O dia 31 de Outubro de 1999 calhou a um Domingo, logo, aquele fim de semana tinha todo o ar de prolongamento, dado que o dia seguinte iria ser feriado religioso. Se ainda morasse no Brasil, ainda teria dose dupla, dado que o dia 2 de Novembro também é o feriado dos Finados. A temporada de Formula 1 já tinha acabado, com o Mika Hakkinen a gozar um bicampeonato numa temporada onde Michael Schumacher esteve a meio gás, devido ao seu acidente em Silverstone, e tinha visto Jacques Villeneuve a passar por vergonhas na BAR, acabando a época a zeros.
Mas sem Formula 1, tinhamos a CART, que apesar de ter sofrido uma cisão com a IRL, ainda esteava no seu auge. A maioria das provas estava na CART, a maioria das equipas estava lá, desde a Penske até à Chip Ganassi, passando pela Newman-Haas. E boa parte dos principais circuitos estavam lá, incluindo a rápida oval de fontana, na California, que encerrava a temporada daquele ano.
Fora uma temporada dura e combatida entre dois pilotos vindos da Europa: o colombiano Juan Pablo Montoya, que era pilotos de testes da Williams, e que viera para substituir Alex Zanardi, que estava a ter uma temporada a zeros na Formula 1 e o escocês Dario Franchitti, da Team KOOL Green. Os americanos não estavam muito bem (o melhor era Michael Andretti) e o Canadá estava melhor, com Paul Tracy e Alex Tagliani, bem como um jovem promissor chamado Greg Moore, então com 24 anos.
Moore era um jovem talento, mesmo jovem. Tinha ganho a Indy Lights em 1995, com 19 anos, mas já corria em monolugares desde 1991, ou seja, com 16 anos. Nessa altura, era mesmo um talento precoce. Tinha chegado à CART em 1996, no mesmo ano que outro canadiano, Jacques Villeneuve, ia para a Europa no sentido de correr na Formula 1 e honrar a herança paterna, e correr na unica equipa da sua carreira: a Forsythe. O numero que escolheu ficou também na memória, pois escolheu o 99. Em 1996 conseguiu três pódios e foi escolhido como o "Rookie do Ano", e no ano seguinte, venceu a sua primeira corrida, em Milwaukee. Nessa altura tinha 22 anos, e tornou-se no mais jovem piloto de sempre a fazê-lo. Depois ganhou mais quatro provas, a última das quais em Homestead 99, a primeira prova daquele ano.
Em 1999, Moore queria outros horizontes. Sabendo que a Forsythe não podia mais, devido ao motor Mercedes que tinha, quis outros horizontes e assinou um contrato com a Penske. A temporada começara bem para ele, mas no seu final era décimo classificado. Em Fontana, cuirosamente um circuito pertencente ao seu futuro patrão, Moore tivera um acidente de scooter, onde fractura um dedo da mão, e a sua participação esteve em dúvida até ao momento da partida. A equipa chegara a contactar Roberto Moreno, mas após novo exame, os médicos deram-lhe o "OK" para correr. Do último lugar, pois não tirara tempos.
Este tinha sido um ano mau em termos de acidentes. Sete semanas antes, a 11 de Setembro, em Laguna Seca, o uruguaio Gonzalo "Gonchi" Rodriguez tinha sofrido um despiste fatal à entrada da famosa "curva do Saca-Rolhas". Curiosamente, ele corria num Penske, a equipa que Moore iria correr em 2000. Porém, a corrida, que estava centrada na luta entre Montoya e Franchitti, iria ter outro foco de interesse. Indesejado, diga-se.
Na terceira volta, Richie Hearn bateu forte no muro e o Pace Car saiu para a pista. Hearn não sofreu nada de especial e a corrida prosseguiu seis voltas mais tarde, na volta nove. Nem poucos segundos tinham passado quando vejo na TV (a Eurosport transmitia a corrida em directo) um carro azul a bater forte no muro exterior e a pulverizar-se no choque, dando várias cambalhotas. Pela violência do acidente, presumi logo que ele tinha morrido. Meia hora mais tarde, tenho a confirmação dessa precepção quando vejo a amostragem de bandeiras amarelas e as cameras dirigidas para o centro da pista, onde as bandeiras ficaram a meia haste, e o médico chefe da CART a confirmar a morte de Moore.
Soube depois que por causa disso, o HANS (Head and Neck Suport) tornou-se obrigatório na CART, primeiro nas ovais, depois no resto dos circuitos. Foi esta morte que deu a Helio Castoneves a oportunidade de correr na Penske, onde se encontra agora mesmo, tendo conseguido grande parte dos seus feitos automobilisticos na América, incluindo as suas vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis. Quanto a mim, ver uma morte em directo estregou-me aquela Noite das Bruxas, mas demonstrou-me que o automobilismo, por muito que façamos, continua a ser um desporto perigoso. E hoje, meus caros amigos, façam como eu: ergam um copo à saúde do Greg Moore, que só precisou de 24 anos para ter uma vida cheia.
7 comentários:
Belo texto, principalmente o final.
Abraços
Belo texto, Speeder. Moore era tão incrivelmente rápido quanto atrapalhado e, talvez pela precocidade, vivia causando acidentes e toques.
Mas era, sem sombra de dúvida, um futuro campeão da Indy. Por azar, resolvi gravar esta corrida decisiva da temporada de 1999, em torcida, claro, ao sul-americano Montoya. Jamais havia gravado uma corrida da categoria na minha vida. Gravei apenas esta, na íntegra. E nunca mais voltei a gravar outra. O registro está aqui até hoje.
Bravo, Greg Moore!!!
Ele era um fenomeno , pena que fonomenos muitas vezes tem curto prazo :(
Podem me chamar de doido, mas ele é comparavel ao Rick Mears (o rei dos ovais) e o Dale Earndhardt (the intimidator) que corria na NASCAR que morreu na Daytona 500 de 2001
nunca seguí a CART cars, mais a história mostra uma coisa interesante: são necesários dias de luto pra procurar segurança no automovilismo.
e demostra também que, se a coisa está de mau jeito não deve de subir nem no kart pra dar uma volta. era o dia da morte de Moore, estava escrito.
Moore era um piloto rápido, mas também era exageradamente afoito, tanto é que, se não me falha a memória, foi ele quem causou o gravíssimo acidente do Emerson Fittipaldi na segunda corrida de Michigan
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