sexta-feira, 29 de julho de 2016

A imagem do dia


Vi isto ontem à noite, mas como foi no momento em que decidi fazer um "upgrade" do meu PC para o Windows 10, deixei passar em claro. Repetiu-se hoje e creio que amanhã e domingo irá voltar, mas em menor grau. Também vi isso na corrida anterior, na Hungria, quando o comentador da Sky Sports falou sobre isso. Já vi essas lonas noutros lados, especialmente na China, que tem bancadas para mais de 200 mil pessoas, mas que na realidade, nem metade têm no dia da corrida, e nas sextas-feiras nem chegam a um décimo. E também lembrei-me das bancadas coloridas - e vazias - de outros lados como a Turquia e a Coreia do Sul. Aliás, nesses lugares, pouco depois, os contratos não foram renovados e as corridas retiradas dos calendário.

É um sinal dos tempos, sejamos honestos. Com Bernie Ecclestone e a FOM (Formula One Management) a negociar os contratos por valores proibitivos, aos promotores, sobra pouco para ter lucro, ou então, não acabar com prejuízo. E para tentar ganhar mais algum, carregam sobre o espectador. Bilhetes supercaros afastam as pessoas, que preferem ficar em casa, a ver na televisão. E não os censuro. No domingo, as coisas ficarão um pouco disfarçados, mas às sextas-feiras, onde as coisas são um pouco mais aborrecidas, o vazio é mais perceptível. E a solução que Bernie arranjou foi... colocar publicidade nos toldos que cobrem as bancadas, já que todos olham para elas.

E isto é um sinal dos tempos, ainda por cima, na pátria da Mercedes. E claro, muitos vão dizer que "a Formula 1 não tem mais graça". Felizmente, vejo automobilismo e posso dizer com conhecimento de causa que isso tudo não passa de... treta. Uma semana antes, noutro circuito alemão, em Nurburgring, as bancadas estavam cheias - cerca de cem mil pessoas - para ver uma corrida de... seis horas, transmitida em direto pelos canais desportivos, onde duas marcas - alemãs, é certo - lutaram um contra o outro numa corrida de "sprint". Mas porque é que num é isto e noutro é uma coisa completamente diferente? Não é só a competição. É o preço dos bilhetes, é o tipo de transmissão televisiva.

E as conversas que tenho recentemente com outros amigos, admiradores de automobilismo, dizem tudo: muitos estão a começar a gostar de Endurance, pelo simples facto de podem oferecer a mesma coisa que a Formula 1 traz, mas a um preço bem mais barato. Os bilhetes valem um terço da Formula 1, e não se paga para ver na televisão. Ou seja, está a acontecer aquilo que se avisou há muito tempo: a elitização da Formula 1 está a matar o futuro da sua modalidade, pelo menos em termos de espectadores. Só os teimosos, aqueles que procuram um "streaming" clandestino na Net, é que mantêm viva a chama, porque a maioria já desistiu. E se não há espectadores, os autódromos - e as audiências - desaparecem. E sem multidões, os patrocinadores pensarão duas vezes para saber se vale a pena apostar neste conteúdo.

Contudo, este sinal de alerta não vai chegar aos olhos de ouvidos daqueles que mexem com o dinheiro, porque estão ainda a receber de outros lados. E enquanto o dinheiro entrar, vindos de outras partes do mundo, dos sheiks petrolíferos de sítios onde são ditaduras, ou dos homens fortes, nada será alterado. As bases desmoronam-se e eles não querem saber, pelo menos, enquanto Bernie for vivo e os meninos da CVC Capital Partners continuarem a gozar com a sua parte. E nem falo das equipas... 

Resta saber quando eles se aperceberem o que se passa, não será tarde demais para salvar a Formula 1. A concorrência está a ficar mais forte e estão a ganhar mais adeptos. Talvez a agitação pós-Bernie seja o golpe final para a categoria. Ou então o principio de uma mudança radial que ela necessita, para recuperar os seus espectadores, a alma de qualquer competição.

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