Na semana em que se comemora mais um aniversário da morte de Ken Tyrrell, lembro um dos projectos que nasceu como consequência do sucesso do Tyrrell P34, de 1976. Na realidade, estre carro nunca correu oficialmente, mas podemos inclui-lo na categoria de um dos carros mais originais que a Formula 1 jamais conheceu: o March 2-4-0.
No final de 1976, a March decidiu envredar pelo mesmo caminho da equipa do Tio Ken, mas com uma diferença: em vez de um carro com quatro rodas na frente, teria quatro rodas na traseira! Dois eixos, logo, quatro rodas. Essas quatro rodas traseiras teriam o mesmo diâmetro das rodas da frente, de 16 polegadas, pois assim ganharia maior aderência do que um unico pneu traseiro, que na altura tinha uma dimensão maior... A ideia era ganhar maior aderência nas curvas, logo, maior eficácia na potência do carro. O carro é projectado por Robin Herd, que seguiu a sugestão de um dos seus patrões, um tal de... Max Mosley, pois achava que construir um tal carro não só garantia melhores resultados, mas também imensa publicidade...
O carro foi apresentado à imprensa no final de 1976 no circuito de Silverstone, com o neo-zelandês Howden Ganley ao volante. Nas semanas anteriores, criou-se uma enorme expectativa na imprensa sobre o projecto que a March estaria a fazer, graças às "dicas" de Mosley... o carro foi mostrado, e os jornalistas e fotógrafos ficaram impressionados com o tipo de carro, ainda mais revolucionário do que o Tyrrell.
Contudo, o que eles não tinham visto na altura era que o projecto tinha um grande defeito: a caixa de velocidades. Esta teve de ser feita de raíz, e logo, era um mecanismo tão complexo que se partia facilmente, e para piorar as coisas, em Bicester, o dinheiro para projectar tal coisa não era muito abundante. No dia do teste, a ligação da caixa de velocidades ao segundo eixo traseiro quebra, e os mecânicos decidem colocá-lo apenas com um eixo traseiro, para poderem fazer mais voltas sem problemas. Assim foi.
Quando o carro voltou à fábrica, os responsáveis viram que o carro precisava de uma caixa de velocidades mais complexa e mais forte, para poder aguentar os dois eixos traseiros. Sem dinheiro, o entusiasmo pelo projecto foi-se desvanecendo, e mais tarde, ele foi abandonado. Contudo, um March 2-4-0 foi levado para o Brasil, no final de Janeiro de 1977, para que pudesse ser dadas umas voltas em ambiente competitivo. O sul-africano Ian Scheckter (irmão de Jody) foi o piloto que deu umas voltas no carro nos treinos, mas sem sucesso.
Em Fevereiro, Ganley e Scheckter fizeram mais um teste com o March. Sem terem sido resolvidos os problemas com a caixa de velocidades, o carro deu mais algumas voltas. Nessa altura, ambos os pilotos elogiaram o facto do carro correr "sobre carris", e mais uma vez, fez capa de jornais. Mas nessa altura, o destino do March estava traçado, e o projecto foi cancelado.
Em 1979, o carro voltou à ribalta por outros motivos. Roy Lane, um dos melhores pilotos de montanha da Grã-Bretanha (quatro títulos, entre 1975 e 96), adquiriu um chassis March 2-4-0 para o campeonato de Montanha daquele ano. Lane ganhou várias corridas nesse ano, mas os problemas com a transmissão e com a caixa de velocidades fizeram com que no final daquele ano, trocasse aquele carro por outro com quatro rodas e dois eixos.
Contudo, o conceito permaneceu na mente de projectistas durante mais algum tempo, e em meados de 1982, a Williams desenhou o FW08B, com dois eixos traseiros e efeito-solo, onde fez testes em Paul Ricard, batendo o recorde da pista por várias vezes. Contudo, esse protótipo nunca viu a luz da competição, porque no final daquele ano, a FISA definiu que os carros tivessem apenas um eixo dianteiro e um eixo traseiro...
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