sábado, 1 de agosto de 2020

A imagem do dia

O ídolo de Patrick Depailler era Jean Behra, e ambos tiveram a triste coincidência de morrerem no mesmo país e no mesmo dia, mas em locais e circunstâncias diferentes. O primeiro, numa corrida de suporte, o segundo, num teste para o GP da Alemanha.

Ambos eram velozes, mas também algo rebeldes. Ainda por cima, Depailler adorava o ar livre. Era costume fazer motocross e asa delta, e quando ele sofreu um acidente em setembro de 1973, impedindo-o de participar nas corridas americanas desse ano, Ken Tyrrell colocou uma clausula que o impedia de fazer atividades desse género. Quando em 1979, ele estava já na Ligier, disse que se sentia mais liberto, agora que poderia fazer o que quiser nos tempos livres. 

Bem tinha razão o velho madeireiro: em junho de 1979, um acidente de asa delta na sua Clermont-Ferrand natal o fez quebrar ambos os tornozelos e Guy Ligier não hesitou em despedi-lo por ter ariscado o pescoço de modo desnecessário. Mas aos 35 anos, ainda era um piloto valioso e a Alfa Romeo não hesitou em contratá-lo para desenvolver o modelo 179, e era o que estava a fazer naquele fatídico dia em Hockenheim. 

E de uma certa maneira, havia um paralelo com Behra: semanas antes da sua corrida fatídica, tinha sido despedido da Ferrari por ter brigado com Romolo Tavoni, pois criticava a sua postura na pista depois do GP de França. Ele preparava o regresso com um projeto próprio de chassis, com motor Porsche. Depailler queria desenvolver o 179 para ser competitivo, sacrificando a durabilidade, que tinha dado um quinto lugar a Bruno Giacomelli na Argentina, depois de uma corrida de atrito debaixo de calor. 

Dito isto, no final havia uma última coincidência entre eles: queriam provar que ainda tinham algo a dar na Formula 1, depois de um mau bocado. E foi nessa busca do limite que o ultrapassaram fatalmente. Embora no caso de Depailler, nunca se soube bem o que aconteceu. Falou-se de uma pedra que entrou no flanco que impediu o efeito-solo na Ostkurwe de Hockenheim, fazendo com que batesse em frente a mais de 320 km/hora, esvaindo-se em sangue, das suas pernas decepadas pelo impacto e dos graves ferimentos na cabeça. E tudo isto a uma semana do seu 36ª aniversário.  

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