quinta-feira, 20 de maio de 2010

Grand Prix (catorze. La Maison Blanche, part deux)

(continuação do capitulo anterior)

As noticias sobre o regresso de Pete Aaron à competição agitaram o mundo automobilistico. Mas quando os jornalistas lhe perguntaram as razões deste regresso, afirmou que foi apenas para ajudar os seus amigos, e que no momento em que cruzasse a meta nessa corrida, iria voltar à condição de retirado, concentrado apenas no seu projecto da Apollo de Formula 1, com o seu próprio chassis e com John O'Hara como piloto.

Agora, com este regresso, bem como a presença de Michael Delaney nos bastidores, para filmar o seu projecto automobilistico e mostrar a Hollywood e ao mundo, mais gente e mais jornalistas estavam em Le Mans para verem tudo isto em acção. Para além das presenças da Ferrari, Porsche e Ford, uma multidão de privados de outras marcas, outras categorias polvilhavam a grelha da mitica corrida francesa, que aconjtecia regularmente desde 1923. Havia pequenos Porsches 911, Alpines e Gordinis de fábrica, Mirages e Lolas... todo o tipo de marcas presentes. E nas tribunas, mais de 300 mil pessoas estavam presentes para assistir à corrida.

Toda a nata da Formula 1 também estava lá, bem como alguns pilotos da USAC, como Teddy Solana, que com o seu compatriota Antonio Molina, estavam inscritos na NART, o braço americano da Scuderia, liderado pelo seu amigo de longa data, e vencedor por duas vezes das 24 Horas de Le Mans, Arturo Barnetta, que se naturalizara americano depois da II Guerra Mundial e era o importador da Ferrari nos Estados Unidos.

A produtora de Michael tinha inscrito um "camera car" para ser dirigido por dois pilotos de Endurance: os holandeses Carsten Van Maalwijk e Jan Huntelaar. Pintado de laranja, com duas riscas negras, estes pilotos tinham uma condução segura e relativamente burocrática, o ideal para que o carro chegasse ao fim da corrida, e esperava que assim acontecesse.

A Porsche alinhava com dois carros oficiais e tinha mais dois entregues a privados. Um deles estava nas mãos de Peter Holmgren, um milionário sueco e corredor amador. Era dono da maior editora da Escandidávia, que tinha herdado dos seus pais, publicando livros e jornais de grande tiragem na Suécia, Dinamarca e Finlândia. Já contava com 40 anos, mas era um entusiasta do automobilismo. Holmgren ia conduzir o modelo 917 e tinha a seu lado o jovem prodigio da Formula 2, o finlandês Antti Kalhola. Apesar de nunca ter investido um cêntimo na carreira dele, tinha visto o jovem prodigio, graças aos seus feitos na Formula 3 e Formula 2, ao volante do seu Jordan datado. Tinha convidado a ele para correr nesta corrida de Endurance, para ver como se comportaria neste tipo de corrida.

Mas muitos viam isso como um barril de polvora. A combinação de um jovem demasiado rápido, com um amador mais velho, numa máquina pouco experimentada, e ainda por cima num carro que ainda não tinha resolvido os seus problemas de tracção traseira, podia trazer um perigo mortal. Holmgren iria conduzir o carro nas primeiras duas horas, até entregar o comando a Kalhola. Curiosamente, o seu rival Monforte não estava participar na corrida, perferindo concentrar-se exclusivamente na Formula 2 e no campeonato que queria ganhar, apesar da opostição dele e de Carpentier.

Na equipa, ficou decidido que Aaron seria o primeiro a partir, depois de vierem que nos treinos, ainda não tinha perdido a sua forma. Nas duas horas seguintes, iria entfrentar o trânsito dos outros e os perigos de pilotos demasiado rápidos, que tinham a mente na pista, esquecendo-se da segurança. Muitos deles só apertavam o cinto quando estavam a mais de 300 km por hora nas Hunaudriéres...

