quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Ralis na America e o perigo da mundialização


O WRC quer também expandir-se para fora da Europa. Isso é um facto, porque dos treze ralis que constituem o campeonato de 2021, metade situam-se no Velho Continente, e até apareceram alguns novos no WRC com a pandemia, como as provas da Croácia e da Estónia. E com o regresso da competição a África, com o Safari/Quénia, eles querem ir a outros mercados. E tem três à vista: Rússia, China e Estados Unidos. 

Sobre o caso americano, eles já afirmaram que isso está decidido em 2023, resta saber qual será. O campeonato nacional têm dez provas relativamente populares, o meio, embora pequeno, é bem ativo - nada a ver com a NASCAR ou a IndyCar, mas existe - e agora resta saber qual vai ser a prova escolhida. A ida do WRC à America não será virgem: logo no ano de estreia, em 1973, com o Press-on-Regardless, na zona de Detroit, e que ficou até ao ano seguinte, e depois, entre 1986 e 1988, com o Rally Olympus, no estado do Oregon, no Noroeste. Pelo meio, o Canadá recebeu por duas vezes o WRC. Primeiro, em 1974, houve o Rideau Lakes, no Ontário, e entre 1977 e 79, aconteceu o Criterium du Quebec.

Peter Thul, o WRC Senior Director Sport, disse que depois dos americanos, russos e chineses, vão querer regressar à America do Sul - recorde-se que já estiveram no México, Chile e Argentina, nenhum destes ralis estarão presentes em 2022 - e querem também voltar à Austrália, desconhecendo-se se em conjunto com a Nova Zelândia ou em alternância.

Recordo também que regressámos a África, nomeadamente ao Quénia com o rali Safari que foi um sucesso e, após o cancelamento deste ano, o Japão estará de volta ao calendário no próximo ano [2022]. Estamos também a desenvolver um trabalho conjunto com o Europeu de Ralis de modo a que, se um rali europeu sair do WRC, possa ser integrado no campeonato da Europa e também para que alguns ralis daquele campeonato possam evoluir para poderem vir a integrar o WRC”, disse em declarações à Autosport portuguesa.

Apesar de não se saber bem qual será a prova que acolherá o WRC, boa parte destes ralis americanos são na zona norte-noroeste, e o velho Rally Olympus ainda existe, integrado no campeonato local, o que se pode perspetivar um regresso a um local conhecido, quase 35 anos depois da última vez. Mas o WRC, com esta obsessão em ir a locais onde os outros também estão a ir, desconhecendo-se se terão público para tal, em vez de ir para locais populares, não será que anda a descaracterizar-se? Já vai ao Japão por causa das marcas - na primeira vez que foi, no final dos anos 90, tinha a ver com o Rally Hokkaido e eram raros os espectadores - e se o Safari tinha a ver com a tradição, os outros locais não se entendem muito bem. 

O WRC é essencialmente, europeu. Um lugar onde o WRC nunca foi, a República Checa, tem ralis que são hiper-populares, bem preenchidos em termos de espectadores, e com a pandemia, outros ralis populares como o Ypres, na Bélgica, e o Rally Monza, em Itália, apareceram para "tapar buracos", e são altamente populares. O calendário tem metade dos ralis na Europa, e tem duas alternativas: ou alarga o calendário para 14 ou 16 - já aconteceu, e as marcas não gostaram muito - ou então, corta nos ralis europeus, deixando apenas os mais famosos, como Monte Carlo e Finlândia. E claro, não há vacas sagradas. Mas quando desaparecem de vista estes ralis, sofrem um pouco. 

A ideia de reforçar o ERC, o campeonato europeu de ralis, é uma boa ideia. Tem o apoio da Eurosport em termos de televisão, mas transferir para lá algum rali europeu que não caiba no calendário principal, significa que as equipas de fábrica não aparecem por lá, e pior do que isso, não aparecem os Rally1, em nome da competitividade. 

O dilema está lá. O WRC é um sucesso, mas descaracterizá-lo, em nome de uma maior mundialidade, poderá ser contraproducente.  

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