volta Ross Brawn, reformado desde meados de 2014, quando deu à Mercedes os títulos de pilotos e construtores que andavam sempre a perseguir. Brawn, que ficou na Scuderia de 1996 a 2007, deu a Maranello os cinco títulos consecutivos de Michael Schumacher e ainda ajudou a dar mais um título a Kimi Raikkonen, em 2007, fazendo dela a equipa mais poderosa da Formula 1. Depois disso, em 2008, foi para a Honda, com o objetivo de fazer a mesma coisa - já tinha feito isso na Benetton, em 1994-95 - mas o fim da equipa japonesa lhe deu a chance de ter a sua própria equipa, que lhe deu o campeonato em 2009, antes de a vender para a Mercedes, no ano seguinte.

Brawn, agora com 62 anos, goza os seus milhões longe da Formula 1, dedicando-se à pesca, e já nem pensa em regressar, pois conquistou tudo. Mas Marchione e Arrivabene ainda acham que ele é suficientemente válido para tentar colocar a Scuderia di Maranello nos píncaros, como fez com tudo o que tocou nos últimos 22 anos. Contudo, parece que não conseguiram retirá-lo da reforma, mas nada indica que tenham desistido. Com a Scuderia, muitas das vezes, eles fazem propostas que não podem recusar, logo, é uma história que pode não ter acabado por aqui.   

O pior ainda que os "tiffosi", sempre irrequietos, não tem a paciência dos outros e encaram "la squadra" como se fosse uma "Juve" ou uma "Roma", e querem sempre cabeças quando a equipa perde, achando que uns "enforcamentos" podem acalmar a plebe. Isso acontecia frequentemente nos anos 90, aqueles anos pós-Commendatore que foram algo caóticos, dos quais só a FIAT os salvou. E a salvação veio primeiro com Luca de Montezemolo, que depois trouxe Jean Todt, Michael Schumacher, Ross Brawn e Rory Bryne. E até quebrarem a maldição, no ano 2000, tiveram de perder mais alguns títulos, um deles de forma algo cruel, quando Schumacher partiu a perna direita em 1999, na primeira volta do GP britânico, em Silverstone.

A grande questão que se coloca agora é saber se isto vai acalmar as coisas. Algo me diz que não, pois logo a seguir nisto tudo está Maurizio Arrivabene. E se os maus resultados continuarem, e a temporada terminar sem vitórias, um claro contraste com as três de 2015, todas com Sebastian Vettel, a sua cabeça poderá ser a próxima. Mas se todoas estas cabeças rolarem, acham que os resultados aparecerão sob pressão? A História mostra que isso nem sempre resulta, pode até cavar outra travessia do deserto, tão grande como a que aconteceu durante 21 anos.

Veremos. 

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