Aaron sabia daquilo e achava tudo demasiado perigoso. Achava que todos esses gestos eram inuteis e achou melhor tomar uma posição quanto a isso. Falou com Mike e disse o que tinha em mente:

- Vou ser o último a partir.
- Como assim? exclamou um assustado Mike.
- Mike, isto é uma corrida de Endurance, e não de Sprint. Não é Formula 1 e acho que este procedimento é perigoso.
- Acho que estás a dizer isso para me assustar.
- Não, não estou. E não só digo-te isso, como vou fazê-lo.
- Pete! Não desperdices as nossas chances, afirmava Mike, entre o implorado e o zangado.
- Mike, vocês me imploraram para voltar à competição, mesmo não querendo. Voltei com a palavra atrás em relação ao que tinha dito uns meses antes, em nome da nossa amizade. Agora, vão ter de se submeter às minhas condições, reclamou Pete.

Após isso, sorriu para Mike e disse de forma tranquilizadora:

- Não te preocupes. Em compensação, ganharei a prova por ti, por mim e por todos nós. Tens a minha palavra.

Mike deu um suspiro e aceitou. Ficou um pouco com medo do gesto do seu amigo, mas achou não mais reclamar, pois foi ele um dos que o incomodou para que ele voltasse a correr por mais uma vez, feito zangar Pamela, a sua mulher, e a reclamar disso a Mike Weir. Agora ia ver que tipo de gesto ia fazer perante 300 mil pessoas em Le Mans e os muitos milhões que assistiam na Europa e no Mundo.

O dia já ia alto, mostrando inexoravelmente que estava na altura da corrida começar. Os pilotos iam para o outro canto da pista, preparando-se para correrem em direcção aos seus carros. Pete, com o seu capacete integral branco com as duas linhas azuis e vermelhas, esperava pacientemente pela sua hora. Cruzava os braços, um sinal de que não se importava de esperar para que todos passassem antes de poder ir para o seu carro. À sua volta, os outros pilotos esticavam-se, preparando-se para aqueles que iriam ser os metros das suas vidas, pois poderia ser a diferença entre a vitória e a derrota. Dentro do capacete, Pete somente sorria.

Com os minutos a chegarem à hora H, a tensão aumentava, na pista, nas boxes, nas bancadas. Todos queriam ver como é que isto iria começar e quem seria o primeiro a largar naquela confusão inicial. Na grelha de partida, o melhor tempo pertencia ao Porsche oficial tripulado pelo alemão Dieter Muller e pelo austriaco Manfred Linzmayer, dois veteranos pilotos de Endurance, com participações periódicas na Formula 1. Logo a seguir vinha o Ferrari oficial de Peter Reinhardt e do belga Patrick Van Diemen. O Porsche de Aaron/O'Hara era quinto, à frente do outro Porsche da dupla Holmgren/Kalhola. Beaufort e Carpentier eram nonos, atrás do Ferrari "mexicano" da dupla Molina/Solana.

O director de corrida já tinha na mão a bandeira francesa, bordada para o efeito com o anuncio das 24 Horas de Le Mans de 1969. Desenrolou-a lentamente, ergeu-a no ar enquanto que olhava para o seu relógio de pulso, exactamente sincronizado com o mostrador que toda a gente via nas boxes e nas bancadas em frente. Com os esgundos a escorrer, todos tinham os olhos postos naquela bandeira: pilotos, mecânicos, jornalistas, máquinas fotográficas, câmaras de TV e público em geral. Todos sustinham a respiração à medida que os segundos finais se esvaiam.

E quando ele a agitou para baixo... um bruááá enorme se ouviu na bancada. Todos corriam velozes para os seus carros, ligando institivamente os seus motores e partirem em direcção à primeira curva. Alguns nem sequer fechavam as portas dos seus carros, perferindo-o fazer em andamento. Num instante, todos os carros foram embora. Todos, menos um.

Calamente, Pete Aaron atravessava a pista rumo ao seu Porsche. Em passo normal, chegou-se ao pé da porta, abriu-a, entrou lá dentro, colocou o seu cinto de segurança, meteu o carro a funcionar e partiu rumo à Curva Dunlop. Tinha 23 horas de 58 minutos para apanhar toda a gente, numa corrida em que era necessária paciência, destreza... e sorte.

(continua)

Sem comentários: