No final da corrida, Lewis Hamilton falou sobre os manifestantes, afirmando que, apesar de ser a favor daquilo que eles defendem, aquele é o lugar errado, por óbvias razões de segurança. Evidentemente que quase 20 anos depois do louco padre irlandês ter atravessado a mesma pista - na Hangar Straight, causando uma situação de Safety Car - esta foi, novamente, uma quebra de segurança. E a Policia local sabia ao longo deste final de semana que iria haver uma manifestação destas, tanto que tinham deixado um aviso no Twitter.
Sei perfeitamente o que isto significa. Não é nenhum segredo o mundo que vivemos, os grandes problemas resultantes das alterações climáticas, e sei também que o pessoal da Extinction Rebellion, embora pacíficos, são radicais nos seus propósitos. Querem alterações radicais para "ontem", e acham que tudo o que se faz é meramente um "arrastar de pés", e para piorar as coisas, acham que o mundo anda a ouvir os céticos das alterações climáticas, que durante 40 anos tentaram convencer de que tudo isto era um mero exagero.
Só que estas manifestações, em vez de ajudar na causa, arriscam o contrário, porque ali é um lugar perigoso. E eles serão vistos como radicais, para não afirmar pior.
Já vi isto no passado, em outras lutas. Acorrentarem-se a carros, impedir o transito de circular, colarem-se a comboios, etc... isto lembra-me, em muitos aspetos com algo que aconteceu em 1913, numa corrida de cavalos no Reino Unido. Na altura, a luta pelo direito de voto das mulheres estava ao rubro, e já acontecia há mais de 30 anos. As sufragistas - ou o movimento sufragista, as mais radicais faziam parte da organização Women's Social and Political Union - tinham-se radicalizado e algumas viraram-se para uma campanha de greves de fome, desobediência civil e algumas bombas contra políticos. O tema estava nas bocas do mundo no Reino Unido e em junho desse ano, era o The Derby, uma das corridas de cavalos mais importantes.
A 4 de junho, em pleno Derby, Emily Davison, uma das sufragistas, decidiu entrar no meio da pista precisamente quando se aproximava o cavalo do rei George V para o tentar agarrar. A colisão causou ferimentos no jóquei e na morte da sufragista, e o incidente foi visto como um momento na sua luta. De facto, conseguiram o que queriam, cinco anos mais tarde, mas pelo meio houve uma guerra, e todos concordam que foi mais esse evento que ajudou na sua causa que todas estas manifestações.
Digo isto porque, por acaso, vivemos uma guerra, e uma das coisas que andamos a discutir tem a ver com a energia. Com um continente como o europeu a depender grandemente do petróleo e gás russo, temos de nos adaptar a um mundo no qual temos de ir a outras fontes, mais caras. E isto, enquanto não mudarmos para as energias alternativas como a eólica e a solar, que está a ser acelerada. Manifestações servem mais para dar nas vistas, mas são as ações que fazem o mundo andar.
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