Quando era garoto, queria ser piloto de Formula 1. Mas como não havia pistas de karting ao pé da minha casa e cedo fiquei com óculos - que julgava serem impeditivos de guiar um kart - decidi que havia outras maneiras de ligar-me ao automobilismo. Descobri aos 15 anos que o jornalismo seria uma delas.
E nesse tempo, aqui em Portugal, havia o Rotações. A nossa meca, o nosso porto de abrigo para todos os cabeças de gasolina. Não interessava o dia de semana - chegou a ser à quinta, depois passou a ser à terça, segunda ou sexta - pelas 19 horas, no segundo canal, havia um magazine dedicado ao automobilismo e aos automóveis. E o José Pinto era um deles. E desdobrava-se, pois muitas das vezes, ao lado do Adriano Cerqueira, era a voz da televisão portuguesa nos Grandes Prémios de Formula 1 nos anos 80 e 90. Era esses dois, mais o Domingos Piedade, que dizia umas coisas engraçadas pelo meio, para temperar as transmissões televisivas. E claro, cresci com essa gente.
O José Pinto morreu hoje, aos 70 anos. Lembro-me dele de ter entrevistado o Ayrton Senna algumas vezes. Aliás, ele foi o último jornalista português a entrevistá-lo - podem ver aqui o video - no fim de semana do GP do Pacífico, em Aida, quinze dias antes de morrer em Imola. Aliás, era ele e o Adriano Cerqueira - creio eu - que estavam a fazer as transmissões nesse fatídico dia.
Mas quero voltar ao Rotações. Nunca tivemos, nem voltaremos a ter um programa desses. Era uma coisa pequena, mas bem feita, e ali passaram um bom naipe de jornalistas e apresentadores que marcaram uma geração. Um deles foi o João Carlos Costa, que posso dizer que sou seu admirador. Quando crescemos, nunca pensamos que aqueles que nos captam a atenção também envelhecem, e um dia, morrem fisicamente, desaparecem de cena de vez. Mas de vez em quando, de repente, por algum motivo, nos lembramos e recordamos com nostalgia esses tempos.
Acabo com uma frase do Pedro Nascimento, um gajo da minha idade, que tinha os mesmos sonhos que eu e acabou a ser narrador na Sport TV. "Do passado se vê muito daquilo que querias ser no futuro. Apaga-se a luz, nunca a memória". Ars longa, vita brevis, caro José.
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