Uma morte em competição é sempre de lamentar. Ver alguém a pagar o mais alto preço por fazer algo que gosta é triste, e ainda por cima num evento visto em directo por dezenas de milhares de pessoas no circuito, e milhões nas TV’s de todo o mundo… o impacto é enorme.
Tão enorme quando se vê o tipo de carros envolvidos, onde é que aquilo aconteceu e as circunstâncias do acidente fatal. Foi na última volta da corrida, quase igual ao acidente de Dale Earnhardt, em 2001, mas se no primeiro caso nem notou que o acidente tinha tido consequências fatais, neste caso, o impacto foi brutal. O acidente ocorreu na oval de Puebla, o mesmo que acolhe as provas do WTCC, no início da temporada.
Confesso que nunca gostei a NASCAR. Confesso que detesto aquele circuito, e não digo isto por causa dos eventos de Domingo. Simplesmente porque nunca entendi como é que carros em fibra de vidro ou plástico, reforçado com “roll-bars”, podem andar em ovais modorrentos, onde todos andam juntos e dão toques uns aos outros. Sim, o acidente fatal de Carlos Pardo foi provocado por um toque de Jorge Goeters, o segundo classificado, a meia curva do fim. Ao contrário que muitos pensam, aquele tipo de toque é normal, o chato foi ele ter mudando de trajectória, e tocar na traseira do carro, de forma a desequilibrá-lo e a bater forte no muro de betão.
O acidente em si é uma sucessão de azares: o carro bate naquela quina do muro de betão, que tinha até uma protecção de água, que serve para absorver o impacto. Se tivesse perdido o controle do carro uns dez metros depois, estaria vivo.
Já agora, uma biografia suscinta: Carlos Pardo nasceu em 1975 na Cidade do México e competia na NASCAR mexicana desde 2004, tendo sido campeão nesse primeiro ano. Era um dos pilotos com maior palmarés nessa competição, tendo ganho em onze provas. O seu irmão Ruben Pardo também competia nesta série. Ironicamente, ele foi declarado como vencedor nesta corrida…
Sobre o meu “ódio” a Puebla, quando vejo o circuito a ser corrido pelos carros do WTCC, fico arrepiado pela sua construção. O “miolo” faz lembrar o nosso intestino, e aquele asfalto ondulado meteu-me mais medo do que desprezo, para não falar da aparente estreiteza do circuito e dos muros de betão, especialmente aquele que estava naquela zona da pista. A sensação que tenho é que há certos circuitos citadinos com melhor aspecto do que esse. E então, pergunto a mim mesmo: como é que aquele circuito foi aprovado pela FIA para receber provas de categoria internacional? Mas foi. Eu sei que isto é um evento de “terceira categoria” (era o campeonato mexicano), mas estamos a falar do antigo campeão e sempre um dos favoritos à vitória. E ainda por cima, nesse evento, Pardo tinha a mulher e os filhos a assistiram, bem como o seu irmão, que era concorrente. Não só é brutal, como também é penoso ver um parente a morrer à nossa frente, sem fazer nada para o evitar…
No ano passado, escrevi um post neste blogue com este seguinte trecho: "Vocês, os mais novos, que nunca viram mortes em directo, eu desejo que continuem assim. Mas quando me recordo do impacto que tiveram os acidentes de Alex Zanardi, em 2001, no Lauritzring, e do Robert Kubica, o ano passado (2007), em Montreal, pergunto-me: 'como é que o público em geral reagiria de novo a uma morte na Formula 1?' Lembro-me como foi em 1986 e 1994..." Não foi na Formula 1, mas uma morte em pista é sempre isto: forte, feia e trágica. O Nelson Piquet disse certo dia que vamos ao circuito “para ver o circo pegar fogo”. Talvez seja, mas nenhum de nós vai ver corridas com o propósito de ver mortes em directo…
E agora, Carlos Pardo (que tinha a minha idade, imagine-se) juntou-se ontem à infindável lista daqueles que como certo dia referiu Graham Hill: “Caso o pior aconteça, é porque chamaram-no para pagar o preço da felicidade na vida”. Ars lunga, vita brevis.
5 comentários:
Foi um acidente terrível...será se realmente algumas das categorias stock possuem carros realmente resistentes ao impactos de maior gravidade? Lembro-me do acidente do Sperafico em Interlagos na Stock Car Light. RIP Pardo.
Grande post, Speeder... E o Frederico lembrou bem do Sperafico,... Aqui no brasil mesmo, so nao acontece coisa pior por sorte...
Belíssimo texto, Speeder. Assino embaixo.
Também lembro do Sperafico. E também do Laércio Justino. Como as vidas de super atletas como estes e o Carlos Pardo podem valer tão pouco?
Por quê não investir mais em segurança?
Parabéns Speeder.
Muito triste isso
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